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A Macedônia Está À Beira de Outro Conflito Étnico?

Um homicídio com motivação política apelidado de “Caso Monstro” se tornou o motivo mais recente de protestos para os albaneses descontentes na Macedônia.

Skopje, a capital da Macedônia, testemunhou o segundo protesto albanês em questão de semanas na sexta-feira passada. No dia 4 de julho, a minoria albanesa da cidade se revoltou com o veredito de um julgamento num caso de homicídio com motivação política, apelidado de “Caso Monstro”. Então, com o fim de semana, todos esperavam outra rodada de pedras voando, golpes de cassetete e latas de lixo incendiadas.

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A Macedônia é um país dividido. Pouco menos de dois terços da população são etnicamente macedônios. O segundo maior grupo étnico, com pouco mais de um quarto da população, é albanês.

Em 2001, a tensão entre os dois grupos explodiu num conflito armado entre as forças de segurança do governo e o Exército de Libertação Nacional albanês (ELN). O conflito durou pouco e terminou com o Acordo de Ohrid, um tratado de paz que remarcava os comandantes do ELN como políticos legítimos e melhorava direitos sociais e políticos garantidos aos cidadão albaneses da Macedônia.

Apesar de as hostilidades armadas terem terminado há quase 13 anos, a relação entre os grupos não é amigável até hoje. Os albaneses ainda se sentem desfavorecidos e negligenciados, e acreditam que seus direitos são aplicados de forma desigual.

E o “Caso Monstro” se tornou o motivo mais recente de protestos para os albaneses descontentes na Macedônia. No caso, sete albaneses foram julgados pelo assassinato estilo execução de cinco pessoas de etnia macedônia. A acusação enquadrou os assassinatos como atos de terrorismo islâmico, pensados para desestabilizar o país.

Em 30 de junho, o tribunal considerou seis dos sete réus culpados, sentenciando-os à prisão perpétua. O veredito enraiveceu a comunidade albanesa, que viu o julgamento como uma farsa. Comentaristas dos dois lados étnicos apontaram que as evidências contra a maioria (alguns dizem todos) dos réus não se sustentaria em nenhum tribunal.

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“O ELN não é a UDI. O ELN está com o povo.” O cartaz implica que mesmo que o partido UDI seja formado por antigos membros do ELN, ele não representa mais os albaneses, somente o ELN representa a etnia.

A comunidade albanesa ficou ainda mais enraivecida com o apoio de políticos da União Democrática pela Integração (UDI) ao veredito. O UDI se formou das cinzas do ELN e, desde 2008, tem sido uma das coalizões no comando com o partido nacionalista macedônio, o VMRO DPMNE. Muitos albaneses veem isso como traição, manifestada na negligência contínua dos interesses albaneses pelo governo. Apoiar a condenação dos seis réus do Caso Monstro marcou os políticos do partido como vendidos.

Então, no dia 4 de julho, a cidade explodiu. Milhares de pessoas marcharam a curta distância entre a mesquita no bairro central, e amplamente albanês, de Bit Pazar e o shopping center Mavrovka. Lá, o protesto foi recebido por dezenas de veículos blindados e várias fileiras de policiais da tropa de choque.

Logo teve início um confronto entre a multidão e a polícia. Gás lacrimogêneo e balas de borracha foram amplamente utilizados. Os manifestantes responderam atirando engradados de cerveja e pedaços de concreto. A polícia conseguiu que os manifestantes recuassem até os becos estreitos do bairro albanês de Skopje e cada rua foi disputada ferozmente até que os manifestantes se dispersaram pelo labirinto de ruas laterais do bairro.

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A mídia em língua macedônia e políticos do UDI e VMRO denunciaram a violência. No entanto, a liderança do UDI reconheceu que uma repetição dessa violência teria sido mais prejudicial do que fazer concessões a seus autores. Então, enquanto os manifestantes planejavam outro protesto para a semana seguinte, oficiais do UDI começaram a denunciar o julgamento e seu veredito, pedindo que os manifestantes se abstivessem de mais violência.

Enquanto isso, torcedores de futebol de etnia macedônia, conhecidos por apoiar o VMRO, planejavam um contraprotesto. O medo geral era que manifestantes macedônios e albaneses entrassem em choque nas ruas.

Então, na sexta passada, 11 de julho, o centro da cidade de Skopje estava novamente cheio de policiais e veículos blindados.

Quando as orações do almoço terminaram, milhares de homens albaneses se reuniram mais uma vez em frente à mesquita em Bit Pazar. Muitos escondiam o rosto. Quem não estava mascarado exibia uma expressão de raiva. Bandeiras vermelhas e pretas com a águia albanesa eram carregadas juntamente com faixas acusando a UDI e denunciando o Caso Monstro. Enquanto os manifestantes avançavam marchando, parecia que as coisas ficariam feias.

Depois de menos de 800 metros, a polícia e os manifestantes já estavam cara a cara. Mais precisamente, cara a escudo da tropa de choque. Os manifestantes gritavam slogans nacionalistas e pedaços de concreto começaram a voar por cima das fileiras policiais e contra o grupo da imprensa.

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Mas, diferentemente, da semana anterior, as legiões de policiais da tropa de choque permaneceram surpreendentemente calmas. Por trás da cena, oficiais corriam de um lado para o outro com extintores de incêndio; no entanto, na linha de frente, os policiais mantinham uma expressão impassível.

Então, depois de uma hora de impasse e raiva demonstrada, os manifestantes começaram a marchar de volta por onde tinham vindo, deixando apenas um punhado de adolescentes cheios de testosterona jogando seus últimos insultos contra a polícia e a imprensa. Estranhamente, o contraprotesto macedônio não deu sinal de vida.

Trinta minutos depois, ninguém poderia imaginar que Skopje estava à beira do caos.

Um controle rígido, manifestado na detenção de prisioneiros políticos, é mantido sobre a dissidência na Macedônia por uma razão importante. Essa foi a segunda ocasião este ano em que questões étnicas desencadearam ações violentas. Na primeira, em maio, macedônios destruíram propriedades muçulmanas e albanesas depois do esfaqueamento e morte de um jovem macedônio. Durante o conflito de 2001, às vezes parecia que a única solução seria a federalização, dividindo o país de forma efetiva em duas nações. Agora, enquanto as tensões aumentam novamente, os comentaristas temem que a federalização – ou pior, uma guerra – seja o resultado final.

Se isso acontecer, a repercussão pode ir além da Macedônia e se espalhar pelos Bálcãs. Se os albaneses da Macedônia formarem seu próprio país, por que os sérvios do norte do Kosovo, ou a República Sérvia, não poderiam?

Como na Macedônia, nunca houve uma solução apropriada para os países divididos que emergiram da desintegração da Iugoslávia. E assim como esta começou a se despedaçar depois de secessões aparentemente inócuas, existe o medo de que mudanças na fronteira da Macedônia desencadeiem distúrbios graves na região.

Tradução: Marina Schnoor