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A mulher que quer dar à luz um tubarão

Para o comer.

Quando não está demasiado ocupada a participar em programas de TV japoneses hiper-coloridos ou metida num escritório em Londres a pensar no futuro do futuro, as preocupações de Ai Hasegawa, de 32 anos, não são diferentes das de qualquer mulher da sua idade: o tic-tac implacável do seu relógio biológico. Outra cena que ela curte é comer animais fofos. Mas a ética ambientalista impede-a de satisfazer a sua paixão por carne de golfinho. Dividida entre a necessidade de dar à luz e a preocupação pelo destino incerto de espécies (saborosas) em vias de extinção, Ai Hasegawa decidiu matar dois coelhos de uma cajadada só: ela própria dar à luz os animais que tanto adora. Como céptico, perguntei-lhe se havia alguma hipótese de esta ideia chegar ao continente europeu, tal como robôs dançantes, óculos 3D e todas essas merdas estranhas que os japoneses têm dado ao mundo nos últimos 50 anos. VICE: Olá Ai, de onde é que veio esta ideia de dar à luz tubarões?
Ai Hasegawa: Tenho 32 anos. É uma boa idade para uma mulher pensar em dar à luz. Mas ter uma criança não é assim tão simples: temos de a fazer feliz. Não a podemos abandonar. Simplesmente, acho que querer um filho não é razão suficiente para o ter. Bem, mas já é alguma coisa.
Em breve vamos enfrentar uma crise mundial de escassez de alimentos. Como é que vamos alimentar mais humanos? Ainda assim quero dar à luz, não quero que 30 anos de menstruações dolorosas sejam em vão. E quero comer boa carne. Andar com um feto de outra espécie, isso é possível sequer?
Vai ser, num futuro próximo. O útero humano tem o tamanho ideal para um feto. Andei a falar com uma ginecologista sobre formas de o aumentar. Acho que os humanos podiam usar os seus úteros como um aquário ou incubadora. Não vai haver problemas de compatibilidade entre uma placenta humana e a de um tubarão?
A placenta vem do feto, não da mãe, o que quer dizer que não é preciso modificar o ADN humano. Asseguraram-me que existe a possibilidade de criar placentas de golfinhos ou de tubarões em humanos apenas modificando o ADN dos animais. Ainda estou a fazer pesquisa, mas os tubarões parecem ser os mais compatíveis. E como espécie, os tubarões obedecem aos meus critérios: estão em risco, têm uma longevidade idêntica à de um humano e, o mais importante, são deliciosos. Achas que haverá mais mulheres a optarem por andar com fetos de animais?
Andar com um feto de tubarão no útero significa a paragem da menstruação. Mas a medicação para isto tem efeitos secundários muito desagradáveis. Acho que o perfil ideal para concretizar esta ideia seria uma mulher rica, solteira e, acima de tudo, já na menopausa. E quais são as vantagens disto?
Não precisamos de mais humanos, já existem demasiados. E, sobretudo, é uma maneira de preservar espécies em vias de extinção. E também é uma nova forma de produzir alimentos. Porque podes comer o tubarão bebé depois de ele nascer. O que é uma cena mesmo lógica de se fazer.
Exactamente! E deixa de haver aquela culpa por comer outro animal. Também custa menos do que criar um bebé e as responsabilidades não são tantas. Acho isto menos assustador do que adoptar uma criança e depois acabar por não a conseguir amar. Qual o animal mais perigoso para esta ideia?
O elefante, pelo tamanho. Ok. E o mais fixe?
O mais simples seria o chimpanzé, porque o seu código genético é semelhante ao nosso. Mas não estou interessada em chimpanzés, porque não como macacos. Pessoalmente, adorava dar à luz um golfinho Maui. São mesmo queridos e inteligentes, podíamos comunicar facilmente. Seria altamente nadar com ele no mar. E, claro, adoro um bom naco de carne de golfinho no meu prato, mas sinto-me sempre mal por comer uma espécie em vias de extinção. Ah, pensava que querias ter um tubarão.
Também adoro tubarões. São quase tão inteligentes como os golfinhos. O meu favorito é o tubarão zebra: são arredondados e têm um focinho mesmo fofinho — é quase como um cãozinho! Não achas que as pessoas iriam ter problemas em comer carne que nasceu de uma mulher?
Não. Afinal de contas, existem animais que comem os seus próprios bebés. E nós comemos vitela, que nasce de uma vaca. Apesar de não as comermos, matamos pessoas que nasceram do útero de alguém. Não vejo o problema. Achas que estes animais vão saber melhor?
Penso que seria necessário deixá-los viver na natureza durante algum tempo para que possam ficar saborosos, tal como aqueles a que estamos habituados. Faz sentido. Eras capaz de comer um golfinho depois de o dar à luz?
Sim, depois de ele morrer. O ideal seria poder segui-lo com GPS. E depois de ele ser vendido no mercado, comprava-o e comia-o. Assim voltava a tê-lo dentro de mim uma última vez. Bem, parece que pensaste em tudo. Obrigado, Ai!