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O Guia VICE para a malta gorda

Se és gordo, a tua vida correu mais ou menos assim.

Se és gordo, a tua vida correu mais ou menos como a minha: Houve uma altura em que tiveste oito anos. Os teus pais divorciaram-se. Andaste a saltar entre escolas. Não falaste com ninguém durante semanas. Mas depois, magicamente, ultrapassaste isso tudo. Como é que conseguiste? Com massinha e salsichas, sem exercício e bolachinhas. A tua viagem começou. Quando tinhas dez, o mundo começou a rir-se de ti. E por que não? Parecias um preservativo cheio de plasticina, que ganhou vida e alguns pêlos. Os teus pais enfiavam cadeados de plástico em todos os armários com comida, mas tu destruía-los facilmente com as tuas mãos massivas. Os teus amigos tornaram-se bullies e os teus professores transformaram-se em amigos. Como é que tentaste resolver a situação? Com douradinhos e puré de batata. Por isso, agora és um crescido obeso. Parabéns, fazes parte da mais rápida e crescente (LOL) demografia global. Estás também a utilizar mais recursos do que o necessário, contribuindo desproporcionalmente para o aquecimento global, ao expelir mais gases do que o gado e, indirectamente, a assassinar milhões de crianças esfomeadas nos países de terceiro mundo por esse planeta fora. Aplaude-te a ti mesmo. Mas, como bem sabem todos os comentadores de programas da tarde, a vida não é sempre uma pêra doce. Na verdade, é bastante merdosa. Assim, para todos aqueles que, como eu, são orgulhosamente gordos do primeiro mundo, aqui vão algumas pérolas de conselhos para os ajudar a passar as suas vidas significativamente encurtadas. Barba  / Maquilhagem
Quando és criança, não é fácil disfarçar que o teu pescoço está colado ao teu queixo. Contudo, a maturidade hormonal oferece-te uma saída fácil para isso. O crescimento da barba cuidadosamente acompanhado (uma barba a sério, não estamos aqui a falar daqueles tufos parvos) cria não só a ilusão da existência de um queixo, mas empresta também uma sensação de masculinidade que resulta numa cara inchada que, francamente, mais se encaixa numa grávida alcoólica. Senhoras, estão tristes por não poderem ter tanta barba como estes manos rechonchudos? Podem atingir um feito semelhante se utilizarem sombras subtis de blush e base para desenhar um queixo naquele pedaço de carne que vai do peito aos lábios. Amor
Se acreditas na televisão americana, então sabes que as pessoas gordas — tal como os pretos — procuram envolver-se romanticamente entre si. Obviamente, este não é o caso. Lá porque és gordo, não quer dizer que preferes malta gorda: és gordo, não és um perseguidor de gordos. A malta gorda curte o mesmo tipo de pessoas que toda a gente: o Ryan Gosling e a Nadezhda Tolokonnikova, só temos é menos hipóteses de alguma vez dormirmos com elas. Mas os gordos têm tendência para acasalar com outros gordos e depois elogiamo-nos um ao outro, sentimo-nos bem connosco próprios e o mundo torna-se num sítio melhor.

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Sacar gajas/os
Até podes ser giro. Foda-se, até podes ter o aspecto do David-JFK-George-Clooney-Beckam, mas nunca ninguém irá perceber isso, porque a tua cara está escondida por trás de dois metros de carne. As pessoas normais não vão querer curtir com um prato cheio de salsichas. Mas, esperançosamente, tens prestado atenção aos insultos hilariantes que a malta te anda a mandar há carradas de tempo, até porque vais precisar de ser engraçado. E encantador. Agora a sério, tens de ser duplamente mais charmoso do que o Hugh Grant, porque ele é mesmo um magricelas. Mas tens de perceber que, assim, vais ter a oportunidade de foder fora da tua zona de conforto. Tanto faz, podes fazê-lo da maneira como quiseres. O que, admitamos, são óptimas notícias. Em alternativa, se és gay, a tua sorte duplica. Lésbicas magrinhas e boazudas que, num planeta heterossexual normal, poderiam estar a foder o Jared Leto, ADORAM gajas gordas. E se és um gay gordo? Bem, as coisas não poderiam ser mais fáceis. Entra em qualquer bar bear e prepara-te para perceberes que todos os anos em que te sentiste pouco atraente desapareceram num mar de esporra. Escadas
