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Serão as bebidas energéticas o vício legal dos adolescentes?

O consumo de bebidas energéticas está a afectar o comportamento de crianças e adolescentes na sala de aula.

Imagem via Canada.com.

Soubemos desta notícia através da imprensa britânica. O sindicato dos professores - NASUWT - afirma que o consumo de bebidas energéticas, que eles qualificam como "drogas legais", está a afectar o comportamento de crianças e adolescentes na sala de aula. O artigo faz referência a um inquérito realizado a 3.500 professores.

Estão preocupados e falam dos efeitos secundários como "insónia, ansiedade, irritabilidade", e a partir da associação dos produtores de refrigerantes fazem um comunicado para o consumo responsável: "Devem consumir-se com moderação e como parte de uma dieta equilibrada".

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Conversámos com Lucía Boto, especialista em Psicologia Clínica e da Saúde do Centro Álava Reyes, que nos explica que "consomem-nas para enfrentar as maratonas de estudo em tempos de exames e assim combater a fadiga, aumentando o nível de concentração". Além disso, em relação ao seu uso, é cada vez mais frequente misturá-las com álcool.

VICE: Como pode o consumo deste tipo de bebidas afectar as crianças e os adolescentes?

Lucía Boto: O risco de efeitos secundários do consumo de bebidas energéticas varia em função da frequência de ingestão, da etapa evolutiva do sujeito e do seu peso. Desta forma, os efeitos poderiam chegar a ser verdadeiramente negativos em menores de doze anos e em maiores de idade com uma frequência de consumo contínua. Este tipo de bebidas tem vários efeitos negativos a nível fisiológico como por exemplo: o aumento da tensão arterial, problemas de dentição e dietéticos e também possíveis lesões cardíacas no futuro. Se o considerarmos desde um ponto de vista psicológico, os seus efeitos podem actuar principalmente sobre o estado de ânimo, a qualidade do sono, a agitação comportamental e os processos de atenção. Assim, um consumo continuado, a largo prazo, poderia incidir noutras áreas como o rendimento escolar ou interacções sociais.

Dos componentes que as bebidas energéticas contêm, quais os mais prejudiciais desde o ponto de vista psicológico?

Os componentes mais prejudiciais que contêm estas bebidas energéticas são: cafeína, taurina e açúcares, guaraná e outras ervas. A cafeína é uma substância que estimula o sistema nervoso central e os seus efeitos estão associados à alerta motora e à redução da sonolência. A taurina é um aminoácido que o corpo produz, já que contém substâncias mais difíceis de processar, que incrementa o rendimento muscular e reduz a sensação de fadiga. E os açúcares, o guaraná e as outras ervas provocam desidratação do corpo. Esta mistura coloca o organismo numa posição de alerta que, de forma continuada, pode gerar sensação de agitação, insónia e nervosismo que afectam o indivíduo e provocam transtornos de maior gravidade relacionados com a ansiedade. Por outro lado, este tipo de bebidas são por vezes combinadas com o álcool e os efeitos prejudiciais intensificam-se consideravelmente, pois dissimula o efeito de embriaguez aumentando assim o seu consumo. Além disso, são incompatíveis com determinados medicamentos.

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Geram adicção, por assim dizer?

As bebidas energéticas podem provocar adicção quando consumidas de forma habitual para substituir horas de sono, descanso ou mesmo nutrientes vitamínicos. Por assim dizer, as doses que acabam por ser prejudiciais dependem da sensibilidade de cada consumidor. As que contêm maiores doses de cafeína podem provocar dependência e inclusive sintomas de abstinência.

Detectaste, de alguma forma, o aumento do consumo deste tipo de bebidas?

À partida, o consumo deste tipo de bebidas aumenta consideravelmente especialmente em adolescentes devido ao incremento de estratégias de marketing focadas neste público mais vulnerável. São consumidas especialmente para fazer frente a longas horas de estudo em período de exames e combater a fadiga e intensificar os níveis de concentração. O mais preocupante é que são também consumidas juntamente com álcool, entre os mais jovens, pois cria uma sensação dissimulada de "poder, controle e capacitação" sem contrabalançar os efeitos secundários negativos que já descrevi.

E é possível que sejam benéficas, se consumidas de forma moderada?

Este tipo de bebidas melhora o rendimento desportivo e cognitivo em doses moderadas, e a curto prazo, mas os efeitos secundários que mencionámos vão aparecer a longo prazo. Por esse motivo, recomenda-se a sua substituição por bebidas isotónicas [que repõem a água e os sais minerais perdidos durante a transpiração] como complemento energético em situações pontuais prévias de sessões desportivas ou de estudo, combinando-as com uma dieta adequada, hidratação, exercício físico e horas de sono estáveis.