Manoel de Barros: se Foi o Menino que Carregava Água na Peneira

Manoel de Barros já tava velhinho. O fazedor de amanhecer se foi poucas horas depois de o sol acordar, às 8h05 desta quinta-feira (13). Aos 97 anos, levou consigo mais de três dezenas de publicações e um sem-fim de versos e pensatas. Seu primeiro livro, Poemas concebidos sem pecado, foi publicado em 1937, quando o poeta tinha 21 anos, e as últimas linhas foram publicadas no ano passado, com Portas de Pedro Viana. Apesar de volta e meia ser cogitado para o Nobel da Literatura (que nunca veio), Barros morre como um desconhecido para muitos brasileiros.

Escritor das coisas simples e da natureza, ficou com a pecha de poeta do Pantanal, de homem do mato. Barros não relia suas rimas por puro tédio. Afirmou certa feita que já teria sangrado e sofrido a cada verso. Apesar de tentarem colocá-lo na prateleira dos modernistas, parnasianos ou pós-modernistas, e de tentarem qualificá-lo como um sub-Guimarães Rosa ou Oswald de Andrade menor, já assumiu que parte das suas influências veio das conversas com andarilhos na infância. E como em um papo com dingos de rua, Manoel seguia seus versos abusando da coloquialidade rural.

Apalpador das intimidades do mundo, já disse em versos que é preciso saber "que o esplendor da manhã não se abre com faca" ou "por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos". Na sua causa mortis está escrito falência múltipla dos órgãos. O Mato Grosso do Sul decretou três dias oficiais de luto. Tá pouco de homenagem ainda.

No poema título do livro O menino que carregava água na peneira o poeta registra que:

"A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!"

Os desatinos de Manoel de Barros permanecem e aqui fico na torcida para que seus versos sejam amplificados ao seu tamanho e talento.