Como pessoa grande que és, muita da tua vida é passada a tentar evitar o suor ou a falta de ar. Tristemente, vais desistir desta ambição várias vezes por dia: sempre que deres com um vão de escadas. A menos que vivas no país das maravilhas dos elevadores cheios de ar condicionado (os frigoríficos são o céu para um gajo gordo), vais ter de lidar com escadas QUASE CONSTANTEMENTE. Casas de banho, quartos, varandas, miradouros — todas estas coisas madrastas são no andar de cima e, pela altura que lá chegares, vais sentir-te a cheirar tão mal que os paramédicos, provavelmente, recusar-se-ão a tratar o ataque cardíaco que está a acontecer por trás das tuas costelas gordas. Mais, a temperatura da tua zona genital sobe cerca de 15 graus em 60 segundos. Merda de escadas. Perder a pila / Não ter o período
É conhecimento comum para qualquer homem corpulento que dois metros de carne à volta do teu corpo não é o sonho para conseguires perceber o comprimento da tua pila. Sim, a tua pila parece minúscula. MAS NÃO É. JURO, É DO MESMO TAMANHO DA DE TODA A GENTE. Só parece mais pequenina… Bem, tentar explicar isso à gaja que acabaste de sacar, que está a começar a questionar-se sobre o quão excitada realmente está, ao mesmo tempo em que entra no abismo do teu abcesso. É melhor tentar esconder o que se está a passar lá em baixo, desligar as luzes e começar a empreitada. Ah, e não tires a tua camisola antes do processo estar iniciado. Não sabes se elas já estão numa disso. Se és gaja e engordaste fortemente durante um determinado período da tua vida, é provável que já tenhas parado de sangrar da tua vagina mensalmente. Até pode ser conveniente, mas, em último caso, isso é sintomático da merda que está debaixo da tua superfície corporal: deixaste de ovular, o risco de te tornares infértil aumentou e paraste de produzir todas as hormonas que te ajudam a evitar o crescimento excessivo de pêlos (o que, a meu ver, é fixe para o problema do duplo queixo). Isto tem um efeito similar na líbido do teu parceiro, como a síndrome dos tomates encolhidos. Vai ao médico, digo eu. Ele dar-te-á uns comprimidos e dir-te-á para perderes algum peso. Fazer crowdsurf em concertos
Não o faças. Nem é por ti. É como quando malta caucasiana cai de pára-quedas no Notting Hill Carnival. As pessoas querem que falhes. Heróis
Na cultura dos gordos, tens muita gente a quem admirar. Homens e mulheres gordos que trilharam o seu caminho por ti e que estão entre os seres humanos mais amados de sempre. Tens uma herança de calor, alegria e carinho para emular: Rick Ross, Rosie O'Donnell, John Belushi, Nina Simone, Pai Natal, Philip Seymour Hoffman, Henry VIII, Beth Ditto, Buda, Oprah, Matt Lucas, Fernando Mendes, Alfred Hitchcock. Sendo “o gordinho”, terás sempre de lidar com esta pressão e com todas as recompensas de ser “o mais amado”. Lembra-te apenas: tens sobre os ombros o peso de gigantes (literalmente). Cadeiras pequenas
Percebe os teus limites. Procura por cadeiras sólidas, sem braços. Se não consegues arranjar dois lugares nas churrascadas ou nos encontros de família, opta pelo chão. Não é possível partir o chão. Encara os teus limites. Vais acabar lá de qualquer modo, quando esmagares a cadeira de plástico do jardim do anfitrião. A sério, quem é o designer dessas merdas? É que são piores do que inúteis, o seu design é um exemplo claro de preconceito na indústria. (A sério, existem algumas banheiras nas quais nem me consigo enfiar — bem sei que fazem isso de propósito.) Roupas difíceis de enfiar
Só aos 22 anos é que consegui encontrar um par de calças que me servisse propriamente, mas agora já não me servem porque o meu peso flutua com a maré. Simplesmente, as roupas giras não foram feitas para pessoas de tamanho amplo. Podes enfiar as culpas no otário que desenha as roupas, mas, presumivelmente, os gordos poderiam desenhar as suas próprias roupas, se o quisessem. Não, o problema é que os humanos não engordam num padrão uniforme. Cada um é gordo à sua maneira. Barriguinhas, coxas, tornozelos, braços, duplos queixos, traseiros gordos, rabos gordos, costas gordas: que designer genial pode contar com tantas variáveis? Essencialmente, tens duas escolhas no que diz respeito a roupa: largueirona ou apertadinha. Escolhe uma delas e vive com isso. Ah, e usa carradas de calções, obviamente. Férias
