No primeiro capítulo de O Livro dos Abraços, Eduardo Galeano fala de um homem que subiu aos céus e voltou pra dar o recado. Ele diz. "Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas."AINDA não temos informações precisas se Galeano subiu, desceu ou simplesmente deixou de existir. O que se sabe é que morreu na manhã desta segunda (13), em Montevidéu, aos 74 anos. Internado desde a última sexta-feira, o escritor sofria com a volta de um câncer no pulmão que fora tratado em 2007.Historiador, escritor, ensaísta, ficcionista e jornalista, é um dos maiores pensadores da marxismo latino-americano do século XX. Atuou contra a ditadura uruguaia, foi preso, exilou-se na Argentina, passou por mais um regime extremista e se mudou para a Espanha até 1985. Com mais de 40 obras no currículo, o escritor é lembrado por livros importantes como "As Veias Abertas da América Latina" (se não leu tá vacilando) e a trilogia "Memória de Fogo".
Jogador inapto, era torcedor do Nacional do Uruguai que via beleza nos gols do Peñarol. Em O Futebol ao Sol e à Sombra apresenta uma de suas facetas mais leves e despretensiosas e marca vários golaços com texto curtos e inspiradores. Galeano, como um amante das chuteiras com prego, define assim o momento em que a bola estufa as redes: "O gol é o orgasmo do futebol. E, como o orgasmo, o gol é cada vez menos frequente na vida moderna".
Excelente observador, Galeano misturava a ficção com realidade, acrescentava fatos históricos e políticos de seu tempo e fazia uma das mais raras literaturas de língua espanhola. No mesmo O Livros dos Abraços, Galeano fala da morte. "Nem dez pessoas iam aos últimos recitais do poeta espanhol Blas de Otero. Mas quando Blas de Otero morreu, muitos milhares de pessoas foram à homenagem fúnebre feita numa arena de touros em Madri. Ele não ficou sabendo".
Neste momento milhares de pessoas se preparam para seu enterro ou gastam os teclados escrevendo sobre sua vida e suas vitórias. Eduardo Galeano não ficará sabendo.
