FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

A Obra de Arte Mais Antiga do Mundo Mostra que Sempre Amamos Imagens de Animais

Uma nova pesquisa revelou que a ilha de Sulawesi, na Indonésia, abriga as pinturas rupestres mais antigas do mundo.

Uma nova pesquisa revelou que a ilha de Sulawesi, na Indonésia, abriga as pinturas rupestres mais antigas do mundo, o que significa que os povos paleolíticos da Europa não foram os únicos — ou sequer os primeiros — a produzir arte.

Uma equipe liderada pelo arqueólogo Maxime Aubert, da Universidade Griffith, na Austrália, descobriu que um estêncil de uma mão localizado em Sulawesi tem pelo menos 39.000 de anos, 2.000 a mais do que pinturas similares encontradas na Europa. Os pesquisadores publicaram suas descobertas na revista Nature.

Publicidade

A descoberta "nos permite negar a ideia de que a Europa era especial", diz Aubert em um comunicado para a revista Nature acerca da pesquisa de seu time. "Havia uma ideia de que os europeus primitivos sabiam mais sobre si mesmos e o ambiente em que viviam. Agora podemos afirmar que isso não é verdade."

Os desenhos de Sulawesi foram descobertos na década de 50, e os cientistas da época acreditavam que eles tinha cerca de 10.000 de idade. Ninguém havia se preocupado em checar a data correta até o time de Aubert calcular sua verdadeira idade com a datação de urânio e tório. Espera-se que essa descoberta dê início a uma reavaliação total dos desenhos rupestres asiáticos, que jamais foram estudados de forma tão completa quanto os exemplares europeus, apesar das datas e conteúdo semelhantes.

Pic1.jpg

As paredes da caverna de Sulawesi, por exemplo, são cheias de marcas de mãos, muito semelhantes ao "Painel das Mãos" da Caverna de El Castillo, na Espanha. As marcas de mãos de ambas cavernas foram feitas há aproximadamente 40.000 anos, seguidas por imagens de animais locais feitas entre 5.000 e 10.000 anos depois.

Na Europa, as imagens representavam bisões, auroques, cavalos e veados, enquanto as cavernas de Sulawesi contêm uma pintura de 35.400 anos de um babirusa, uma espécie de porco.

Existem também diferenças estilísticas entre as técnicas artísticas da Europa e da Indonésia; as imagens europeias parecem pinturas de dedo, enquanto as pinturas da Indonésia indicam o uso de alguma forma de pincel. Mas o fato de ambos povos primitivos pintarem animais suculentos em suas paredes indica que sonhar com bacon e bifes é uma atividade com uma história riquíssima e comum à todas as culturas.

Publicidade

A semelhança de idade e conteúdo das imagens pode ser uma prova de que os artistas das cavernas da Europa e da Indonésia partilham uma raiz cultural, um povo africano com conhecimento artístico que existiu milhares de anos antes. Os europeus teriam trazido suas técnicas para o oeste, enquanto os asiáticos levaram-nas para o leste — apesar da distância, ambos continuaram vidrados em desenhar mãos e animais.

Essa teoria é empolgante porque significa que "podemos esperar novas descobertas de imagens de mãos humanas, de arte figurativa, e de outras formas de expressão artística datadas do período mais remoto da dispersão global de nossa espécie", afirma o estudo publicado na Nature.

A EVOLUÇÃO DA CULTURA PODE SER REGIDA POR PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS, ASSIM COMO A BIOLOGIA EVOLUTIVA

Mas a alternativa é tão promissora quanto a primeira hipótese. "É possível que a arte rupestre tenha surgido nos dois cantos do mundo, independentemente e ao mesmo tempo", afirmam os autores. Talvez exista algo dentro de nós que nos inspire a fazer pinturas de mãos e porcos. Afinal, não é como se já tivéssemos superado nossa obsessão por imortalizar nossas pegadas, como podemos observar na Calçada da Fama.

Coincidentemente, outro estudo lançado nos últimos dias investigou a ideia da existência de uma convergência cultural comum à nossa evolução. Publicado na revista Proceedings of the Royal Society B, o estudo compara o desenvolvimento cultural do sudeste da Ásia e da África subsaariana ao longo de vários milênios.

Os autores concluíram que as mudanças linguísticas, etnográficas e tecnológicas eram muito similares, o que reafirma a teoria de que, assim como a biologia evolutiva, a evolução da cultura pode ser regida por princípios fundamentais, e que as expressões artísticas podem ser um dos resultados mais visíveis dessa convergência.

Mas independentemente da arte rupestre ter sido herdada de uma cultura africana comum ou inventada espontaneamente ao redor do mundo, o seu impacto é o mesmo. Essas mãos anciãs são uma lembrança fantasmagórica de que as pessoas de 40.000 atrás tinham os mesmos anseios crativos que temos hoje: a vontade de se expressar, de representar o seu mundo e de se comunicar com o futuro. Eles conseguiram fazer as três coisa, algo muito impressionante para seres paleolíticos.

Tradução: Ananda Pieratti