“Descubro que não me conheço. Todos os dias. Hoje, amanhã. Descubro que não sei de mim e onde fiquei. Perdi-me e assim prefiro deixar-me viver”. Ariana não tem nome, tem uma história. Tem nas veias - aquelas que constantemente viola - camuflada a razão de tamanha apatia. O vício. O mais clássico cliché da mulher da vida. A droga. O dinheiro. A prostituição. A venda do corpo para consolo da alma.A mim, diz-me: “Já esqueci o corpo que tenho. Uso-o”. Ariana rende-se todas as manhãs à metadona. Aquele ir e voltar, aquela rotina satânica. Ariana não me sabe explicar porque o faz. Parece que dizem que ajuda na cura ou na ressaca. Deixar nunca e isso sabe-o bem. O sabor parece diluir-se mais depressa que os vestígios de cada homem no seu corpo. O efeito, parece nunca existir.
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Ariana não parece intimidar-se. Aliás, tem cravados em si, perpétuos e massacrantes, os sete anos de prisão em Caxias, por algo que hoje, nada de si tem. Uma história confusa de passaportes e tráficos. Uma daquelas histórias nebulosas, que de quanto maiores, menos se sabe. Sinto-me porco, sujo e culpado. Oiço-a falar de preços e afogo-me numa consequente assunção de um puzzle que parece não querer completar-se. “O preço de uma voltinha? Cinco, 10 euros”.Aquele corpo, o seu, sustento dela e de outros. O corpo esquecido, maquilhado por horas, volta a casa com a mesma sensação vazia com que partiu. Não se limpa, não se enoja, não assume qualquer remorso das últimas horas em que deu muito.“Não sei porque o faço. Não os sinto tocarem-me. Sei que todos os dias me levanto e sei que o tenho de fazer. Se vai acabar um dia? A droga acaba comigo".Vê abaixo mais imagens e acompanha o trabalho do fotógrafo José Ferreira aqui.
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