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Música

Fui para os copos com os Veronica Falls

E convenci uma vegetariana a comer chouriço assado.

Eu, ali à direita. Sou mais bonita ao vivo e quando não bebo. Da última vez que os Veronica Falls estiveram em Portugal, fui com eles beber uns copos (a mais) e aproveitei para lhes mostrar a baixa do Porto. No fundo, queria oferecer uma boa recepção — afinal a crítica especializada diz que eles são uma das maiores revelações do universo indie dos últimos tempos. Mas, como o som deles não é muito a minha praia, pensei que a melhor forma de conversar com eles seria num estado ébrio. Depois de uma troca de emails para agendar a noitada, fui ter com eles ao Warm-Up Vodafone Paredes de Coura. Cheguei, vi o concerto — com o Waiting for Something to Happen nota-se uma grande evolução desde que os vi no ano passado — e, no final, encontrei-me com o Patrick, a Roxanne, a Marion e o James no backstage do festival. Fiquei logo admirada: uma banda com canções tão sonhadoras e calmas a contrastar com as personalidades divertidas e enérgicas dos seus músicos. Começámos a falar e expliquei-lhes o que pretendia: levá-los a comer algo típico, beber e sair pela madrugada dentro. Os meus objectivos foram imediatamente arruinados: o voo deles de regresso ao Reino Unido partia às nove da manhã seguinte, por isso não podíamos entrar em grandes aventuras. Relaxadamente sentados na esplanada destinada a artistas, fui conhecendo cada um deles. Perguntei-lhes como correu a última digressão pelos Estados Unidos. “Foi altamente”, respondeu-me a Roxanne, o que foi surpreendente porque já ouvi muitas bandas europeias a queixarem-se de que não são muito respeitadas por lá. “Sim, é verdade, mas nós não tivemos motivos de queixa. Pelo contrário, a nossa editora norte-americana é super prestável e sentimo-nos apoiados.” Por esta altura, os Wedding Present estavam a iniciar o seu concerto e quer a Marion, quer a Roxanne queriam ir apanhar algum rock’n’roll no corpo. “Importam-se de esperar?” Sem problemas, claro. E foi nessa altura que me virei para o Patrick que, juntamente com o James, tinha ficado a chillar pós-concerto: “Tens fome?” Resposta pragmática: “Não, só quero fumar erva.” Primeiro desejo concretizado. Esta foto foi no final da noite. O Patrick, à esquerda, ainda estava animado, mas o James e eu já estávamos prontos para ir dormir (cada um na sua cama). Quando a Marion e a Roxanne regressaram, o James e o Patrick estavam a cantar a “Super Trouper” dos ABBA, com algumas nuances. “Super, super, super, super…”, em referência à cerveja que estavam a mandar abaixo (e, aparentemente, a detestar). Lá saímos do recinto e todos eles queriam coisas diferentes: um queria um Bloody Mary, outro uma caipirinha. “Vocês estão em Portugal, não estão no Brasil”, disse a rir-me, enquanto descíamos a Avenida dos Aliados, em direcção à zona da Ribeira. Pelo caminho, fui treinando o meu francês com a Marion. Na língua materna dela, quis saber o que é que ela queria fazer durante o resto da noite. “Só quero distrair-me e sair um bocado. Falas francês, é?” Já estava a sentir a ebriedade no sangue e a amnésia linguística começou a tomar conta de mim. “Como é que se diz 'grande abraço’ em francês?” Por esta altura, estávamos a descer a zona dos Lóios e ainda tínhamos de dar umas voltas para chegar ao bar que escolhemos. “Vocês vão ter de fazer exercício, porque vamos subir muito”, avisei-os. “Nãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaao!” Já devidamente instalados, a beber cerveja portuguesa, whisky, vinho branco e tinto — e a provar chouriço assado (até mesmo a Marion, que é vegetariana) —, quis perceber como é que os Veronica Falls se juntaram. “Todos nós moramos em Londres. Eu e o Patrick formámos a banda, conhecemo-nos desde a faculdade. Depois, vieram o James e a Marion”, disse a Roxanne. “E por que é começaram a carreira tão tarde? O vosso primeiro disco é de 2011…” O Patrick explicou que já tinha tido uma banda rock, os Sexy Kids, e que decidiu fazer música “mais calma”. Eu e o James tivemos alta química. Entretanto, uma estranha combinação de torradas e de shots (com um nome muito fora, bodca & bira) chegou à mesa. Já me estava a sentir suficientemente atrapalhada com a minha nassa, a trocar-me nos tempos verbais e a sentir os olhos pesados e vidrados. Fiz uma pergunta estranha ao James, sem nenhum contexto, em que lhe perguntei como é que era a mãe dele. Ele respondeu-me com outra pergunta: “Como é que é a TUA mãe?” Foi aí que decidi dizer que a minha progenitora era a mulher mais bela do mundo, de olhos verdes e coração grande. A conversa não estava já a fazer sentido nenhum. Foi um momento constrangedor. Decidi abstrair-me um bocado da conversa e observar: estava toda a gente com um ar extasiado, como se fossemos um grupo de amigos que já se conhecia há anos e não uns jornalistas com uma banda. Já passava das três da manhã e era melhor levá-los de volta ao recinto. Uma tarefa que parecia mais fácil na teoria porque, na realidade, estar a subir tudo de volta à Praça Dom João I foi custoso. “Divertiram-se?”, perguntei à Marion. “Muito, mesmo! A sério, obrigada!” Não dá para ver bem, por isso eu explico: a Marion escondeu-se nas virilhas do Patrick. Estava muito acabada quando cheguei com eles ao recinto do Warm-Up Vodafone Paredes de Coura. Olhei para o meu reflexo numa montra com um ar de “entraste demasiado na cena” e decidi ir descansar. Aproveitei a noite e conheci músicos e pessoas interessantes. O melhor de tudo é que eles ficaram com a mesma opinião. Fotografia por Nuno Miranda