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Dez livros da minha biblioteca que provavelmente nunca vou ler

Há sempre qualquer coisa que devemos aproveitar.

Compro muitos livros e oferecem-me muitos livros. Todos os Natais me dão livros, no meu aniversário dão-me mais livros. Leio muitos desses livros, sim, mas não seria possível ler todos os que recebo — ainda assim uma fracção minúscula dos livros publicados todos os anos, claro. Às vezes pergunto-me quem é que lê determinados livros. Tenho alguns cá em casa há anos e nunca lhes peguei. São duas prateleiras negras que mantenho separadas das outras que guardam os livros que já li. Não quero parecer um daqueles idiotas que compra livros só para os armazenar. Alguns destes livros têm-se mudado comigo ao longo dos anos, empacotados e desempacotados uma e outra vez à espera de serem abertos. De certa forma é como se fizessem parte da minha casa, apenas de uma maneira diferente daqueles livros que já abri e sobre os quais sei alguma coisa. Se calhar até penso mais nestes livros do que naqueles que li. Deixo-vos com algumas ideias minhas sobre livros que tenho — talvez desde sempre — e que nunca li.  Already Dead, de Denis Johnson Acho que tens de estar bêbado e usar calças de fato de treino para ler Denis Johnson. Não tenho calças dessas desde os meus tempos de puto até que há uns meses fui ao Wal-Mart para arranjar umas e, quando cheguei ao parque de estacionamento com elas na mão, uma mulher gorda (com voz de quem andou a dar nas metanfetaminas) no lugar do passageiro de uma carrinha branco-sujo baixou o vidro e perguntou: “Isso é do Wal-Mart?” Depois explicou-me como tinha estado a beber com, imaginei eu, quem quer que fosse que estivesse a conduzir. Onde estaria ele agora? Ela ficou ali pasmada a olhar para mim, enquanto sorria com a boca aberta até que finalmente me desejou boa noite e subiu o vidro enquanto puxava de um cigarro. Nesse momento foi como se já tivesse lido todos os livros de Denis Johnson e, por isso, este aqui vai provavelmente ficar na prateleira até eu morrer ou mudar de casa. The Year of Magical Thinking, de Joan Didion Gostava mesmo que este fosse um livro de estratégia e resultados de torneios do ano em que a Joan Didion realmente começou a curtir Magic: The Gathering. Parece que já a estou a ver a lançar feitiços. Tenho a certeza de que este livro é sobre ela (ou alguém que ela conhece) ter uma doença terminal. Posso sempre esperar para ler isso.  Secret Rendezvous , de Kobo Abe Parece que todos os livros de Kobo Abe que já li na vida são sobre pessoas apanhadas em espaços fisicamente impossíveis a ter conversas estranhas sobre comida. O que até soa fixe, mas depois começo a ler um novo e penso “ei espera, eu já li isto”. Acho que seria altamente este livro ser sobre o Kobo Abe a conhecer/apaixonar-se por uma mulher no Second Life cujo avatar é um cavalo de vidro. Depois esgueirava-se por aí com o seu portátil, a fingir que estava a escrever outro romance quando na verdade estaria a praticar cibersexo.  The Book of Laughter and Forgetting, de Milan Kundera O Milan Kundera é o Dr. Phil dos livros para mulheres que se deitam em toalhas de seda para se masturbarem na cama sem molhar os lençóis. Tenho vergonha de ter tido uma fase na minha vida em que comprei este livro. Mesmo que em segunda mão. Acho que até curtia a cena se fosse uma série de piadas feitas sem piada nenhuma porque o narrador está sempre a fugir ao tema — que era o que me pareciam todas as cenas de sexo do único livro que li do Kundera. Mulligan Stew, de Gilbert Sorrentino Este é o livro que um puto todo “que se foda o Italo Calvino, eu sou mais durão que ele e vocês não percebem” traz para um workshop de ficção para o atirar para cima de uma mesa, com a capa virada para cima, enquanto manda uns bitaites sobre a “física da frase”. Estive para ler este livro várias vezes, mas uma maneira ou de outra, acabou sempre de volta à prateleira. Não consigo deixar de pensar que o tipo dos Deftones também tem uma cópia que nunca leu deste livro.  Phone Rings de Stephen Dixon Não tenho nada de chunga a dizer sobre o Stephen Dixon. Ele é um dos melhores a escrever sobre estar sozinho, pensar em excesso e não ter medo da morte. Posso garantir-vos sem nunca o ter lido que este livro é sobre dois tipos a falar ao telefone porque o Dixon não precisa de mais nada para fazer um livro funcionar. Acho que estou a guardar este para um dia o encontrar e pensar: “Oh, estou tão contente por ter esperado até agora para ler este livro!”  A History of the World in Ten and Half Chapters, de Julian Barnes Sempre que vejo este livro só penso nos Monty Python. Não sei se algum dia serei capaz de ler alguma coisa que um Julian escreveu.  The Pleasure of My Company, de Steve Martin Acho que comprei este livro só porque estava num alfarrabista e a minha mãe me queria oferecer alguma coisa, mas eu não conseguia encontrar nada de jeito. E, de repente, agarrei num do Steve Martin só porque sim, mesmo depois de ter jurado nunca mais ler Steve Martin por ele ter feito aquele filme em que fode com uma miúda muito mais nova. Agora, sempre que vejo o Steve Martin na televisão, não consigo parar de imaginar os tomates dele a abanar. Kornwolf, de Tristan Egolf Qualquer pessoa que leia este título vai desejar ardentemente que este livro seja uma descrição de mil páginas de um lobo a perseguir, torturar e matar todos os membros dos Korn.  Rabbit, Run, de John Updike Pensei que tinha deitado este fora. Volto já.