Os lugares dos aviões são lugares insanamente pequenos. Se calhar, terás de solicitar uma extensão do cinto de segurança. Dificilmente, conseguirás enfiar-te dentro da casa de banho e, enquanto andas, as pessoas olham para ti com ar de quem preferia sentar-se ao lado de um terrorista. Mais, estar confinado a um espaço durante um período prolongado de tempo traz ao de cima o lado otário das pessoas. Um amigo meu gordinho já não entra mais em aviões, porque em DUAS ocasiões a pessoa que se sentou ao lado dele pediu à hospedeira (à frente dele) para mudar de lugar. Verão
Não é só o desfile da carne sublime das outras pessoas que é inimigo. Se morares numa zona com um clima temperado, em que os efeitos do Verão se sentem bem no teu corpo, a sensação é quase tão agradável como ter camadas de bacon cru na tua pele, a rebolar pela areia. A quantidade de suor é simplesmente injusta. Todas as tuas roupas brancas passarão a ter manchas amareladas, de todas as toxinas que o teu corpo está constantemente a segregar, numa tentativa de baixar a tua temperatura corporal, e vai parecer que mijaste nas tuas partes mais sensuais. A tua cama vai parecer a Indonésia depois do tsunami. Vais precisar de beber várias garrafas de água por hora durante o Verão, ou então vais secar e morrer. Para nós, uma pequena mudança de autocarro num dia quente de Verão é o equivalente a uma pessoa magrinha vestida de fato debaixo de uma lupa no Saara. Hidratar, hidratar e desidratar. (Mais, pessoas gordas em países realmente quentes é um mito, é simplesmente impossível sobreviver nestas condições. Malta de Samoa, estou a falar para vocês.) Não sejas tão sensível
Toda a gente precisa de relaxar. Até com os trolls do YouTube não vale a pena chatearmo-nos. Sente algum orgulho e ri-te de ti mesmo, porque os gordos são mesmo divertidos. Já alguma vez reparaste num a cair? Nós pouco nos parecemos com humanos e é absurdo que até usemos roupa… Mas, em última instância, a infância repleta de memórias humilhantes deixou-te com um chip implantado no ombro. Então, de tempos a tempos, vais encarar os magros como “Os Gajos”. Antes de começares a choramingar por aí, mostra quem tu és tirando a camisola em jardins públicos, enquanto te queixas do quão oco é toda a gente que não consegue sentir o prazer num pequeno-almoço com gordura. E nunca te esqueças… Não há problema em odiar os gordinhos
Sabes quem era magro? O Hitler. Sabes quem era gordo? O Churchill. Claramente, mandar vir com os magricelas deveria ser encorajado. Os magros não valem nada. Cai em ti, lingrinhas, ninguém gosta de pessoal tão narcisista e tão obcecado com o seu próprio “eu”. Estamos cansados de aturar as tuas merdas. Além disso, é um facto que a malta magra — secreta, aberta ou subconscientemente —, detesta todos os gordos e acha-os execráveis. Então, vão p'ro caralho: nós também vos odiamos. Por que não haveríamos de odiar-vos? Andamos a sofrer cortes na nossa auto-estima por causa de filmes, vídeos de música, publicidade, revistas e, basicamente, por tudo (e mais alguma coisa) há anos. Não destiles ódio nos magricelas que são magricelas por serem pobres. Não estás na melhor posição para participar nesse jogo. Medo da morte
A negação é básica para a sobrevivência humana. Se tivéssemos percepção de todos os perigos que nos rodeiam, nós não funcionaríamos, simplesmente. É por isso que nos enfiamos em carros, voamos em aviões e fumamos cigarradas. A certo ponto, vai chegar o momento em que alguém querido vai perceber o quão vorazmente adoras mandar um hamburgão e umas batatas fritas pela goela abaixo ao pequeno-almoço, e por isso diz gentilmente: “Sabes, às vezes, preocupo-me contigo.” O sol põe-se, as paredes da realidade caem em cima de ti e, por um momento, tens a percepção de que te estás a matar lentamente e a reduzir activamente o valor colectivo da tua humanidade. És uma desgraça e tudo está errado com o mundo. Nestes instantes, não tires os olhos do pessoal que está à tua volta. Simplesmente, olha nos olhos daqueles que amas, sorri largamente e relembra-os: “Lembras-te do Elvis? Lembras-te do Biggie Smalls? Toda a gente adorava o John Candy e ele era um tipo grande, não era?” A vida é boa, não a arruinemos com arrependimento. Contudo, se sentires necessidade de parar de lidar com a sensação ocasional que tens por trás do teu esterno, acho que finalmente podes pensar em… Perder peso
Este é ponto final para todas as tuas preocupações e o início da tua vida como anormal, para todo o sempre. Queres correr esse risco? VICE ♥ gordinhos.