FYI.

This story is over 5 years old.

Sexo

Entrevistamos a terapeuta que ensina mulheres a gozar

Frustrada com os clichês sobre o “difícil orgasmo feminino”, Vanessa Marin fundou a Finishing School para desmistificar a arte de gozar.
Foto cortesia de Vanessa Marin, com tratamento de Lia Kantrowics.

Matéria originalmente publicada no Broadly .

Como terapeuta sexual por mais de uma década, Vanessa Marin encontrou mulher atrás de mulher com uma reclamação em comum: elas sentiam que tinha algo de errado porque nunca tinham gozado. Não demorou muito tempo para ela perceber que o problema não era delas: era a falta de educação das mulheres e seus parceiros sobre a anatomia feminina.

Um estudo publicado no começo deste ano pelo Archives of Sexual Behavior descobriu que mulheres hétero têm menos orgasmos que qualquer outro grupo ouvido pela pesquisa. Sessenta e cinco por cento das mulheres ouvidas disseram que geralmente, ou sempre, tinham tipo orgasmos durante a intimidade sexual nos meses anteriores, comparado a 95% dos homens hétero. Enquanto isso, a diferença entre gays e lésbicas parecia mínimo: 89% versus 86% respectivamente.

Publicidade

Frustrada com essa distribuição desigual de orgasmos, Marin fundou a Finishing School, um curso online dedicado a ensinar mulheres sobre os detalhes de sua anatomia. Os estudantes recebem instruções sobre técnicas de masturbação, dicas de oral e manual, e ajuda para superar a vergonha em torno do sexo e da insegurança com seus corpos. Perguntamos a Marin o que sua carreira a ensinou sobre o orgasmo e a vida sexual das mulheres.

A entrevista foi editada para maior clareza.

VICE: O que te motivou a começar a Finishing School?
Vanessa Marin: Criei a Finishing School porque vi como muitas das minhas pacientes estavam sendo sabotadas por mitos e desinformação sobre o orgasmo feminino. Fico realmente puta ouvindo as pessoas falarem sobre como o orgasmo feminino é "complicado" e "misterioso". E me partia o coração sempre que uma paciente dizia que sentia que seu corpo era "errado". Naquele ponto, eu ensinava mulheres a gozar há anos, e tinha testado um sistema que estava mudando a vida das minhas pacientes. Percebi que eu precisava compartilhar minha mensagem com um público maior para tentar mudar a maneira como falamos sobre orgasmo feminino.

Li que de cinco a 10% das mulheres nunca gozaram, o que me parece muita gente. Isso é verdade baseado na sua experiência?
Me parece até pouco! Há muitas mulheres por aí com medo de até tentar ter um orgasmo. Algumas se sentem desconfortáveis com o próprio corpo. Muitas mulheres nunca tocaram sua genitália. Algumas ficam desencorajadas por tentativas iniciais de se masturbar e simplesmente desistem. Muitas mulheres acham que já deveriam ter tido um orgasmo, então têm medo de continuar tentando. Há muitas razões para uma mulher não ter gozado ainda, mas isso geralmente acontece por causa de mitos e desinformação.

Publicidade

Quais são as principais queixas que você ouve das pacientes nessa questão?
Ninguém está feliz com como seu próprio corpo funciona: já vi mulheres que fazem squirt e querem parar de fazer; já vi mulheres que querem fazer squirt mas não conseguem; mulheres que gozam com estimulação do clítoris querendo orgasmos de estimulação interna; mulheres que gozam de estimulação interna querendo gozar com o clitóris. Muitas de nós acham que nosso corpo precisa experimentar prazer de um jeito diferente de como já faz.

"Não acho que o orgasmo feminino é mais difícil, complicado ou elusivo que o orgasmo masculino."

Às vezes parece que não dá para ler uma matéria sobre sexo sem encontrar a frase "o elusivo orgasmo feminino". É tão difícil assim, ou só somos ignorantes sobre ele?
Concordo! Não acho que o orgasmo feminino é mais difícil, complicado ou elusivo que o orgasmo masculino. O problema é que abordamos o orgasmo feminino do mesmo jeito que abordamos o masculino. Ou seja, achamos que as mulheres deveriam gozar com o coito porque os homens podem gozar com o coito. Fazemos as mulheres se sentirem envergonhadas por precisar de estimulação clitoriana.

Alguns dizem que damos muita importância para os orgasmos. Por que você acha que a capacidade de gozar é importante?
Mesmo que ensinar mulheres a gozar seja minha profissão, concordo que colocamos muita ênfase nisso. As pessoas se esquecem que o jeito de ter um orgasmo é experimentando prazer. Mesmo se um orgasmo dura 10-20 segundos, você pode experimentar prazer por horas. Sim, o orgasmo geralmente é o pico da experiência de prazer, mas isso não significa que os outros momentos não sejam gostosos! Apesar do meu curso ser sobre orgasmos, tento realmente focar no prazer me si. Também coloquei mensagens sobre desenvolver mais confiança em seu corpo, aprender a se comunicar sobre sexo e se divertir mais no quarto.

Dito isso, acredito que aprender como gozar é a experiência mais empoderadora que uma mulher pode ter. Especialmente considerando que o jogo está contra nós com como falamos sobre orgasmo feminino como sociedade. Tem algo poderoso em ter a propriedade do nosso corpo; se declarar merecedora de prazer; e poder dar ao seu corpo todo tempo, atenção e amor que ele precisa. Ainda fico arrepiada quando uma das minhas pacientes conta que teve seu primeiro orgasmo.

Quais são os maiores mitos com que você topou sobre orgasmo feminino, além de que isso deveria acontecer através da penetração?
Um mito com que tenho trabalhado muito ultimamente e que se você não aprendeu ainda como gozar, é porque você é emocionalmente "bloqueada". Muitas mulheres acham que têm um medo profundamente enraizado de intimidade e vulnerabilidade. Ou acham que têm algum problema com perder o controle. É verdade que o orgasmo pode ser uma experiência emocional, mas na maioria das vezes aprender a gozar é só uma questão de técnica. Abordo o orgasmo de um ponto de vista bem técnico porque há estratégias específicas que você precisa aprender. Esse é um exemplo bobo, mas é tipo "Não sei tocar piano ainda. Devo ser emocionalmente bloqueada". Talvez fossem bom começar com alguns acordes e escalas primeiro.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.