Não há barreira que Altobeli não pule

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Não há barreira que Altobeli não pule

Quem o conhece, sabe: ele não vai sossegar enquanto não estiver entre os melhores dos 3000 metros com obstáculos.

Não há melhor definição para Altobeli Santos da Silva do que a frase: "um cara que está correndo atrás". Aos 25 anos, o atleta de Catanduva, no interior paulista, está classificado para a prova de 3000 metros com obstáculos na Rio 2016 e, para muitos que acompanham sua trajetória, é um dos atletas que deve surpreender na linha de frente da prova. O motivo: talvez não haja na competição alguém que tenha corrido tanto por fora como ele.

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Antes das corridas, Altobeli encarava a vida entregando panfletos de porta em porta. A primeira prova que disputou, uma corrida de 10 quilômetros, tinha um meta bem clara: vencer para faturar uma moto e não ter mais que fazer entregas a pé. "Vi um outdoor fazendo propaganda de uma moto zero quilômetro que seria o prêmio numa prova de 10 quilômetros", conta. "Pô, eu andava o dia inteiro no sol quente e tentei fazer a inscrição pra tentar ganhar essa moto e parar de ficar andando."

O atleta fez a inscrição, participou, mas a moto ficou distante. Altobeli ficou na tímida 33ª posição. Foi pra casa e quase desistiu. Pensou que esse negócio de correr não era pra ele. Porém o seu tempo de 34 minutos e 39 segundos chamou a atenção de outros atletas e treinadores. Ainda que o prêmio não tenha sido dos melhores — uma caixa de leite e 100 reais —, foi o primeiro passo para uma carreira sólida e, mesmo no aperto, bem sucedida. "Eu não sabia que tinha premiação pros atletas da cidade", conta. "Fui o quinto melhor colocado dos atletas da cidade, ganhei de gente que treinava há oito anos, há dez anos. Ganhei sem nunca ter treinado."

Com o bom retrospecto, Altobeli ganhou também um primeiro tutor. "Foi aí que um professor que trabalhava na Prefeitura, dava aula de atletismo, foi atrás de mim e viu que eu tinha potencial", diz. "Ele falou: 'Você tem que começar a treinar, tem que pegar firme, porque você é uma pedra que tem que ser lapidada. Você é um diamante perdido que tem potencial pra disputar jogos olímpicos, ganhar São Silvestre."

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Uma semana depois, no final de 2008, Altobeli estava pronto para virar uma joia das pistas. Ele não corria por diversão. Queria estar entre os melhores, não importasse o tamanho da barreira que lhe impusessem. "Tive que andar com as minhas próprias pernas, tive que ir na raça", diz. A trajetória até as Olimpíadas não foi nada fácil. Ele ouviu "nãos", viu portas fechando em sua cara, mas não desistiu e hoje está a caminho de sua primeira Olimpíada depois de muitos e muitos metros de distância.

Ele alcançou o índice dos 3000 metros com obstáculos na quinta etapa do Campeonato Paulista, em São Bernardo do Campo, com a marca de 8min28s56, menos de dois segundos abaixo do tempo oficial, que é de cravados 8min30s. O fundista – nome dado aos especialistas em provas de longa distância – ainda ostenta as melhores marcas nacionais nos 5000 m rasos com 13min51s85. "É uma prova com muita técnica, força, velocidade e resistência", diz. "É uma das mais duras que tem no atletismo e precisa de muito foco e determinação, além de coragem pra encarar os treinos porque eles doem pra caraca."

A rotina de treinos é, como se imagina, extremamente cabulosa. São mais ou menos quatro horas diárias, de domingo a domingo. Num cálculo rápido, Altobeli corre, bem de boa, 120 quilômetros por semana. Tudo isso para conseguir a precisão necessária para correr 3000 metros e pular as barreiras com o máximo de explosão muscular. "A primeira vez que fiz essa prova foi em 2010", ele conta. "Corri porque perdi a prova do 5000 e só tinha com obstáculos. A mulher falou que só tinha essa e pedi pra me botar. Eu nunca tinha corrido pra prova e fiquei em segundo. Foi lá em Piracicaba."

Dali em diante, Altobeli Silva começou a treinar para os 3000 metros com obstáculos. Em 2011 foi o quarto colocado no Brasileiro, foi para o GP Internacional e começou a se destacar, mas parou de correr na modalidade em busca do sonho de disputar os 5000 ou 10000 metros. A mudança durou pouco tempo, porém. "Voltei a fazer agora em 2016 porque foi a única prova que vi que tinha possibilidades de conseguir o índice", conta. "Aqui no Brasil eles colocam uma prova de 5000 metros dez horas da manhã e uma prova de 3000 metros com obstáculos três horas da tarde, quatro horas da tarde, o desgaste físico é muito grande." Ele então preferiu a prova mais curta.

Apesar de todos os percalços, Altobeli cresceu, evoluiu e tudo isso graças ao esporte – que há cinco anos é a base de seu sustento. Ele reconhece que a realidade mudou. Hoje é um exemplo para os mais novos e espera superar mais alguns obstáculos para chegar entre os melhores da Rio 2016. Sobre conquistar uma medalha, porém, é lacônico. "Questão medalha não falo com ninguém", diz, sério. Talvez seja melhor mesmo. Enquanto ele se concentra, ficamos na torcida para que deixe mais algumas barreiras pra trás e seja reconhecido por todos, inclusive os que fecharam a porta em sua cara, como um dos principais nomes do atletismo mundial.