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Drogas

A véspera de uma grande festa numa loja de maconha legal na Índia

Durante o Holi, a maconha se torna socialmente aceitável na Índia
cannabis india
Esquerda: a Theka Bhang; Direita: o bhang da Theka Bhang.

Como uma versão bem mais gentil de Uma Noite de Crime, Holi é o dia do ano no qual a maconha se torna socialmente aceitável na Índia. Uma característica popular do festival é o bhang, uma mistura cozida de folhas e flores de cannabis trituradas. Isso geralmente é misturado com thandai, leite com uma mistura concentrada de nozes e amêndoas, pimenta e cardamomo, e diferentes sementes, como melão, papoula e erva-doce.

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O Holi no norte da Índia reúne pessoas de todas as origens para beber do mesmo copo e jogar pó colorido (e, às vezes, fluídos corporais) umas nas outras. Mesmo o sacerdote abstêmio do templo anseia por alguns deleites à tarde. Um dia antes da festa começar este ano, no final da semana passada, a VICE visitou “Theka Bhang”, uma das poucas lojas de bhang licenciadas pelo governo no país. Localizada em Noida, Uttar Pradesh, logo depois da fronteira com Delhi, a Theka Bhang abre sete dias por semana há uns 30 anos.

Ankit Jaiswal, um jovem membro da família dona da loja, nos contou que num dia normal ele atende de 20 a 30 clientes, na maioria médicos ayurvédicos ou pessoas usando bhang para propósitos medicinais. Por cinco a dez rúpias por goli (bhang misturado com ghee e açúcar para formar uma pequena bola), isso é mais barato que qualquer outra coisa “benéfica para pessoas que pensam demais”, diz Jaiswal. Claro, a loja não é a única fonte de renda da família.

O Holi é muito mais movimentado, com 100 pessoas comprando, além de pedidos maiores de multinacionais que realizam eventos para seus funcionários. A loja também fornece para políticos: Jaiswal disse que eles tinham acabado de mandar um lote para o gabinete de Uttar Pradesh e Rashtrapati Bhavan, a casa presidencial. “Todo mundo comemora”, diz Jaiswal. “Não é o Holi sem muita risada e piadas.”

Mas todo mundo está celebrando?

Shreekrishna Dhadse.

Um servidor público aposentado de 65 anos, Shreekrishna Dhadse veio buscar um saco para sua família enquanto falávamos com Jaiswal. Ele disse que as mulheres de sua família bebem, além de algumas crianças. “Todos os idosos e adultos bebem”, ele diz. “As crianças podem experimentar. Mas geralmente os pais não deixam.”

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“Venho uma vez por ano”, Dhadse nos disse. “Começamos a cozinhar com dois ou três dias de antecedência, com pratos especiais como gujiya, papdi, shakar pare, besan ke laddo, namkeen puri…” (Basicamente vários doces e frituras.)

Perguntamos a ele o que torna o bhang tão prazeroso. “Qualquer humor em que você esteja, é com esse humor que você vai continuar”, ele respondeu. “Se você está rindo, vai continuar rindo. Se está chorando, talvez porque lembrou de algo triste, você vai continuar chorando. Você não sabe o que está fazendo. A coisa com vinho e álcool é que você ainda está consciente. Não com o bhang. E o efeito dura 24 horas. E você fica com vontade de comer muitos doces.”

Dhadse acredita que o festival ficou mais contido comparado com quando ele era criança. “As pessoas tentam economizar água agora, então usam pó colorido”, ele disse. “As pessoas não jogam mais lama. E não obrigam as pessoas a brincar – agora é mais brincar com as pessoas que você conhece.”

Para Gautam Aggarwal, jornalista aposentado – que passou dois anos como morador de rua – vir para essa loja de bhang em particular é a chave para um Holi livre de tensão. “Essa é a única loja licenciada sobrevivente na área”, ele disse. “E você tem certeza que o bhang deles é limpo.” E com famílias e amigos chapando juntos “você não vai querer uma bad trip”.

Ramdas Pookot.

Apesar do Holi não ter começado oficialmente, várias pessoas já tinha começado a comemorar quando visitaram a loja. Ramdas Pookot, um gerente-geral de uma empresa de transporte e logística, tinha acabado de dar uma pré-festa de Holi para seus 300 funcionários. “Sou um líder e tenho que inspirar meus seguidores”, ele disse. “Como líder, meus seguidores devem me seguir não atrás de mim, porque deus deu olhos na frente. Os seguidores devem ir na frente, e o líder atrás deles.”

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Depois de compartilhar mais um pouco de sabedoria empresarial, Pookot pegou seu pequeno saco de bhang. “Vou levar pro meu filho”, ele disse. “Ele é um Shiva bhakta e quer fazer thandai. Vamos beber juntos, como amigos.”

Na calçada na frente da loja, puxadores de riquixá e universitários se misturavam com sacerdotes e costureiros enquanto crianças jogavam bexigas de água nos clientes que chegavam de uma varanda próxima. Antes de voltar para lidar com os homens esperando no balcão, Jaiswal nos disse que achava que a maconha seria eventualmente legalizada na Índia, e estará mais amplamente disponível na loja.

“Mas tem muitas questões básicas que vêm antes”, ele disse, “como os khap panchayats [autoridades locais conservadoras], direitos LGBT – direitos humanos básicos”.

A maconha pode esperar. E sempre vamos ter o Holi.

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