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Drogas

Senado Federal remove post anti-cannabis das redes

Conversamos com um pesquisador sobre o post anti-maconha. A assessoria de imprensa do Senado Federal removeu o post após o nosso contato.
Imagem: reprodução Senado Federal. 

Como parte de sua campanha da Semana Nacional Antidrogas, estabelecida pelo Decreto 28 de 1999, o Senado Federal tem veiculado mensagens alarmantes nas redes sociais. Uma delas, sobre o álcool, afirma como possível efeito imediato a própria morte. Entre os males do uso continuado do cigarro, elencam a gangrena de membros. Já no que diz respeito à maconha, segundo propaganda veiculada neste domingo (24), a morte também consta tanto como possível efeito imediato e continuado. Inúmeras pesquisas comprovam que algumas pessoas podem ter predisposição ao desencadeamento de doenças como psicose e esquizofrenia logo no primeiro trago. Mas o conhecimento empírico de qualquer cidadão comum revela que não é bem o que acontece com a imensa maioria das pessoas.

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“É importante educar as pessoas em relação às drogas”, analisa Fabrício de Araújo Moreira, professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. “A questão é como fazer. A minha impressão geral dessa propaganda é que é muito ingênua e inócua, uma abordagem que parece querer tapar o sol com a peneira.” Ele é um estudioso em farmacologia da cannabis, canabinoides, endocanabinoides e endovaniloides e de antipsicóticos. Em conversa com a VICE por telefone, afirma que alguns dos efeitos elencados pela campanha são realmente possíveis, mas critica o modo fatalista como o assunto vem sendo abordado.


Assista ao nosso documentário "A Legalização da Cannabis no Brasil"


“A maconha, como qualquer droga, pode fazer mal, sim. Como o álcool, a nicotina, a cocaína e vários medicamentos. O uso continuado, crônico, da maconha, pode aumentar a probabilidade de desenvolvimento de esquizofrenia, mas não é que todo mundo que fuma vai ter esquizofrenia”, exemplifica. “O maior problema das drogas é quando ela sequestra a sua vida.” E conclui: “Quem fuma maconha vê a propaganda, acha uma bobagem, e nem dá bola. Ela não vai tocar de fato quem usa droga. Com a linguagem usada, acaba caindo no ridículo”.

E cai mesmo, abrindo até precedentes para piadas de cunho político-social. Um usuário do Facebook pegou a deixa e comentou: “Dos quase 70 mil homicídios por ano, uma parcela grande tá ligado a ela”. Outro vai direto em cima dos políticos e lista aquilo que pensa serem “os males causados pelo Senado Federal: - Salários astronômicos, ineficiência, desvio de verbas, aliança com o tráfico de drogas, senador com nariz nervoso, alucinações, morte; Efeitos do uso continuado: - Corrupção epidêmica, murchamento das tetas do Estado”.

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Post que gerou a polêmica nas redes.

Procurada pela VICE para comentar a articulação da publicidade, a assessoria de imprensa do Senado Federal informou que não emite comentários via telefone e, em nota respondida via e-mail, disse que, diante da polêmica, optou por remover o post sobre a maconha:

"Diante da grande repercussão e polêmica geradas pelo post enfocando a maconha, a Secretaria de Comunicação Social do Senado, responsável pelo Facebook e pelo Twitter da instituição, optou pela sua retirada das redes sociais, mantendo as demais publicações sobre o tema.

As mídias sociais do Senado Federal participam, frequentemente, de campanhas de utilidade pública. Entre os dias 19 e 26 de junho, está sendo publicada uma série de posts dentro da Semana Nacional Antidrogas. A título de referência, buscou-se apoio em material preparado pela Academia Nacional da Polícia Federal, disponível na página de perguntas e respostas sobre drogas daquele órgão, sendo a PF, portanto, a fonte dos dados apresentados nos posts (link abaixo).

Clique para ler.

Atenciosamente,

Assessoria de Imprensa

Senado Federal".

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