FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

Predadores Juvenis

Estávamos todos lá para testar o Sistema Universal de Controle, ou SUC, a primeira peça militar inspirada e especificamente projetada para a geração vídeo-game.

Quando me juntei a um grupo de adolescentes que devoram pizza no refeitório da Raytheon, uma das maiores empresas fornecedora de produtos e serviços de segurança militar do mundo, percebi que não tinham pinta de assassinos profissionais, mesmo que tenham treinado milhares de horas aperfeiçoando uma vasta gama de habilidades que os torna perfeitamente competentes para exterminar vidas. Usavam aparelho fixo e dava pra ver que tentavam, em vão, deixar a barba crescer.

Publicidade

Estávamos todos lá para testar o Sistema Universal de Controle, ou SUC, a primeira peça militar inspirada e especificamente projetada para a geração vídeo-game. O SUC foi criado pela Raytheon para pilotar veículos aéreos por controle remoto, como o Predator, que tem sido notícia recentemente graças a seus ataques nas fronteiras do Paquistão e Afeganistão. Eles encontram terroristas nas perigosas montanhas que vêm desafiando os impérios britânico, russo e americano no último século, tudo enquanto o piloto fica sentado em segurança a milhas de distâcia dali. Mas por mais legais que os Predators possam ser, eles podem ser difíceis de pilotar. A Administração Federal de Aviação estima que mais de dois terços dos Predators são perdidos por falha dos pilotos, a um preço de $20 milhões cada.

A Raytheon então se empenhou para mudar isso. “Queríamos criar algo que, assim como o video-game, pudesse ser usado assim que saísse da caixa”, diz Chris Graham, chefe de engenharia para conceitos avançados da Raytheon e, ele mesmo, um ávido jogador. “Se você já jogou Call of Duty ou Gears of War então isso vai ser bastante intuitivo”.

Depois de almoçarmos pizza, fomos todos para uma sala escura e gelada tomada pelo zumbido dos computadores – uma sala assustadora. uma espécie de sala Estrela da Morte. “Vamos respeitar a vez de todo mundo pilotar” diz o professor, enquanto íamos nos amontoando em volta das máquinas. O comando do SUC é uma grande cadeira ergonômica com um controle de temperatura individual que se extende como um teto, algumas telas, teclado e vários joysticks – basicamente um dispositivo pornográfico para nerds de verdade. “Quanto custa um desses?” pergunta Connor, um dos garotos, “Vou pedir um de Natal”.

Publicidade

“Olha a Al-Asad!” diz Michael de 17 anos, apontando a base militar americana localizada no oeste Bagdá. “Cara, isso é igualzinho Call of Duty”. “Eu tava pensando exatamemnte isso” respondeu o Bobby, reclinando-se na cadeira, seus olhos seguindo três telas ao mesmo tempo, a mão direita mexendo o sensor do Predator sobre a Bagdá virtual, a esquerda dando zoom. Ele alternava ao mesmo tempo entre uma seleção de mísseis e bombas. “Assim que entrei aqui e vi essas coisas pensei, ‘Cara, esse emprego foi feito pra mim”. “Demorou tipo meio segundo pra eu aprender – eles só me mostraram quais botões usar”.

Era uma loucura o quão rápido eles eram capazes de controlar o que estava acontecendo, que a experiência de guerra podia ser feita virtual e imediatamente, ao mesmo tempo. Conversei um pouco com Michael Keaton, não o ator, mas um piloto de Predators e comandante de esquadrão cujo codinome é Batman, que agora trabalha para a Raytheon. “É impressionante depois de ter estado em combate e ter visto pilotos experientes lutando com esses controles, ver esses garotos chegarem aqui e começarem a voar em poucos minutos”, diz ele.

Keaton se empolga quando fala da capacidade de imersão do SUC. “Isso realmente ajuda a projetar sua mente para dentro do campo de batalha, e isso é importante quando você está voando numa missão de sete ou oito horas e pode ficar cansado e distraído”. Eu pergunto a um jovem estudante chamado Corey se ele considera uma missão de sete horas muito dura. Ele ri. “Eu diria que quando compro um vídeo-game novo, é bem normal eu ficar jogando 24 horas seguidas”. Isso é só a média de um final de semana comum para um adolescente, mas com um título novo: não durmir até ganhar o jogo.

Publicidade

As mentes na Raytheon vêem os vídeo-games apenas como o primeiro passo para integrar tecnologia do cotidiano e hardware militar. “Definitivamente, achamos que seu iPhone e seu Blackberry serão parte da batalha espacial do futuro”, afirma Chris Graham. Ah, como um aplicativo assassino?

Mas sério, é como se esses caras estivessem tão imersos no que estão fazendo que não percebem o quão estranho soa tudo isso. Eles parecem pensar que integrar guerra com cultura de consumo é o próximo passo nessa lógica e, depois de observar a facilidade com a qual esses garotos operam o Predator, é meio difícil mesmo argumnetar. Até consigo imaginar uma cena do futuro onde algum general está falando com a sua mulher ao telefone, então coloca a chamada em espera, bombardeia alguém do Jihad e volta a falar com ela em seguida.

“No futuro próximo você vai ser capaz de controlar um Predator pelo seu celular”, diz Kaith Little, o porta-voz da empresa. “Imagina que legal!”

De volta à cadeira do piloto, Bobby começa a ficar frustrado: o simulador não o deixa atirar com todas as armas. Bobby, então, lança um míssil, soltando-o sem dispará-lo. “Alguma coisa ele vai fazer”, diz ele.

“É, faz um buraco bem grande”, diz o Connor.

“Ou acerto a cabeça de alguém”, retruca Bobby.

“Um terrorista a menos!”, diz Michael, e todos dão risada. Durante o intervalo, Connor fica pensativo. “Nós tratamos isso como se fosse tão insignificante e infantil mas, você sabe, tem um significado real”.

Tenho que dizer que foi bom ter ouvido aquilo. Eu mesmo, na empolgação com esse grandioso jogo novo, meio que tinha esquecido com o que estávamos brincando. O que eles estavam fazendo, se fosse pra valer, seria traduzido como violência no mundo real. O Bobby desviou o olhar das telas por um instante: “É, tipo, ‘Cara, acabamos de matar 50 pessoas!’ mas na realidade seria ‘Cara, acabamos de matar 50 pessoas’.