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Música

O Rolê do Zé

Já que ele faz mó som, acabou de soltar uma música nova e esse nosso amigo em comum é famoso por sua... imaginação fértil, coloquemos assim, resolvi entrevistar o Zé e aproveitei pra esclarecer umas dúvidas pessoais.

Fiz essa entrevista por e-mail com o Zé Rolê. Ele mora no sul de Minas e fez um disco no computador que é muito legal. Sério, é muito bom mesmo - tem uma resenha na edição 3 da Vice, eu mesmo só consigo dizer que é um disco de música eletrônica. Não sei qual é o estilo, e o lance na revista também não diz qual é, mas explica de um jeito bem legal. O próprio Zé diz que "música eletrônica não é só coisa de garotos metrossexuais de belos músculos bebendo energéticos". Você também pode ter sua própria opinião ouvindo aqui.

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Essa semana ele lançou na internet uma música nova chamada "Lagoa Azul" – a bela montagem fotográfica abaixo foi, segundo ele, "o presente de um fã enlouquecido". Percebemos. O nome artístico dele é Psilosamples e o nome do disco é As Aventuras de Zé no Planeta Roça. Eu tenho um amigo em comum com o Zé. Uma vez fomos num show de rap juntos. Ele sempre me pareceu um cara muito legal. Já que ele faz mó som, acabou de soltar uma música nova e esse nosso amigo em comum é famoso por sua… imaginação fértil, coloquemos assim, resolvi entrevistar o Zé e aproveitei pra esclarecer umas dúvidas pessoais.

Vice: É verdade que você começou como MC de freestyle? Ou eu tô te perguntando isso porque isso foi mais uma daquelas mentiras que nosso amigo em comum adora berrar na mesa de bar? Aliás, faz tempo que ele não lança essa, acho que era do repertório antigo.

Zé Rolê: Bem, na verdade eu comecei a fazer música desde os 3 anos, prova disso são meus inúmeros troféus empoeirados de vários e vários festivais de canção ganhos no sul de Minas – Machado, Varginha, Alfenas, Poços de Caldas, ganhei vários quando criancinha. Mas foi a partir de 99 que eu comecei a fazer umas rimas, depois de desencanar de banda de punk rock. Rimava eu e mais um cara, o Anderson conhecido como "Gringo", a gente tinha um grupo chamado Dupla Expressão era febre de rap total, a goma do cara era um verdadeiro reduto bate-cabeça, skatistas, pixadores e afins, a gente pirava em Wu-Tang Clan, Gravedigazz, Shyheim, Redman, Q-Tip, Mobb Deep. Eram várias fitas k7 do The Roots, Pharcyde, De La Soul, Hi-Tek, Talib Kweli, Mos Def, Afu-ra, Royce 6`9, Gangstarr. E rap nacional era mato, a gente pirava em RZO, o D.R.R todo, Sistema Negro, R.P.W, Xis, Racionais, SNJ, Piveti e Branco, era muita coisa, uns 15 manos e a crew se chamava Fumilha (FMA), com cada um querendo apresentar um rap mais foda que o outro.

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E foi nessas que eu comecei a fazer freestyles, e resolvi seguir rimando sozinho, daí em diante minha tag era "Zé Rolê". Minha função era rimar e fornecer beats para vários irmãos da cidade. Já no futuro, com a chegada da internet, a gente começou a conhecer o "confuso, intrigante e gratuito" hip-hop alternativo, eram várias bizarrices, várias letras estranhas, gravações mal feitas de todo o Brasil bombando o Soulseek, vários moleques arrumando tretas, um falando um mau do outro, e foi nesse caos digital cabuloso que eu comecei a descobrir os grupos e MCs que eu escuto até hoje: Kamau, Slim Rimografia, Parteum, Inumanos, Elo da Corrente, Xará e Shawlim, Projeto Manada. Eu pegava ônibus de Pouso Alegre pra descer em São Paulo e colar na Galeria Olido de quinta-feira, até já fiz uns frestyles lá. Eu pirava total em Quinto Andar, todos os caras do hip-hop Rio, era isso que eu escutava o dia todo. Eu adorava freestyles, se perguntar do "Zé Rolê" em alguma pista de skate ou concentração de manos lá no sul de Minas,você vai saber que eu já fiz uma certa função por lá. Mas isso é passado.

