Um mês antes da tragédia na ciclovia Tim Maia, funcionários da Concremat protestaram por segurança em SP

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Um mês antes da tragédia na ciclovia Tim Maia, funcionários da Concremat protestaram por segurança em SP

Há exatamente 30 dias, os funcionários da Concremat denunciaram as condições precárias de trabalho da empresa que, no Rio, foi responsável pela ciclovia que desabou no Rio no feriado.

Exatamente um mês antes do desabamento da ciclovia Tim Maia, que terminou com a morte de duas pessoas no Rio de Janeiro, funcionários da Concremat em São Paulo protestavam contra a carga excessiva de trabalho na manutenção das redes de gás da cidade. A empresa de engenharia responsável pelo trecho da ciclovia carioca que desabou na última quinta-feira (21) trabalha há anos como fornecedora de mão de obra para a Comgás, antiga estatal de gás encanado no Estado de São Paulo.

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Para Josué (nome fictício), gasista há 15 anos, as condições de trabalho para os funcionários da empresa estão piores a cada ano, já que o serviço é terceirizado e cada redução de custo apresenta um lucro maior para a Concremat em relação ao preço do contrato com a Comgás. "Praticamente em todas as empresas a gente vem brigando por salário. A cada término de contrato nós somos obrigados a partir para outra empresa com salário menor do que a gente ganhava (…).Mas, agora com a Concremat, chegamos ao limite: o salário é muito baixo e estamos reivindicando alguma coisa através da empresa e da Comgás", disse.

Assim como no ramo da construção civil, a manutenção em tubulações de gás exige perícia e descanso dos funcionários, fatores que, de acordo com Sidney Sampaio, presidente do Sindgasista – sindicato que apoia a causa dos funcionários -, a Concremat vinha ignorando. "Podemos comparar o gasista com um piloto de avião, que precisa estar bem descansado pois qualquer erro ele pode derrubar a aeronave. Os trabalhadores da Comgás (ou que prestam serviços para ela), sob estresse, podem provocar uma explosão e colocar a sociedade toda em risco, como já ocorreu no bairro da Liberdade, que terminou com uma morte", disse o sindicalista.

O acidente a qual Sidney se refere ocorreu em agosto de 2014 em uma pensão na Liberdade. Segundo a Comgás, na época, uma equipe técnica estava no local para conter um vazamento durante a madrugada quando ocorreu a explosão. Pelo menos dez pessoas ficaram feridas na ocasião e uma delas não resistiu aos ferimentos e morreu dias depois.

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Para o funcionário Josué, algumas empresas que prestam serviço para a Comgás - incluindo a Concremat -priorizam a quantidade de trabalhos executados e deixam a qualidade em segundo plano, o que pode ser perigoso. "Nós mexemos com gás e isso requer uma certa atenção e procedimentos. Dependendo da empresa, eles não ligam muito para qualidade não e sim a quantidade. No meu ponto de vista, qualidade e quantidade não se combinam", relatou.

Umas das principais reclamações dos funcionários foi a meta estabelecida pela Concremat de cumprimento de 12 ordens de serviço por dia. Com essa orientação, os funcionários deveriam ser o mais rápido possível em cada chamada de manutenção, mesmo com todo o perigo envolvendo o gás encanado.

A VICE entrou em contato com a Concremat em relação às reclamações dos funcionários de São Paulo. A empresa divulgou uma nota oficial negando as acusações, alegando que os funcionários são representados por outro sindicato. A nota na íntegra:

"A Concremat esclarece que as alegações em questão não procedem, pois nossos empregados são representados pelo Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, legítimos representantes da categoria preponderante nas atividades da empresa, nos termos da legislação em vigor. Ressaltamos ainda que todas as nossas atividades estão em conformidade com a legislação trabalhista e com a convenção coletiva de trabalho do respectivo sindicato, que está em plena vigência".

O sindicato mencionado pela empresa foi procurado por esta publicação e não respondeu às questões, assim como a Comgás.

Ciclovia interditada

No Rio de Janeiro, a Polícia Civil abriu inquérito de homicídio culposo (sem intenção de matar) e vai apurar as mortes provocadas pelo desabamento da ciclovia. O caso será comandando por policiais do 15º DP, da Gávea. O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ) também vai apurar as responsabilidades da Concremat no acidente.

A empresa, por sua vez, divulgou uma nota lamentando o ocorrido e disse que "solidariza com as famílias das vítimas, para quem tem oferecido apoio neste momento" e que vem "se empenhado na apuração das causas do acidente, juntamente com as autoridades públicas".