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Ilha Encouraçado – A Metrópole Apodrecida Do Japão

Antiga mina de carvão de propriedade da Mitsubishi Motors, a ilha Hashima já foi o lugar mais populoso da Terra.

Geralmente a única coisa que aterrissava na ilha Hashima (ou somente Hashima, pois o sufixo -shima significa "ilha" em japonês) quando fiz essa matéria eram os cocôs das gaivotas de passagem por ali. Mais ou menos uma hora de distância do porto de Nagasaki, a ilha abandonada se desfaz silenciosamente. Antiga mina de carvão de propriedade da Mitsubishi Motors, a ilha já foi o lugar mais populoso da Terra — espremia mais de 13 mil pessoas em cada quilômetro quadrado em seus altos prédios residenciais. Ela operou de 1887 até 1974, até que a indústria de carvão entrou em declínio e a mina fechou para sempre. Sem trabalho e nenhuma outra razão para ficar nesse minipesadelo urbano, praticamente toda a população voltou para à ilha principal da noite para o dia, deixando a maioria de seus pertences para trás.

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Até 1999 era ilegal chegar perto do lugar por motivos de segurança, já que esta tudo abandonado. O governo japonês também não quer chamar atenção para esse testemunho das dificuldades da revolução industrial pós-guerra do país.

A punição por ser pego visitando Hashima era 30 dias de cadeia seguidos de deportação imediata. Mas desembarquei na ilha de Hashima recentemente com alguns amigos depois de levantar antes do sol nascer e fazer um acordo secreto com um pescador local.

No porto internacional de Nagasaki é mais fácil encontrar navios de cruzeiro da terceira idade e grandes petroleiros do que pescadores banguelas que queiram desobedecer a lei por alguns ienes extras, então pegamos uma balsa até a ainda habitada ilha de Takashima, a mais próxima de Hashima. Depois de perguntar pela cidade — e sermos educadamente recusados por cada japonês que abirdamos — finalmente encontramos nosso homem. As regras de polidez no Japão ditam que você nunca pode dizer diretamente o que quer, então, quando já estávamos no barco, ainda não tínhamos certeza se iríamos por os pés em Hashima,só combinamos que o pescador nos levaria bem próximo para vê-la.

Despontando no horizonte, o paredão marítimo artificial anguloso dá à ilha um formato de navio de batalha, daí seu nome japonês na mitologia popular, “Gunkanjima” — Ilha Encouraçado.

Conforme nos aproximávamos, a conversa com o pescador continuava lenta,só quando estávamos finalmente colocando os pés na rampa de acesso que ele finalmente concordou em nos dar algumas horas para explorar o lugar antes de voltar para nos pegar.

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Em algumas áreas, fachadas inteiras dos prédios desmoronaram, expondo os apartamentos com seus aparelhos de TV dos anos 70 quebrados. É difícil avaliar exatamente como era morar aqui, mas com a completa falta de áreas ao ar livre e os muros marítimos parecidos com o de uma prisão, não consigo imaginar que tenha sido outra coisa além de claustrofóbico e desconfortável, algo como viver numa fazenda de formigas.

Artefatos pessoais se espalhavam por toda parte:sapatos velhos, vasilhames de xampu, jornais e até pôsteres deixados nas paredes dos quartos de adolescentes. Essas eram as provas mais vívidas de que pessoas tinham um dia vivido ali.

Exploramos as salas de aula vazias da grande escola da ilha. As carcaças enferrujadas das carteiras e cadeiras ainda estavam enfileiradas em frente aos quadros negros com as marcas desbotadas da última aula que aconteceu ali 30 anos atrás.

Do ginásio no último andar olhamos para o auditório principal, cujo teto havia despencado muito tempo atrás. A estrutura era claramente insegura, estávamos andado sobre as grandes lajes que haviam caído anteriormente do teto acima de nós.

Aproximadamente no nono andar de um bloco de apartamentos, entrei numa sala para admirar a vista do mar pela janela. O tradicional tatame de tecido sob os meus pés, desacostumado ao contato humano, cedeu, fazendo um tremendo som de algo rasgando na estrutura do edifício. Eu cai…

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…cerca de um metro, mas foi o suficiente para fazer a gente dar o fora dali e ter mais cuidado com onde pisávamos.

Com somente 1,2 km quadrados, a ilha é pequena, mas não se pode perceber isso da perspectiva deformada dos prédios altos. Para termos uma visão melhor, escalamos a precária torre de vigia central com seus antigos caminhos de acesso quase totalmente bloqueados.

Nunca passou pela nossa cabeça que o pescador pudesse não voltar. Estávamos preocupados porque só tínhamos duas horas na ilha, um quadro arbitrário que meu amigo se deu conta no momento em que ficamos empolgados ao ver a luz verde do nosso transporte. Havia coisa lá o suficiente para nos manter ocupados o dia todo.

E então, dois dias depois que essa matéria foi escrita, o governo reabriu a ilha.