Eu sou um cara muito feliz por ter escutado tanto rap nacional bom, que ao meu ver, missão cumprida, vários manifestos que me dão o direito de ficar calado e só escutar, e nunca mais rimar. Pois meu manifesto hoje, é outro. Eu saí do rap mas o rap não consegue sair de mim.

Com o passar do tempo eu só me interessava em saber o que tinha por trás dos grandes MCs e cantores, quem eram os produtores, quem eram os programadores, técnicos, e nesse processo todo entre a minha puberdade e ao meu alistamento no exército, eu sempre tava pesquisando sobre softwares, produzindo uns beats toscos, ouvindo muito som. E me envolvendo cada vez mais com programadores, mergulhando de cara no universo GEEK, naquela pira de construir um controlador midi caseiro (nunca consegui), tentar aprender truques nos computadores MSX, commodore 64, quando vê irmão, eu já tava adorando produzir música eletrônica. Descobri que música eletrônica não era só coisa de garotos metrossexuais de belos músculos bebendo energéticos. E aí foram acontecendo coisas incríveis! Daí em diante os experimentos nunca mais pararam de acontecer. E espero que a evolução também possa continuar, pois ainda tenho muito a aprender com o mundo moderno da tecnologia atual.

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Tem muita gente falando que Zé Rolê (que o nosso amigo em comum falou umas dez vezes no bar recentemente era seu nome de MC de freestyle, mas se é verdade você já deve ter respondido isso na primeira pergunta) é um nome muito mais legal que Psilosamples. Você acha que as outras pessoas deviam opinar a respeito do seu nome artístico? Ou só esse cara que a gente conhece? Ou nem ele?
Sim, a partir do momento que eu estou publicando experimentos e trabalhos é inevitável que as pessoas dêem a suas opiniões. Todo mundo tem esse direito, eu prefiro não me meter na criatividade das pessoas, meu lance é música, conceitos e critica é de quem quiser fazer. Isso não vai mudar nada aqui.

Nosso amigo em comum me disse que você já tocou em várias raves de trance. Não sei se é verdade. Não dá pra saber. Eu fui numa pela primeira vez meses atrás e foi horrível, cara. Você já foi em alguma?
Cara, eu já fui em raves, assim como já colecionei MP3 do Bob Marley, mas confesso que psy trance nunca foi minha onda, particularmente eu não gosto. Mas sempre que me aparece uma proposta de me apresentar em chill-outs e pistas alternativas eu vou empolgado. As pessoas se divertem. Eu não tenho certeza de quais festas são boas e quais são ruins, rolam muitos eventos extremamente fechados ou muito distantes de grandes centros, por todo país. Por exemplo, eu só fui saber que o DJ Krush, o Ken Ishii, Q-Bert, entre outros que eu curto, tocaram na Ecosystem em Manaus, 5 anos depois.

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Uma coisa é uma festa em um sítio beirando uma capital, com DJs tocando psy trance e fullon na cdj por 25 horas sem alternar. Outra coisa é um festival bem organizado, vários ambientes com um line up bem feito, em alguma ilha, praia, parques Brasil a fora, Fernando de Noronha, Natal, Bahia, Amazonas, Santa Catarina. Nesse caso sim, como já dizia Sidney Magal, "me chama que eu vou".

Você também fez uns sons com a trilha do Chaves. Eu gostei, apesar de não gostar de Chaves - eu sou mais velho, não assisti, sei lá. Fala pra gente desses sons, ou só sobre o Chaves, o que você estiver a fim.
É o GENTALHA! Foi um lance que eu produzi extremamente descontraído,eu adorei o resultado, porque a única coisa que me passava na cabeça era fazer um álbum pros mais fritos e esquecidos mesmo, para todos os caras que não estão nem aí pra nada, eu pensava nos amigos do fliperama, nos amigos do skate, nos caras que nunca chegaram em uma garota com imponência, eu me identifico com os freaks da cidade, nos barbados que se reúnem pra jogar Mario World até hoje, eu gosto tanto desse trabalho que não tive coragem de publicar ele por completo. Por isso, ele foi dividido em tracks A e tracks B, eu só publiquei as tracks A, e eu não penso na possibilidade de publicar as tracks B do GENTALHA! Mas o show do GENTALHA! é completo, e tem o seu valor diferenciado também. Em shows do Psilosamples, as pessoas pedem pra tocar GENTALHA! e eu apresento apenas a pontinha do iceberg! Eu estou completamente satisfeito com esse trabalho.

