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Tecnologia

Robôs Estão Cuidando de Idosos na Europa

Uma das utilizações mais óbvias de um robô de serviço é uma tarefa completamente inofensiva que humanos estão cada vez mais deixando de atender: o cuidado.
Imagens: GiraffPlus

A julgar por pesquisas recentes, a maioria das pessoas realmente acredita que robôs causarão algum tipo de revolução apocalíptica das máquinas. Mas, deixando de lado robôs militares e usurpadores de trabalho automatizados, uma das utilizações mais óbvias de um robô de serviço é uma tarefa completamente inofensiva que humanos estão cada vez mais deixando de atender: o cuidado.

Seis idosos por toda a Europa têm atualmente um novo companheiro: um robô GiraffPlus, ou Sr. Robin, como o chama carinhosamente uma senhora de 94 anos, participante do teste do produto, no vídeo abaixo. Trata-se de um projeto financiado pela União Europeia que visa a utilização de robôs para ajudar pessoas idosas que desejam continuar em suas casas a manter-se independentes, mesmo após o momento em que, normalmente, estariam inaptos a viver sozinhos, devido a dificuldades físicas ou cognitivas.

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Amy Loutfi, coordenadora do projeto GiraffPlus e diretora do departamento de Engenharia da Computação da Universidade de Örebro, na Suécia, conta-nos mais sobre seu trabalho. O robô é, na verdade, apenas parte do sistema, que inclui uma espécie de smart home, com sensores de ambiente espalhados pela casa que enviam informações sobre os movimentos do morador e sensores fisiológicos que monitoram sua saúde.

Sensores de movimento monitoram se a pessoa está em determinado cômodo, enquanto sensores de pressão debaixo de camas e sofás podem dizer se alguém está sentado. Também há sensores que são ativados quando certos dispositivos são conectados e sensores que monitoram quando portas e janelas são abertas ou fechadas, sem falar de rastreadores de temperatura e umidade.

Há, ainda, dispositivos que medem peso, pressão arterial, níveis de açúcar no sangue e assim por diante. “Todos os dados dos sensores são armazenados em um banco de dados e, com isso, podemos descobrir algumas informações, como se a pessoa está dormindo ou se levantou durante a noite, se está assistindo televisão ou cozinhando”, diz Loutfi.

O robô, que não é autônomo, complementa isso tudo ao permitir visitas virtuais de amigos, família e profissionais de saúde. “É basicamente o equivalente a um Skype sobre rodas”, diz Loutfi. O usuário chama o robô e é capaz de direcioná-lo pela casa para conferir outro morador, parecido com o robô de telepresença que vimos recentemente. Sua função é tornar visitas mais fáceis para aqueles que não estão imediatamente disponíveis – se você visse que alguém estava acordado no meio da noite, por exemplo, poderia usar o robô para fazer uma visita virtual.

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Separadamente, cada dispositivo não é nada que não tenhamos visto antes, mas usados em conjunto criam um sistema de monitoramento permanente que demonstra o quanto as máquinas estão aptas a realizar, de forma ainda melhor, tarefas tradicionalmente consideradas inerentemente humanas, como cuidar de entes queridos. “O sistema abrange todos estes diferentes aspectos, mas é ao colocá-los todos juntos que está a novidade do projeto”, diz Loutfi.

O sistema já está sendo usado no mundo real, embora, inicialmente, apenas em cobaias. Loutfi admitiu que tem suas próprias questões, especialmente no que se refere às diferentes necessidades e hábitos de cada usuário. “Implementar a tecnologia na vida real não é tarefa simples”, diz. Os desafios podem ser tão simples quanto alguém que decidiu tirar o pó de algum dos sensores e acidentalmente o tirou do lugar, ou o desconectou porque estava fazendo um barulho ou brilhando.

Há ainda a questão da conversão de todos aqueles dados em algo útil. Loutfi conta que desenvolver uma interface adequada para a interpretação do fluxo constante de dados é uma das principais metas do projeto de pesquisa. No momento, o acesso às informações é restrito a sua própria equipe médica, que pode ver um relatório mensal ou semanal baseado nos dados coletados.

O robô é para ser um complemento, e não uma substituição às visitas pessoais. Loutfi sugere que o projeto trouxe vantagens tais como medidas mais contínuas e objetivas de como uma pessoa está. Mas a parte robótica não é desculpa para não manter contato com sua velha titia. “Ele não necessariamente diminui a interação social. Gosto de pensar que, na verdade, ele a aumenta, porque torna mais fácil o contato com pessoas mais idosas que vivem em casa”, diz.

Há atualmente dois sistemas funcionando na Itália, dois na Espanha e dois na Suécia, e ao término do projeto de pesquisa este ano, Loutfi diz que o plano é fazer com que uma das empresas envolvidas se responsabilize por divulgá-lo para um uso em maior escala.

O quão entusiasticamente estes robôs de serviço serão adotados pelo mercado provavelmente depende de nossa própria confiança na tecnologia, o que ainda parece um pouco hesitante. Em uma pesquisa feita pela PEW no começo deste ano, dois terços dos americanos participantes dizem que robôs cuidadores de idosos são uma má ideia. Uma pesquisa publicada recentemente no Reino Unido mostra que 46% das pessoas acham que a tecnologia está “se desenvolvendo rápido demais e destruindo modos de vida tradicionais.”

Apesar da desconfiança, estima-se que o mercado de robôs cuidadores de idosos chegue a 13 bilhões de euros em 2016, segundo a União Europeia. Pelo visto, teremos que esperar para ver se isso acontecerá com a implementação de sistemas de monitoramento de multissensores ou na venda de filhotes de foca robotizados.