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Música

Canções que salvam vidas: Tiago Guillul

Guillul apresenta 'True Believer' e apetece-nos logo agradecer a algo pela dádiva. A sério.

Está a chover que se desunha. Está um calor infernal. É sexta-feira e estás em pulgas para a rambóia logo à noite e para fritares a molécula. Por outro lado, é sexta-feira, estás em pulgas para a rambóia logo à noite e para fritares a molécula, mas não tens guito. Não te apetece ir trabalhar. Não te apetece estudar. Vais é dar uma volta pela cidade. Espera, está a chover. Pronto, vais ver o mar, que está um calor diabólico. Alto, que isto está cheio de turistas e não dá para ir a lado nenhum. Nunca mais chega a Primavera! Primavera é que não, que é só alergias.

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Um gajo nunca está contente. Se não é do cu é das calças. O que vale é que, como toda a gente sabe, há canções que salvam vidas (os Smiths cravaram-no a letras de ouro no cancioneiro pop para toda a eternidade). Semanalmente, e para que a tua vida ganhe um novo sentido e encontres a salvação possível, deixamos por aqui um desses bocadinhos de lírica e melodia (ou ruído e grunhidos selvagens, conforme a disposição) que têm a capacidade de em pouco mais de três minutos te salvarem, se não a vida, pelo menos o dia.

Fotografia da autoria de Rute Cavaco.

E, provavelmente, nunca a palavra salvação foi tão bem empregue. Tiago Guillul está de regresso aos discos. Seis anos depois de "V", o mentor da FlorCaveira - "Religião e Panque Roque desde 1999" - e pastor do seu rebanho Baptista, prepara-se para lançar "Bairro Janeiro".

"Será a 30 de Abril, numa maratona musical na loja de discos Flur. Das 12h00 às 20h00, com cerca de 20 bandas a juntarem-se", revela o músico à VICE. O cartaz completo está prometido para breve - podem manter-se a par aqui.

Para já, Guillul (Cavaco nas andanças da "vida real") apresenta o single de avanço, "True Believer" e apetece-nos logo agradecer a algo pela dádiva. A sério. Tudo o que fez com que a FlorCaveira possa hoje ser vista como a editora que a determinada altura salvou a nova música feita em Portugal, parece estar condensado nestes dois minutos e cinquenta e picos segundos. Baixa fidelidade, lírica cuidada ao pormenor, melodia pegajosa, ainda que às vezes pareça que tudo se vai desmoronar (e isso é tão bom)…"mind over matter", diriam os Dire Straits (não nos perguntem o porquê desta referência). Se em 2016 temos carradas de gente nova a fazer música que adoramos e que nos leva a querer ir ver concertos em sítios minúsculos, com suor a escorrer das paredes e putos aos saltos à nossa volta, devemo-lo à Florcaveira.

"Bairro Janeiro" é o disco número 50 e Tiago Guillul explica o que aí vem: "O Bairro Janeiro é o sítio onde cresci, na fronteira entre a Amadora e Queluz. O disco foi gravado na Igreja da Lapa pelo Luís Severo, no Verão de 2015. A ideia foi captar os sons como eles são, sem efeitos e com a acústica do salão principal a cumprir o seu papel. Também por causa disso, o "Bairro Janeiro" soa mais como os discos antigos da FlorCaveira, sem medo da baixa fidelidade. Não fazia sentido gravar canções que falam do passado, mostrando vergonha dele". O tele-disco, continua, o músico, "faz jus à política de artesanato da editora. A manufactura vai dos pratos pintados pela mãe, à máquina de escrever da filha, passando pela realização tosca do pai. A crença na religião e punk rock persiste".

Salvemo-nos!