Jesus te ama, Nelson Ned

Nelson Ned, o pequeníssimo grande cantor brasileiro de um metro e 12 centímetros deixou-nos este domingo de manhã. Por causa do fuso horário, para nós, Nelson Ned foi-se num domingo à tarde, tem que ser, como o título da sua maior canção, “Domingo à Tarde”, esse tema enorme.

Ned era como uma espécie de

Querida Encolhi o Roberto Carlos

 — assim à primeira pela voz até parece — onde o maior dos anões sofre a maior das tristezas, a maior das solidões, a maior das paixões. Este homem em corpo de miúdo sofria como gente grande, sendo o seu legado uma enorme colecção de épicos baladeiros sentimentais que atravessaram fronteiras em vinis e cassetes piratas, tornando a América do Sul um continente pequeno para este poliglota, que cantando tão bem em português como em espanhol ou inglês. Era mestre na arte de fazer chorar o camionista e a mulher do camionista e a amante do camionista e o amante da mulher do camionista.

Foi sensação no México. Teve o seu momento na Europa e nos States. Chegou a actuar no Carnegie Hall, no Madison Square Garden. Nelson era mais pequeno que Sammy Davis Jr., porque era anão mesmo ao contrário do Sammy que só parecia, mas ouvindo-o bem, fica aquela sensação que bem podia e deveria ter sido ele o mais pequeno do Rat Pack, fosse Las Vegas de Sinatra e companhia mais perto de Brasília ou de Minas Gerais onde nasceu.

A sua vida de grandes desilusões amorosas, apesar de dois casamentos e três filhos igualmente anões, levou-o ao cliché habitual dos grandes cantores românticos: converter-se ao cristianismo evangélico e cantar Jesus em português e espanhol em títulos típicos de autocolante “na retaguarda do fusca” género “Jesus Te Ama”,

“Jesus É Vida”, “Sí Las Flores Pudieran Hablar”.

O mesmo Jesus deve estar agora a ouvir todo o seu repertório com uma atuação ao vivo lá algures, sim ao vivo, porque Nelson Ned, está vivo, é IMORTAL. Num ranking histórico de anões onde os acólitos da Branca de Neve são os 3.º, 4.º, 5.º, 6.º, 7.º, 8.º, 9.º classificados, o 2º classificado, Hervé Villechaize da Ilha da Fantasia, também já no céu algures, deve andar a anunciar aos anjos como fazia com o seu famoso “Za plain”, agora numa versão mais alta em volume e comprida em extensão: “Za Nelson Ned, za Nelson Ned!”