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Cimento contra os picos metálicos de Londres

Tudo pelos clientes.
Simon Childs
London, GB

A guerra contra os picos de metal instalados em algumas zonas de Londres já atingiu novos limites, passando dos protestos para  grupos de protesto que combatem a atitude. O Left Unity [partido de esquerda criado em 2013] já tinha organizado uma manifestação sob o lema “Homes Not Spikes” (casas sim, picos não). Mas, logo de manhã, vários activistas vestidos como construtores civis, verteram cimento sobre os ditos picos e prometeram voltar a fazê-lo. Enquanto andava por West End, percebi que este assunto tinha criado impacto porque havia realmente uma quantidade enormíssima de pessoas sem-abrigo que procurava resguardo nas zonas comerciais. Quantas mais lojas instalassem estes picos menos pessoas poderiam ali dormir, naturalmente. Nos últimos anos, o número de sem-abrigos cresceu na Inglaterra e os programas de acolhimento e ajuda a estas pessoas são escassos e as listas de espera para uma habitação social são enormes. Há quem ache que estes picos fazem sentido, porque evitam que os sem-abrigo sofram os problemas de viver na rua (mau tempo, assaltos, etc). O problema é que essas pessoas não escolhem dormir na rua. Regra geral, não têm outra escolha.  Já estava há um bocado à espera em frente à loja quando os activistas chegaram com roupa de alta visibilidade. Levavam baldes cheios de cimento, como percebi pouco depois. Deitaram o conteúdos sobre a estrutura dos picos. Depois disso os trolhas improvisados tentaram espalhar o cimento com tábuas de madeira, sem muito jeito, diga-se. Aproximei-me enquanto trabalhavam e perguntei a um deles o que estava a fazer exactamente. Explicaram-me que queriam tapar os picos com cimento para voltar a deixar a superfície lisa. “Puseram estes picos para as pessoas que procuram um espaço minimamente cómodo e seco para descansar", disse um deles. "São sítios onde os pobres costumam dormir. "As pessoas que não têm casa são muito vulneráveis e vítima da austeridade", acrescentou outro activista. “Fizeram cortes no financiamento de casas que abrigavam estas pessoas. Há crise dentro da crise. Há cada vez mais pessoas na rua e cada vez mais pessoas recorrerem ao banco alimentar. Agora estes shoppings instalam estes picos. É uma forma degradante de tratar o ser humano.” Depois da nossa conversa, prepararam-se para um segundo assalto. Deitaram cimento em pó directamenta no balde e misturaram-no com água. O resultado foi uma pasta nojenta que escorria até ao passeio. Disse-lhe que o que estavam a fazer podia ser considerado vandalismo. “Para serte sincero, não queremos saber. Se aparecerem mais picos assim, faremos o mesmo”, garantiu-me. Foram-se embora, sem mais, com os baldes às costas. O novo aspecto da entrada das lojas. O Tesco já veio que os picos instalados servem só para que os clientes não se sentem à porta a fumar e a beber. Mas, a partir de agora, será este aspecto a espantar a clientela. Fotografia por Tom Johnson