Como pessoas trabalham em áreas diferentes de sua formação

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Como pessoas trabalham em áreas diferentes de sua formação

Por mais que dê medo escolher a faculdade, nem sempre a carreira futura vai depender disso.

Uma parte significativa da pressão psicológica em épocas de Enem vem de uma pergunta bem velha e que quase todo mundo já se fez: "O que eu vou fazer da minha vida?" Do alto de toda a sabedoria do fim da adolescência, jovens precisam decidir qual carreira desejam seguir sem saber muito bem no que, de fato, consiste o trampo que escolheram. Duro, né?

Mas calma. Antes de transformar o momento da escolha do curso em um jogo de roleta-russa com o destino, vale lembrar que a graduação não é um contrato vitalício com uma profissão futura. Para cada advogado, engenheiro e médico que é feliz trabalhando com o que estudou, tem outro profissional cuja vivência na universidade serviu como trampolim para uma carreira inesperada, um ganha-pão enquanto dura a busca do seu sonho, ou uma vírgula na própria história.

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Foi o que aconteceu com a hoje publicitária Rachel Juraski. "Eu era muito nova, morava numa cidade pequena do interior, tinha tido contato com pouca coisa na vida. No ano em que prestei vestibular, terminaram a decodificação completa do DNA humano", conta ela. "Eu achava isso espetacular, comprei a ideia de virar 'cientista' e fui fazer Biologia."

O choque de realidade veio rápido: ainda no primeiro semestre, Rachel percebeu que escolhera o curso errado. Mas seguiu, fez estágio, bolsa de iniciação científica e entrou para o mestrado. "Praticamente todos os meus colegas de sala na época hoje são doutores, chefes de laboratórios. Mas eu estava muito de saco cheio e larguei mão. Nem tranquei o mestrado, só parei de ir", lembra. Então, diz ela, virou blogueira enquanto ganhava a vida como assistente de exportação.

Na época, no final dos anos 2000, a Publicidade lutava para se adaptar à influência crescente das redes sociais. Em 2008, Rachel viu no Twitter uma vaga que buscava "blogueiro que curta esportes e corrida de rua" para trabalhar em uma grande agência de publicidade. Se candidatou, foi contratada e mudou para São Paulo. "Esse mercado de Social Media estava começando no Brasil. Ninguém sabia como produzir conteúdo e falar com audiências tão bem quanto os heavy users do negócio" diz.

"Foi assim, inclusive, que muito blogueiro virou publicitário. No começo foi difícil, era um universo completamente novo, cheio de nomenclaturas que não faziam o menor sentido para mim, mas hoje faz total sentido o que aconteceu, sou muito feliz na profissão", explica Rachel.

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A escritora da literatura infantil Belise Mofeoli, por outro lado, fez faculdade para ser publicitária. Desde pequena, ela gostava das matérias de humanas, se interessava por artes e queria trabalhar com criatividade. "Só não sabia direito onde tudo se casava. Então comecei a pesquisar o que poderia fazer cada profissão. E minha irmã mais velha já cursava Publicidade e Propaganda, então acho que comecei indo no embalo dela porque nossos interesses costumavam ser bem parecidos", conta Belise.

Formada em publicidade, Belise ouviu 12 nãos antes de conseguir publicar o primeiro livro.

Quando ela se formou, no entanto, as coisas não foram como o planejado. "Nada estava estável e eu numa crise daquelas. Fui espairecer fazendo cursos livres que tivessem a ver com criação. Em um deles, de roteiro, me encontrei", diz a escritora. Ali ela percebeu que todo texto que escrevesse poderia ser criativo e emocionante. Não à toa, hoje Belise também trabalha com transmídia, ou seja, projetos de comunicação que se espalham por diversos canais.

"A literatura veio como a cereja do bolo, um sonho antigo que eu pude tocar", conta. Mas não foi fácil: o primeiro romance virou pó depois de dois anos de trabalho com um HD queimado. "Era voltado para o público adulto. Tentei reescrevê-lo, mas os detalhes encantadores haviam fugido. Então me desafiei a escrever um infantojuvenil.". Doze negativas de editoras depois, saiu 'João e Maria no Spa da Tia Sofia' – hoje, Belise também já publicou 'Ioiô' e 'O Mistério da Serpente'.

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Já Rodrigo Isaías mudou de última hora a decisão de qual curso fazer. Desde criança certo de que seguiria os passos da mãe e viraria arquiteto, na hora de se inscrever no vestibular, Rodrigo repensou a escolha. "Era uma decisão muito difícil, aí eu pensei 'o que não vivo sem?'. Eu lia muito sobre política internacional, brasileira e sobre cultura, então vi quais cursos estudaria isso e fui para a Economia, que também tinha o lado de ser bem remunerado", conta ele, que hoje é dono de um bar, um restaurante e um tabuleiro de acarajé.

"Demorei muito para me formar, quase 10 anos, e ficava na crise de não querer entrar no mercado de trabalho, não querer aquele estilo de vida, de trabalhar tanto, a minha cabeça tinha mudado, não queria ser rico, queria ser livre", conta. A solução do dilema veio por acaso. Um amigo de Brasília se mudou para São Paulo com dinheiro e disposição para abrir um bar. Como Rodrigo conhecia muita gente, foi convidado para se tornar sócio. "Eu comecei a empreender por sorte", diz ele.

Dono de bar e restaurante, Rodrigo diz que é um cozinheiro com cabeça de economista.

O primeiro empreendimento durou dois anos. "Logo depois eu abri sozinho o Bebo Sim, que já vai fazer dez anos, depois veio o Tabulêro Sim, e esse ano eu abri o Benedita, o restaurante", conta Rodrigo, que hoje diz trabalhar bem mais que os antigos colegas de curso. "A diferença é que, para mim, é a realização da minha alma. Eu não trocaria um bônus anual de dez milhões num banco de investimento pela satisfação de ver as pessoas se deliciando com meus empreendimentos, que são como filhos, minhas criações."

O caminho que seguiu, no entanto, não significa que ele se arrependeu da escolha que fez ao entrar no ensino superior: "Eu não faria um outro curso. Sou cozinheiro com cabeça de economista. Além de me ajudar com a parte empresarial, a Economia permite entender a sociedade como colmeia, como se organizada como espécie", diz Rodrigo. "Eu me sinto economista mais que tudo."

E essa é a questão: independentemente da escolha feita na hora do Enem, ela não é definitiva. Pode ser boa ou pode ser ruim, mas é apenas uma etapa na vida. Então pense bem no que vai marcar, mas não sofra demais.

Para mais matérias sobre o ENEM, acesse o Manual do Enemzeiro.