O nome do seu disco veio do disco Damião Experiença no Planeta Lamma, do Daminhão Experiença, ou isso é uma das mentiras novas daquele cara que a gente conhece?
Não, pura coincidência bizarra. Com certeza se eu soubesse não iria colocar o mesmo título, tive sorte, ter sido similar a um cara nota 10.

Aquele teu remix do Fogo na Bomba, do De Menos Crime, é muito louco. Apesar dessa música ter feito o maior sucesso, achei uma escolha inusitada. Fazia tempo que eu não ouvia falar desse som, sabe? Agora você fez um remix do Piveti e Branco. Esse som tinha um clipe, mas mesmo assim essa é inusitada também. Talvez mais. Não é um som nada cool, cara. É que tem um monte de músico atual que escolhe músicas meio obscuras ou distantes do seu repertório habitual pra regravar ou citar numas de se fazer de esperto. Eu não tô puxando seu saco, mas quando ouvi seu primeiro remix me deu a impressão que era um som que você adorava quando era mais novo. É isso ou eu tô começando a inventar coisas que nem nosso truta? Por favor seja sincero, eu escrevi um monte de coisas nessa pergunta e acho que mereço.
Eu acho que não precisa ser do gueto pra se manifestar desse naipe, eu não sou e nunca fui da periferia, mas eu tenho um carinho muito grande pelas crianças carentes, eu penso muito sobre isso, sobre o futuro da criançada.Eu acho que é por isso que eu admiro o movimento hip-hop até hoje. Me lembro do meu terceiro CD de rap, o primeiro não conta, mais o segundo foi o Escolha o seu Caminho dos Racionais e o terceiro foi o Entre a Adolescência e o Crime do Consciência Humana. Não sei porque, mas eu gostava muito de muito rap, não só o De Menos Crime, como todos os caras do D.R.R, Consciência Humana, U Negro, Homens Crânio, e desculpa aí, não me lembro de todos os nomes. E é por essas e outras que eu gosto de fazer umas releituras, remixei vários raps das antigas, mas foi só por satisfação pessoal,de cada 10 remixes eu publico um, Fogo na Bomba Remix é uma que penso sobre isso, e eu não tenho a mínima vontade de sair publicando essas tracks, é coisa minha.

Falando nisso, você sempre começa uma música a partir do sample? Como é teu dia a dia?
Eu faço de tudo um pouquinho, uso vários softwares mas não sou expert em nenhum, às vezes eu sampleio, às vezes eu produzo tudo. Eu faço o que me dá na telha, não sigo método nenhum e muito menos conceitos, o lance é pura diversão, eu e meus computadores, meu mundinho. Tô sempre fazendo downloads de emuladores, plugins ( a maioria não vale nada!), kits de peças de bateria, timbres de periféricos analógicos, entupindo meu computador de vírus, trocando de sistema operacional. Meu álbum novo está quase pronto, e vai se chamar Mental Surf, estou me divertindo a beça com ele, e assim que eu achar que estiver firmeza eu publicarei. No mais, sigo compondo, recortando os samples, re-editando os slices, criando umas frases nos sintetizadores, e assim mais um dia se vai com o nascer do sol.

Eu lembro que quando a gente foi num show do Relatos da Invasão na zona Norte você ficou a fim de catar uns acapella dos caras pra fazer outras músicas com os vocais dos caras. De quem mais você queria? Você tem vontade de fazer umas batidas de rap também? Desculpa ficar insistindo em rap, mas eu gosto muito e também não sei o nome do tipo de música eletrônica que você faz pra entrar na internet, pesquisar uns nomes e pagar de sabidão. Aliás, se você puder dar umas dicas eu agradeço.
Esse é o meu sonho, me tornar produtor musical. Eu começaria limpando banheiro de algum estúdio se fosse preciso pra eu produzir alguma coisa com algum músico fodão, tipo Racionais Mcs, Emicida, Black Alien, Nação Zumbi. Até mesmo as estrelas do pop, lógico. Eu produzindo um beat pra Wanessa Camargo, por exemplo, já imaginou que viagem? São coisas que eu faria com muita dedicação. Porque foi pra isso que eu nasci. Enquanto não rola nada, vou polindo o meu visível portfólio.