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Tecnologia

Flanando no FISL

Fui ao Fórum Internacional de Software Livre em Porto Alegre para aprender mais sobre softwares livres, mas não deu muito certo.

Durante quatro dias, Porto Alegre foi o palco central do encontro de diversos espécimes da fauna digital. No centro de eventos da Pucrs, o 13º FISL — Fórum Internacional de Software Livre — reuniu cerca de 8 mil pessoas e criaturas que habitam os computadores do mundo. Circulavam pela área nerds clássicos, alguns seres sebosos (devido à falta de banho), hackers de alta periculosidade (digitalmente falando), um índio twitteiro, dragões gigantes e carinhas com chapéus estranhos. No local também havia mulheres.

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Com estandes sobre qualquer coisa que envolvesse informática, palestras e cursos técnicos de curta duração, mas com grande necessidade de embasamento em robótica, computação e outros mecanismos complexos, o Fisl prospectou o futuro de todos os tipos de softwares que você imagina que poderão existir no mundo mesmo sem entender os códigos binários e algoritmos dos sistemas de informação. Lá, busquei me informar um pouco mais sobre um mundo até então totalmente desconhecido para mim. Por isso, perguntei primeiro para quem entende mesmo do assunto: Leandro Chemale, um dos fundadores do Partido Pirata do Brasil.

VICE: Você pode simplificar para mim o que é um software livre?
Leandro: É muito simples, cara. O software livre é um software que pode ser usado, copiado, dissecado, estudado, modificado, destruído e passado de graça para qualquer pessoa sem nenhuma restrição. É como se fosse uma receita de um bolo, por exemplo. Você pode ir lá, buscar essa receita, copiar, mudar, fazer qualquer merda que você quiser.

Entendo…

Foi conversando com um transeunte que passeava pelo Fisl que consegui entender melhor a seriedade do evento. Tiago Sehen, um programador do Espírito Santo, me explicou o que realmente significa a liberdade dos softwares.

Como se define um software livre?
Tiago: Depende do tipo da licença.

Licença? Quantas licenças são?
Tiago: Tem a do tipo GPL e do tipo BSD…

Como é a GPL?
Tiago: Então, a GPL é feita por quatro tipos de liberdade. Você tem que ter a liberdade de executar o programa, de estudar como ele funciona, ter acesso ao código-fonte, de poder copiar, e aperfeiçoar, desde que você também libere para os outros usuários, né?

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Acho que sim.
Tiago: É um software livre se os usuários têm essas liberdades, saca?

Compreendido o lugar onde estava, fiquei pronto para interagir melhor com o pessoal acostumado a este meio. E como não poderia ser diferente de um congresso sobre softwares e agregados, o público do Fisl mantinha mais contato com a tela do computador do que com qualquer outra coisa presente no evento. Mesmo se uma pessoa estivesse sendo devorada por um dragão gigante.

Mas, se você acha que os únicos que podem discutir sobre a ciência computacional são gordinhos espinhentos que passam 25 horas por dia na frente do PC, você está muito enganado.

Circulando pelo evento me deparei com Anápuáka Muniz, da tribo Tupinambá, uma espécie de líder dos indígenas em termos de acessibilidade tecnológica para os primeiros habitantes do país. Na sua palestra, o indígena fez questão de criticar, e bastante, o modo como as crianças são educadas nas escolas. E aproveitou para dar uma cutucada na FUNAI, órgão que, segundo ele, não passa de uma lenda para eles.

Caminhando mais uma vez pelo FISL encontrei um senhorzinho muito simpático que usava um chapéu de pinguim. Depois de conversar, descobri que ele chamava Jon “Maddog” Hall e trabalhava na Linux. Mas foi só pesquisando na internet que vi quem realmente era o Maddog. Apesar do apelido, ele é um dos maiores gênios da informática e é um cara muito simpático e atencioso. No mesmo estande em que encontrei o Cachorro Louco dos Teclados (de computador), tive uma conversa esclarecedora com o estudante de ciências da computação Fernando Loss.

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Oi, cara, sabe me dizer onde eu encontro um software livre?
Fernando: [risos] Tá todo mundo aqui por isso.

É, na verdade eu quero saber algum programa que se encaixe no perfil de ‘livre’?
Ah, você quer saber que programas são softwares livre?

Isso.
Pô, cara, isso é fácil.

Tá, mas eu quero saber.
O Firefox é um software livre. O Amule, que é tipo um Emule, também é. Pesquisa cara.

Beleza.

Depois minha mente se emaranhoui tentando acompanhar um curso rápido de engenharia da computação. Entrei na sala e não entendia nada do que estava acontecendo. Várias pessoas estavam sentadas em duplas na frente de computadores. Eles liam um manual com facilidade e baixavam a cabeça para construir uma pequena máquina. Tentei pedir uma explicação para o professor responsável sobre o que era aquilo

O que especificamente é isso?
Mateus Bayen: Bom, vocês têm que seguir as instruções para montar este arduíno que nós vamos tentar ligar a um computador hospedeiro mais tarde.

OK. Mas, o que é um arduíno?
Ah, o arduíno é essa plaquinha aqui (mostra o aparato). É uma plataforma de prototipagem de hardware livre.

Mas aqui não é um evento de software?
Sim, mas nosso curso é de hardware.

Tá. E para que serve esse arduíno?
Para um monte de coisas. Você consegue fazer diferentes paradas envolvendo circuitos e programação de um arduíno. Depende do que você quer e do que você tem. Dá pra controlar sua casa por um celular com um sistema criado com um arduíno mega, por exemplo.

Como mencionei anteriormente, o ambiente não estava sobrecarregado de barbados que só queriam saber de construir máquinas e compartilhar arquivos, o FISL também teve a presença de mulheres. Em minoria considerável, elas desfilaram pela feira com status de musas cibernéticas. A presença de uma moça era seguida por olhos que pareciam estar vendo os hentais japoneses que acompanham usuários de PCs nas madrugadas de RPG Online. No estande da Red Hat, o número de interessados era expressamente maior do que nos outros. Fui ver o que havia lá de tão especial. Além de um mainframe, aqueles computadores gigantes e quadradões, do tamanho de armários, que apenas grandes empresas usam, o estande contava com a expositora mais gata do evento. O arquiteto de soluções da Red Hat, Maurício Leal, me garantiu que o público ia lá por causa do megacomputador. Fiquei na dúvida.

Depois de passar alguns dias naquele ambiente, a minha conclusão é que o FISL é um lugar de gente bacana. Fui para lá sem saber o que esperar, e não aprendi quase nada, mas para minha felicidade saí com vários brindes. Ao todo, ganhei oito adesivos bem legais, um limpador de teclado, três canetas, um pendrive, um bloco para anotar, uma pasta para guardar folhas, um cubo mágico e inúmeros cafés e chás gratuitos que eram oferecidos aos participantes. Por falar nisso, as maquininhas de café eram mais disputadas pelos participantes do que qualquer computador. Esse pessoal gosta mesmo de gratuidade.