“Party for Your Right to Fight” do Public Enemy, ao mesmo tempo em que era uma resposta à picardia juvenil de “Fight For your Right”, dos Beastie Boys, completava a lógica do que se tornaria o hip-hop americano na década seguinte, a assim chamada Golden Era dos anos 90. Ninguém, anos depois, parece ser a encarnação de ambas as ideias como o brasileiro Rincon Sapiência.Não porque o brasileiro use a wall of sound cacofônico ou as palavras de ordem do P.E., nem o rock ou a esperteza marota dos BBs de começo de carreira. Mas por realmente internalizar as ideias e posturas de “It Takes A Nation” e “Licensed to Ill”, mixá-las e sintetizá-las num som grave completamente diverso de ambos os grupos, que é ao mesmo tempo profundamente global e totalmente africano, Rincon está atualmente reescrevendo algumas regras do hip-hop no Brasil, cujo grosso sempre foi panfletário.O MC começou nas fileiras do rap underground de São Paulo, mas se encontrou musicalmente quando encarou uma virada temática. Entediado em fazer músicas seguindo o cânone do boom bap, e encantando pelas freqüências graves, ele compôs, num computador caseiro, o hit “Elegância”. A levada gatuna passeando por cima dos timbres eletrônicos inspirados pelo crunk virou, como alguns dos melhores sambas, uma ode à malandragem. Só que esse balanço orgulhoso brotou soando absolutamente tecnológico – e se tornou um sucesso das pistas sem precisar de letras infantilizadas ou comerciais.Sua união com o DJ A.S.M.A. pode ser considerada uma simbiose: o DJ também foi responsável por dirigir o videoclipe de “Elegância” e está produzindo as imagens para a performance da dupla com Serato Vídeo. Ao vivo, o trabalho em equipe da dupla inclui interlúdios, etapas dançantes e hinos inclusivos do orgulho negro – saciando tanto quem luta pelo direito de festejar quanto quem festeja o direito de lutar.Para mais Rincon Sapiência acesse Noisey.