FYI.

This story is over 5 years old.

Outros

Regime de Engorda

Você sabe o que é "leblouh"? Não? Bom, prepare o seu estômago. Leblouh é uma prática tradicional na Mauritânia de alimentar mulheres à força até elas ficarem grandes e lindas, enormes e sensuais.

Você sabe o que é “leblouh”? Não? Bom, prepare o seu estômago. Leblouh é uma prática tradicional na Mauritânia de alimentar mulheres à força até elas ficarem grandes e lindas, enormes e sensuais. Embora tenhamos sido defensores de longa data do movimento “Sim às minas gordinhas”, achamos o fim da linha meter leite de camelo guéla abaixo em meninas de cinco anos até elas vomitarem e depois usar rolos de pastel para deixá-las com estrias.

Publicidade

A Mauritânia é um país pobre até para os padrões da África. Metade da população vive com menos de US$1.25 por dia. O país também é historicamente nômade, o que pode explicar o motivo de certos mauritanos seguirem a tradição da África Ocidental de preferir formas “pesadas” ao ponto de causar náuseas. Quando a melhor parte do seu dia consiste em andar pelo deserto, o que pode ser mais atraente que uma pessoa visivelmente rica o suficiente para sentar em um mesmo lugar por meses a fio? É basicamente a mesma lógica por trás da fixação de homens ocidentais por físicos que só podem ser alcançados através de uma rígida dieta de cocaína e academia. As conotações voluptuosas das gordelícias estão tão impregnadas na cultura mauritana que antigos poetas regularmente se referiam às tebtath (estrias) de suas amadas como “as jóias de minha dama”.

Muitas das mulheres mauritanas mais velhas ainda acreditam que ser gorda é a única maneira de arrumar um marido decente, e são defensoras de peso na luta para manter a tradição do leblouh viva. Em um estudo conduzido em 2007 pela Social Solidarity Association, 70% dos mauritanos com mais de quarenta anos de idade acharam que o leblouh é necessário para o casamento. Veja bem, não só “útil”, mas necessário. Mas se esses números já são ruins, saiba que tem ficado cada vez pior.

A Mauritânia estava fazendo uma boa campanha de saúde contra a prática do leblouh até agosto de 2008, quando um golpe militar permitiu que o general Mohamed Ould Abdelaziz tomasse o poder do presidente eleito Sidi Ould Cheikh Abdallahi. O general e sua cúpula são fortes no que eles chamam de “o retorno aos valores tradicionais” e ao que nós denominaríamos “o retorno dos horríveis acampamentos infantis de alimentação forçada que os mauritanos ironicamente chamam de 'Fazendas de Engorda'”. Nessas fazendas, meninas são forçadas a comer até cagarem, e depois que vomitam todo o leite de camelo (é sério), milho, ovos e manteiga sobre suas roupas e chão, os “engordadores” (como os funcionários das fazendas são conhecidos) as fazem comer tudo. O próprio vômito.

Se isso não é suficiente para te dar nos nervos, outra tática popular do leblouh inclui massagear as coxas das jovens meninas para deixar os tecidos mais flácidos, tornando-as mais gordas mais rapidamente, e a zayer, a prática de colocar pedaços de madeira em ambos os lados dos dedões para esmagá-los quando as garotas dizem não aguentar mais.

A Associação de Mulheres Chefes de Família teve um papel importante na conscientização do público para o horror do leblouh, mas teme que a nova junta militar – no seu desejo de trazer os homens e mulheres da Mauritânia de volta aos seus papeis tradicionais – esteja promovendo um ambiente amigável às fazendas de engorda. Como Fatimata M'baye disse ao jornal The Guardian recentemente, “Eu nunca consegui trazer um caso em defesa de uma criança que foi alimentada à força. Os políticos tem medo de questionar suas próprias tradições”.

Apesar da inclinação do novo governo em fazer vista grossa para o leblouh, existe um grande número de jovens que vivem em centros urbanos que não concordam com a prática. A maioria das fazendas fica em áreas rurais, onde é mais comum as mães praticarem o leblouh com suas filhas. Centenas de pacientes chegam aos hospitais da Mauritânia a cada semana com problemas – desde doenças cardíacas à aterosclerose. Ver pacientes chegarem em macas nos hospitais (assim como ter acesso à médicos profissionais e pessoas fora da família) poderia explicar a preponderância muito mais baixa de obesidade nas áreas urbanas da Mauritânia. Também pode ser a única maneira para grupos como a AMCF de tirar da cabeça de seus compatriotas a crença de que o melhor caminho para o coração de um homem é através do estômago de uma menina de cinco anos.