Por essa estrada fora
Estrada Atlântica. Todas as fotos por Ricardo Graça/Jornal de Leiria

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Viagens

Por essa estrada fora

De carro, de bicicleta ou a pé, ao longo dos quase 60 quilómetros da Estrada Atlântica é possível percorrer cerca de duas dezenas de praias e desfrutar da gastronomia típica local.

Este artigo foi originalmente publicado no JORNAL DE LEIRIA e a sua partilha resulta de uma parceria com a VICE Portugal.

A Estrada Atlântica é acompanhada por uma ciclovia e liga o litoral de cinco concelhos do distrito de Leiria, entre a praia do Osso da Baleia (Pombal) e o Sítio da Nazaré, passando pela praia do Pedrógão (Leiria), Vieira de Leiria e São Pedro de Moel (Marinha Grande), Paredes de Vitória e Vale Furado (Alcobaça).

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Ao longo deste percurso o viajante é acompanhado por uma paisagem verde e azul, tons que resultam da longa extensão de mata e do oceano. O JORNAL DE LEIRIA fez o percurso completo, de carro, e deixa-te algumas sugestões.


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Partindo de Norte para Sul, encontamos a Estrada Atlântica, logo a seguir à passagem de nível no Carriço, em Pombal. Uns metros mais à frente, encontra-se uma das praias mais selvagens da região. O Osso da Baleia, que ficou célebre devido ao homicídio de várias pessoas no seu areal, tem ainda pouca intervenção humana. A vegetação envolvente e as dunas estão ainda bastante preservadas. O extenso areal, de um branco quase imaculado, contrasta com o azul esverdeado do mar, neste dia bastante calmo e convidativo a banhos.

Os passadiços de madeira que te levam à praia permitem um passeio para apreciar a beleza da paisagem, que ostenta as três bandeiras de qualidade: azul, ouro e acessível a todos. Com vigilância e bar de apoio, é sem dúvida uma praia a descobrir, sobretudo para quem gosta de fugir à agitação do Verão.

Osso da Baleia. Foto por Ricardo Graça/Jornal de Leiria

A viagem prossegue para Sul. A poucos quilómetros encontra-se a praia do Fausto, de difícil acesso, apreciada pelos amantes de nudismo. A próxima paragem é no Pedrógão, a única praia do concelho de Leiria. A caminho encontramos a Lagoa da Ervedeira, onde miúdos brincam junto à água e os mais velhos estendem-se no pedaço curto de areia.

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Este espaço, situado entre a Mata Nacional do Urso e a Mata Nacional do Pedrógão, é muito procurado para a prática de pesca desportiva e de desportos náuticos, como o windsurf e, mais recentemente, o stand up paddle.

É ainda um local privilegiado de refúgio e nidificação de avifauna. Nas dunas envolventes existem passadiços, vários pontões de pesca, instalações de apoio, parque de merendas e parques de estacionamento automóvel. Atenção aos passadiços, pois nem todos estão em condições de segurança. Há alguns partidos e zonas em que a estrutura parece pouco segura.

Lagoa da Ervedeira. Foto por Ricardo Graça/Jornal de Leiria

Rumamos à costa e chegamos à Praia do Pedrógão. Nesta estância balnear, encontras o parque de campismo e as extensas praias, de azul e dourado, onde ainda se mantém a faina da arte xávega, técnica de pesca de tipo artesanal predominante desta região.

Ao longo da arriba da Praia do Pedrógão encontra-se uma sucessão de margas-calcárias do Jurássico, que possuem alguns fósseis. Mais recentemente foram descobertos vários achados paleontológicos, nomeadamente fósseis marinhos nas rochas do substrato da praia. Também foram realizados vários achados arqueológicos, destacando-se uma pintura rupestre sobre uma rocha calcária de pequenas dimensões.

O peixe é o repasto que se aconselha neste local, onde os restaurantes procuram oferecer o que de mais fresco existe. A praia do Pedrógão é um bom local para beber uma imperial e comer uns tremoços ou caracóis ao final da tarde.

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Chegados à Praia da Vieira, no concelho da Marinha Grande, o areal repleto de gente é o que mais chama a atenção. No local onde o arroz de marisco foi eleito uma das 7 Maravilhas da Gastronomia nacional, convivem famílias da região, emigrantes e até estrangeiros.

Arte Xávega (Praia da Vieira). Foto por Ricardo Graça/Jornal de Leiria

São Pedro de Moel é uma das praias mais conhecidas da região. Em tempos, as piscinas descobertas e os estabelecimentos nocturnos Snoobar e Hot Rio eram um atractivo, que deixa saudades. Frederico Barosa, arquitecto, conhece bem esta praia.

Se tens crianças pequenas, experimenta o "Roteiro para adormecer bebés e beber uma cerveja com os amigos". Começando a volta pelo lado do parque de campismo da Orbitur, viaja de carro para Norte, "passando pela zona das árvores sempre a bom ritmo na esperança que o petiz adormeça". Entrando na Estrada Atlântica "vamos compreender a relação do pinhal com a praia e a forma perfeita e única como ambos interagem com o maior dos segredos de S. Pedro de Moel", aconselha Frederico Barosa.

"É altura de perceber se os restaurantes vão ter peixe fresco para o jantar, o que se percebe pela azáfama dos pescadores".

