Saúde

A bolha me representa

Com 720 gêneros e nenhum cérebro, a bolha é um ícone queer da geração “sou vadia mesmo”.
blob, the blob, physarum polycephalum, science, france, paris, fungus, organism, 720 sexes, 720 genders,
Foto por Stephanie de Sakutin/AFP via Getty Images.

Lembro a primeira vez que me senti vista pela mídia. Eu estava assistindo O Máscara no porão da casa do meu primo, e a Cameron Diaz apareceu e começou a dançar. Todo mundo no filme fica apaixonado por ela, incluindo o Máscara, que é o personagem principal de O Máscara. Com o rosto verde, ele grita pra ela. Logo depois eles estão namorando. “Quero que gritem pra mim”, pensei. “Um dia, vou ser como ela…”

Publicidade

Infelizmente, aquela foi a última vez que me identifiquei com uma mulher nas telas. Vinte e cinco anos depois e Hollywood não produziu uma personagem mulher com que dá pra se identificar. Bridget Jones? Ela é chata! Meredith Grey? Faz coisas de mais! Dei as costas pra indústria do cinema, escolhendo olhar pra dentro de mim e contemplar minha própria mortalidade, mas isso acaba agora. Hoje? Encontrei o modelo que vinha procurando todos esses anos, e o nome dela e bolha.

Ela está aqui.

Ela é queer.

Ela tem 720 gêneros e nenhum cérebro – uma ícone da geração “sou vadia mesmo”.

A bolha, também conhecida como Physarum polycephalum, é um organismo unicelular que o Zoológico de Paris começou a exibir para o público no sábado agora, segundo a Reuters informou na quarta-feira passada. Apesar de não ter cérebro (ou boca, estômago, asas nem pernas), ela pode aprender coisas novas e compartilhar esse conhecimento com outras bolhas por meio de fusão – tipo sexo, mas mais inteligente. Cientistas usam essa espécie em experimentos desde os anos 1960, segundo a Motherboard, já que ela é capaz de resolver labirintos. E eu mencionei a parte das centenas de gêneros? Ela tem aproximadamente 720 gêneros, segundo a Reuters. Resumindo: ela é uma lenda.

Você pode achar a bolha estranha, mas não acho ela esquisita. Não sou cientista nem nada, só uma humilde blogueira. Mas na minha humilde opinião, acho incrível que ela não tem boca nem estômago e ainda consegue detectar comida e digeri-la. Acho lindo que ela parece um fungo, mas se comporta como um animal. Acho importante que ela consegue se fundir com outras bolhas, formando uma bolha ligeiramente maior.

Ela pode ser apenas um mofo viscoso pra você, mas pra mim? Ela é mais que um mofo viscoso. E eu, querido leitor? Eu… sou ela.

Siga a Harron Walker no Twitter.

Matéria originalmente publicada na VICE EUA.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.