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O casamento homossexual é errado

Percebo bem o que o amigo Carlos Peixoto quis dizer.

O povo é uma entidade simplória que nunca deixará de se intitular de povo, porque lhe falta a capacidade de entender as coisas como elas são, e não como o povo acha que elas deviam ser. Não será por falta de acesso à educação ou à cultura, mas apenas porque o povo não se esforça na escola nem presta atenção na ópera. As suas decisões serão sempre turvadas como os copos de tinto misturado que bebem nas tascas acompanhados de tremoços e amendoins e outros que tais, desde que de graça, enquanto vêm mais um jogo do “seu” Benfica ou mais um episódio da Casa dos Segredos, enchendo de bodega os transportes públicos e os murais de Facebook de gente com mais em que pensar. São plebeus que desdenham o trabalho e que contribuem unicamente para a taxa de desemprego, para que gente como nós, trabalhadores honestos e que entendem o que faz o mundo girar, os suportem, com impostos que nos são injustamente aplicados, mas que felizmente aprendemos a evitar. Em vez disso, vão para as ruas armar confusão e justificar os seus actos violentos e irreflectidos com a vontade e a necessidade de mudança. Ironicamente, é gente que também não vota, ou que vota nas pessoas que quatro anos antes crucificaram, ou se se sentirem rebeldes o suficiente, votam num partido de defesa dos animais ou da natureza sobre os quais nunca ouviram falar. Para nós, gente culta, é bom que assim seja. São as ovelhas os membros mais importantes do rebanho, e cabe-nos a nós, pastores, guiá-las com a nossa sabedoria e experiência. No entanto, o Pastor de todos nós não criou o universo sem um mediador do pecado. Ele existe, o pecado, para que nós, os iluminados, nos saibamos separar como o trigo do joio, reservando-nos um lugar especial para o qual nos confessamos todos os Domingos e nos benzemos antes de cada jantar. Existirão sempre agitadores do pecado, focos de fogo que queimam e ameaçam cada vez mais a realidade que tanto lutamos para preservar, com promessas vãs de liberdade, de escolha e de felicidade que não podemos permitir. Agarram nas nossas palavras e usam-nas contra nós, ainda que falemos a verdade, sem censuras. Como quando o amigo Carlos Peixoto, deputado do PSD, deixou escapar que: “se estamos a admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, então também podemos admitir, pelo mesmo princípio, casamentos entre pais e filhos, entre primos direitos e irmãos.” O povo não está preparado para uma declaração tão contundente e directa. O amigo Carlos Peixoto errou na formulação da sua frase, optando pela simplicidade e sinceridade. Esqueceu que nós, os iluminados, nos temos de servir da diplomacia, da demagogia, do enigma, para apresentar as nossas propostas, ainda que já decididas, as nossas ideias, ainda que indiscutíveis, tentando confundir o povo para que não se assuste ou, idealmente, não nos oiça. O amigo Carlos Peixoto foi imediatamente condenado, mas é o próprio povo que defende que “quem fala verdade não merece castigo”. Serve isto de chamada de atenção: o casamento homossexual é errado. Interfere, directamente, com os valores de família que defendemos e fizemos impor durante séculos. A instituição familiar depende de uma mãe e de um pai, não de dois pais ou de duas mães. A Bíblia defende que um homem se deite com uma mulher, e nada mais. A partir do momento em que nos unamos a um membro do mesmo sexo, o que nos impede que nos deitemos também com membros da nossa família, ou, arrisco, até mesmo que incorramos no pecado da bestialidade? Amigos do povo, ouvi com atenção as vozes dos iluminados, que partilham o seu saber convosco. Falando por experiência, eu mesmo sou casado e plenamente realizado com a mulher dos meus sonhos, que fica em casa a cuidar dos nossos dois filhos enquanto eu cumpro o dever enquanto homem e trago para casa o suficiente para todas as necessidades básicas da família, e ainda me deito no leito com ela uma vez por ano e cumpro os meus deveres matrimoniais. Ainda que para tal me veja forçado a imaginar o jardineiro, o qual foi prendado pelo Criador com o corpo de um verdadeiro Adónis. Mas não divaguemos.