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Tecnologia

O Aparelho de US$49 que Transforma iCoisas em Máquinas de Realidade Virtual

Há algo humilhante no ato de prender um iPad ao próprio rosto, mas nada está me incomodando. Estou aqui, mas estou lá. Isto é realidade virtual.
Crédito: Metatecture

Meu corpo está no escritório da Metatecture, no andar térreo de um prédio em Toronto, mas o iPad Mini preso ao meu rosto está me teleportando ao redor da cidade e além com a clareza da tela de retina. Há algo humilhante no ato de prender um iPad ao próprio rosto, mas nada está me incomodando — nem o processo de inicialização, nem os cabos. Estou aqui, mas estou lá. Isto é realidade virtual.

O sensor de movimento funciona exatamente como deveria, mas me sinto muito mais livre noAirVR — o novo fone de ouvido portátil da Metatecture, que ajuda você a conectar seu próprio sistema de realidade virtual a seu iPad ou iPhone. A experiência se compara ao Oculus Rift, que de longe é o aparelho de realidade virtual mais popular, entre aqueles que tecnicamente ainda não estão disponíveis no mercado.

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Desde que o Facebook adquiriu o Oculus Rift, seis meses atrás, a corrida entre os gigantes da tecnologia para trazer realidade virtual às massas entrou em hiperatividade. Com novos concorrentes em jogo, como a Samsung e a Sony, as tecnologias de realidade virtual parecem prontas para se tornar algo que qualquer pessoa pode acessar do conforto da sala. Mas quem está fora da rodinha? A Apple.

É aí que entra o AirVR, o produto mais recente da Metatecture. Os fones AirVR são simples e se aproveitam da tecnologia que milhões de pessoas já possuem — iPads Mini e iPhones — para transformá-la numa espécie de console de realidade virtual que cabe no bolso.

"Tivemos essa ideia apenas seis meses atrás, e só trabalhamos nela mesmo no último mês", Steve Reaume, um dos fundadores da Metatecture, me contou durante uma visita recente ao laboratório apertado da empresa.

"Tentamos fazer uma experiência completa, com o Oculus, usando o kit em desenvolvimento, mas isso seria simplesmente impossível sem um laptop de 6 mil dólares ligado e preso às costas", disse Reaume.

A equipe lançou uma campanha no Kickstarter, que angariou reprovações e recebeu alfinetadas do público (você provavelmente já esperava isso, dado a premissa "amarre um iPad na sua cara"). A simplicidade do produto e os 49 dólares na etiqueta ajudaram a empresa a alcançar o objetivo de 20 mil dólares em uma semana.

Funciona assim: encaixe seu iPad ou iPhone na fenda do AirVR, prenda à sua cabeça e enxergue através das lentes de realidade virtual. Apps disponíveis sincronizam seu iPhone ou iPad, transmitindo as imagens de realidade virtual.

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Embora o Oculus seja um equipamento poderoso, oferecendo viagens a milhões de mundos virtuais possíveis, você precisa estar conectado a um computador e não pode simplesmente sair andando com todos os cabos junto. Com o AirVR, a experiência é semelhante, mas bem mais leve. Não há fios, não precisa de bateria adicional, nem aparelhos pesados. A única coisa que me incomoda é uma correia simples na cabeça, um equipamento ocular e 331 gramas de aparelhos eletrônicos baratos.

Claro que o AirVR ainda está na infância, mas ainda assim fui tomado por uma dose de contentamento ao testá-lo. A primeira bateria de testes que me apresentaram não mostrou nada além de um visualizador de imagens, mas foi uma experiência imersiva e, dada a portabilidade do AirVR, ele oferece uma opção prática para as fotos panorâmicas que você sempre sente vontade de tirar, mas são impossíveis de exibir.

Quando testei o AirVR, apesar de ter plena consciência de que estava apenas vendo uma foto panorâmica ligada a um iPad, tive uma sensação de vertigem ao me debruçar sobre a ponte da rua Bathurst, em Toronto — e sequer tenho medo de altura. É meio surreal estar em dois lugares ao mesmo tempo, com a sensação de "estar lá" ainda mais palpável por conta do aparelho, que é bem desobstruente.

Profundidade de campo e imersão não é o que a maioria das pessoas clamam por em seus jogos de plataforma 2D, mas depois de alguns minutos no AirVR, literalmente "no jogo", percebi que poderia perder bem mais horas ali do que em Angry Birds ou Candy Crush, sem ter mais aonde ir. Embora o sensor de movimento não pareça um fator tão importante, você acaba tendo cautela com os pulos que dá.

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Ele foi declarado legalmente cego, mas se aumentasse todo o contraste e acendesse a luz, conseguia ver o texto.

Jogos são um grande argumento para vendas também. Apesar dos caras da Metatecture não terem criado jogos específicos para o novo sistema, tudo que funciona no iOS funciona no AirVR. Mesmo jogos 2D com controles genéricos parecem diferentes quando formam uma experiência de totalidade, não só uma mera distração para se esquecer do cara roncando ao lado no ônibus. Também funciona com a AppleTV e embora, até então, apenas reflita as imagens da tela, há um claro potencial para jogos multiplayer com essa configurações.

Tentei o LostWinds, plataforma disponível desde 2011, e no AirVR, através das lentes, virou um jogo completamente novo e substancial. Não parecia mais um jogo plataforma ultrapassado de Wii, mas uma experiência imersiva totalmente nova. O jogo é um tanto esvoaçante, e o estilo da arte em 3D não perdeu em nada ali, bem na minha cara. No entanto, o jogo tem elementos de touchscreen, então não consegui fazer muita coisa além de correr e pular por alguns minutos. Mas o potencial para experiências em jogos de scroller lateral é uma enorme possibilidade.

Edgar Wong Baxter Jr., outro fundador da Metatecture, explicou por que a empresa está atrás do mercado do iOS, especificamente, em vez de desenvolver seu próprio hardware.

"Se não tivermos uma base inicial, não teremos desenvolvedores nem conteúdo, simples assim", disse Baxter. "O fone da Samsung é legal, mas eles levaram dois meses para vender 10 milhões de aparelhos Galaxy Note 3. A Apple fez isso em um dia. Francamente, há provavelmente mais aparelhos iOS em um raio de um quilômetro do que Oculus Rifts no mundo inteiro."

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A empresa disse que seus kits de softwares em desenvolvimento serão integrados a quaisquer softwares existentes, tornando quase toda tecnologia adequada ao AirVR. A resposta inicial do público tem sido um misto de emoções, mas Reaume disse que uma pequena resposta positiva já seria uma surpresa agradável.

"Recebemos um e-mail de um cara que ganhou um iPad de presente", disse Reaume. "Ele foi declarado legalmente cego, mas se aumentasse todo o contraste e acendesse a luz, conseguia ver o texto. Então ele está caminhando por aí com o iPad colado ao rosto. Usando a câmera, dá para aumentar todo o contraste, aumentar tudo, e talvez dê para ajustar as configurações a ponto de fazê-lo enxergar de novo."

Com o Kickstarter garantido, os primeiros investidores devem receber seu primeiro fone antes do Natal. Se o público responderá bem ou mal a sistemas pessoais de realidade virtual, impossível saber. O AirVR tem o benefício de custo baixíssimo, e funciona diretamente ligado a algo que você usa todo dia. No fim das contas, depende só da sua vontade andar com o rosto colado no iPad, literalmente, não só no sentido figurativo mais.

Tradução: Stephanie Fernandes