Um pouco à frente, surge "algo verdadeiramente colossal", a praia Velha. "Devemos tentar chegar ao local no início do pôr-do-sol, parar, respirar três vezes e compreender. Continuando o percurso chegamos à praia da Concha mesmo antes do Penedo da Saudade. Caso levem companhia podem dar um primeiro mergulho rápido, só para refrescar". Logo em frente surge o farol, imponente e bem iluminado pelos últimos raios de sol. É altura de perceber se os restaurantes vão ter peixe fresco para o jantar, o que se percebe pela azáfama dos pescadores. Há que conduzir com cuidado, "tentando que os paralelos da calçada não acordem a criança".

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Chegado a São Pedro de Moel, podes "continuar sempre na linha da costa e perceber a relação pinhal, vila, praia; zona alta, zona baixa; e as estratégias que lhe serviram de base". Indo a caminho da Praça Afonso Lopes Vieira, é obrigatória a passagem pela Casa Museu com o mesmo nome. Finalmente, chega-se à quarta bandeira (referência utilizada para identificar as diferentes zonas da praia e os seus frequentadores). É altura do "segundo mergulho e da merecida cerveja com os amigos no apoio de praia do João Loureiro, com os pés na areia e o sol a pôr-se". "Com tudo a correr na perfeição, a criança só acorda passado uma hora e bem-disposta", diz Frederico Barosa.

Se tiveres tempo, podes sair da Estrada Atlântica e rumar a Alcobaça, onde podes almoçar o célebre "frango na púcara", sugere Amélia do Vale. "Façam a digestão a passear pelo interior magnífico da Abadia de Santa Maria de Alcobaça. Sintam-se por volta do ano de 1200, como um monge da Ordem de Cister, com a incumbência dada pelo primeiro rei de Portugal de proteger os Coutos e povoar terras abandonadas recém-conquistadas aos mouros. Comparem o que fariam, com o que os monges fizeram".

Volta ao nosso século e dirige-te para a praia de Paredes da Vitória. "No percurso não deixem de visitar a SPAL. Continuem a viagem, visitem a praia do Vale Furado cheia de falésias erodidas pelos ventos e sintam o risco de nelas habitar. Continuem por uma estrada paralela ao mar, mas não asfaltada, e vão passar pelo local onde até finais do século XIX existiu em actividade a Mina do Azeiche ou Azeche, uma mina de asfalto", recomenda Amélia do Vale.

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Infelizmente, refere a docente, aqui não se fez como na Suíça (as antigas minas de asfalto são visitáveis como museus) e a 'nossa' mina está "abandonada, arruinada e esquecida". Chegado à Praia de Paredes da Vitória dirige-te a uma das esplanadas, em frente do mar, de um qualquer bar existente no local. "Aí, agasalhado pelo que sentiram com o que saborearam de Portugal, peçam uma bebida e aguarde, por um dos pores do Sol mais bonito da nossa Terra. É bem possível que extasiado com a beleza do ocaso do astro rei não se tenham apercebido dos pescadores de pesca submarina que por vocês passaram. Saibam que esses peixes agorinha mesmo roubados ao mar podem ser o vosso jantar no Brisa do Mar, na Marisqueira Tonico, no Magna Carta…"

Nazaré. Foto por Ricardo Graça/Jornal de Leiria

Voltando à Estrada Atlântica, se preferes um local mais recatado para fazer praia, a Falca ou Vale Furado são uma boa opção. O acesso difícil vale a pena para desfrutar de um areal quase vazio. No Vale Furado, o restaurante bar Mad convida a uma pausa. Podes aproveitar para beber uma imperial servida em pequenos frascos.

A Estrada Atlântica termina no Sítio da Nazaré e que melhor local para fechar um dia de Verão. Chegando ao destino em tempo de almoço ou do jantar, nada como um belo peixe do mar grelhado, ou mesmo uma boa caldeirada de peixe na Casa Pires - A Sardinha, mesmo ao lado do Santuário da Nossa Senhora da Nazaré. A sugestão é de Vasco Gomes, empresário em Alcobaça, que aconselha um "belo passeio a pé pelo Sítio" para a digestão.

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"Em poucas passadas, a nossa vista alcança quilómetros de distância. Para Norte, as belas vistas da Praia do Norte, embora agora não estejamos em época de ondas; para Sul, a Praia da Nazaré; caminhando para Oeste, sim, para o lado do mar, onde a terra termina, a pé, facilmente chegamos ao Forte de S. Miguel Arcanjo, hoje sem a finalidade militar para que foi construído, mas muito útil como farol e também como pequeno museu".

Se a tarde se aproximar do seu fim nada como apanhar o Ascensor e descer à praia, abrindo o apetite para um petisco, que pode ser de amêijoas, berbigões, caracóis ou mesmo, para quem não conhece, pode experimentar uns "sames de bacalhau", sugere ainda Vasco Gomes. A Taberna do Ti Zelino, portas meias com a Capela de Santo António - construída com uma percentagem do peixe que os pescadores vendiam e onde no final do lanche poderemos pedir a absolvição do pecado da gula – é um dos locais de eleição".

A esplanada da Taberna do Ti Zelino, para além dos petiscos, tem a vantagem de estar abrigada dos ventos do Norte e usufruir de uma vista deslumbrante para a praia da Nazaré. Poderemos não ver o pôr-do-sol directamente, "mas desfrutamos do efeito das suas cores no areal e casario, assim como o movimento de saída dos veraneantes até a praia ficar vazia e garanto que já não precisam de pensar em jantar".

Elisabete Cruz é jornalista do JORNAL DE LEIRIA.