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Música

​Canções que salvam vidas: The Loafing Heroes

Uma banda carregada de referências literárias, multi-cultural e viajada, com canções prontinhas a safar-te o dia, a semana, a vida.

Está a chover que se desunha. Está um calor infernal. É sexta-feira e estás em pulgas para a rambóia logo à noite e para fritares a molécula. Por outro lado, é sexta-feira, estás em pulgas para a rambóia logo à noite e para fritares a molécula, mas não tens guito. Não te apetece ir trabalhar. Não te apetece estudar. Vais é dar uma volta pela cidade. Espera, está a chover. Pronto, vais ver o mar, que está um calor diabólico. Alto, que isto está cheio de turistas e não dá para ir a lado nenhum. Nunca mais chega a Primavera! Primavera é que não, que é só alergias.

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Um gajo nunca está contente. Se não é do cu é das calças. O que vale é que, como toda a gente sabe, há canções que salvam vidas (os Smiths cravaram-no a letras de ouro no cancioneiro pop para toda a eternidade). Semanalmente, e para que a tua vida ganhe um novo sentido e encontres a salvação possível, deixamos por aqui um desses bocadinhos de lírica e melodia (ou ruído e grunhidos selvagens, conforme a disposição) que têm a capacidade de, em pouco mais de três minutos, te salvarem. Se não a vida, pelo menos o dia.

Esta é uma banda cheia de referências literárias, em que o artista enquanto jovem, Bartholomew Ryan, sai de Dublin para estudar filosofia na Dinamarca e começa a escrever canções. Com um comparsa norte-americano e sob o amparo de Milan Kundera no que toca ao nome - The Loafing Heroes, retirado de um romance do escritor checo - surgiram as primeiras músicas.

Nesta insustentável leveza que por vezes é viajar, o amigo americano primeiro parte para Buenos Aires, na Argentina, e depois Ryan toma o rumo de Berlim. Da capital alemã, num segundo capítulo, saíram três discos, Unterwegs, Chula e Planets, sendo que o tomo seguinte veio dar a Portugal, também por culpa de Fernando Pessoa, sobre o qual Ryan veio escrever e filosofar. Tentar a salvação, portanto.

Antes do moderado bom Inverno lisboeta, em Setembro de 2011, Ryan tropeça em João Tordo, também ele escritor, mas também ele executante de contrabaixo. Trocam impressões e aparece Crossing the Threshold, quarto disco da banda e primeiro made in Portugal. Depois, juntamente com a italiana Giulia Gallina, Judith Retzlik, da Alemanha, e a norte-americana Jaime McGill, fazem e tocam o segundo disco gravado cá, The Baron In The Trees, editado em Maio de 2016.

Sim, o nome do disco vem também de um romance, neste caso de Italo Calvino - em Portugal editado como, O Barão Trepador. Se o livro fala de um jovem nobre italiano que se revolta contra a autoridade do pai e trepa para cima de uma árvore, para nunca mais de lá sair, já esta banda espelha todo um mundo a partir de um lugar, uma dimensão global que é também semelhante à local. Em comum têm o fascínio de olhar para a sociedade sem amarras, paisagens, viagens on the road em modo Kerouac, seja em Dublin, Berlim, numa cidade invisível, numa misteriosa estrada de Sintra, ou a partir do alto de um chaparro alentejano. Se os livros podem salvar vidas, as canções dos The Loafing Heroes também não fazem a coisa por menos.