A História Ilustrada da Evolução dos Veículos Interplanetários
Uma réplica da sonda Lunokhod. Crédito:​ Petar Milošević

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Tecnologia

A História Ilustrada da Evolução dos Veículos Interplanetários

Há quase exatos 44 anos, o rover Lunokhod 1 tornou-se o primeiro veículo interplanetário a explorar outro mundo. Veja o quão longe a gente foi desde então.

Há quase exatos quarenta quatro anos, o veículo interplanetário soviético Lunokhod 1 pousou em Mare Imbrium, popularmente conhecido como o olho direito do rosto que se vê na Lua. Foi o primeiro rover a alcançar com sucesso um mundo extraterrestre, desencadeando uma crescente série de projetos mais complexos com objetivos ainda mais ambiciosos.

Dá uma olhada na história visual dessas aventuras robóticas, desde a viagem inaugural do Lunokhod até as missões conceituais em desenvolvimento atualmente.

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O Programa Soviético Lunokhod

Você poderia esperar que o primeiro rover seria uma relíquia aeroespacial, ultrapassada pelas gerações que a sucederam, mas o Lunokhod 1 é tão sofisticado que ainda hoje ele é usado para pesquisas espaciais

Em 2010, a localização exata do veículo perdido há um tempão foi marcada pelo ​Lunar Reconnaissance Orbiter. Alguns meses depois, o astrofísico Tom Murphy emitiu um laser em direção ao veículo e descobriu que seu refletor tinha aguentado incrivelmente bem o tempo.

"Nós conseguimos cerca de dois mil fótons do Lunokhod 1 na nossa primeira tentativa", disse Murphy em um anúncio oficial da NASA sobre a redescoberta do rover. "Depois de 40 anos de silêncio, ela ainda tem muito a nos dizer."

O Lunokhod 1 está curtindo uma segunda vida ativa como parte integral dos estudos de espectro de laser do doutor Murphy, que basicamente​ testa os limites da relatividade geral. Mas sua primeira vida foi bem cheia também. Ele pousou suavemente na Lua no dia 17 de novembro de 1970 e desceu as rampas da sua nave mãe, a Luna 17, com moral.

Dali em diante, o veículo ficou os próximos onze anos dando um rolê por cerca de ​10,5 quilômetros na antiga cratera. O Lunokhod 1 fez cerca de ​20 mil fotos e conduziu cerca de 500 análises de solo durante esse tempo — um índice impressionante para o primeiro veículo interplanetário do mundo.

Embora a primeira aventura do Lunokhod 1 tenha sido finalizada no dia 4 de outubro de 1971, quando as tentativas de contatar o veículo foram definitivamente abandonadas, ele não foi o último dos Lunokhods. O Lunokhod 2 pousou na cratera Le Monnier no dia 15 de janeiro de 1973 e viajou a enorme distância de 39 quilômetros durante quatro meses, a mais longa caminhada de um veículo lunar até hoje — ainda que o veículo Opportuniy t​enha batido esse recorde recentemente em Marte.

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Apesar de o Lunokhod nunca ter chegado a base de lançamento, o programa espacial soviético realmente mandou bem na sua primeira incursão com veículos interplanetários. Obviamente, a NASA tinha que aparecer com o primeiro veículo lunar americano. E, bem, eles fizeram o trabalho deles.

Os veículos lunares da Apollo

É natural que o momento em que se andou sobre a lua tenha sido rapidamente seguido pelo momento em que se dirigiu sobre ela. Esse é o jeitinho americano. No dia 7 de agosto de 1971 a equipe do Apollo 15 estreou esses veículos lunares mais parrudos, os "Buggies da Lua", na Mare Imbrium — a mesma região onde o Lunokhod 1 estava fazendo explorações. Para ambos, americanos e soviéticos, os veículos interplanetários começaram na mesma cratera.

Os "Buggies da Lua" definiram o último estágio do programa Apollo e foram incluídos na lista de credores do Apollo 15, 16 e 17. Eles permitiram que esses três últimos estágio do programa Apollo pudessem explorar uma quantidade muito maior de áreas de pouso enquanto facilitaram o transporte de equipamento científico e amostras lunares.

Acima de tudo, os veículos lunares eram um sonho futurista. Eles são os únicos veículos planetários tripulados já construídos e nos deram uma previsão evocativa de uma civilização espacial do futuro. Toda história sobre ultrapassar fronteiras precisa de um veículo confiável e os buggies lunares da Apollo cumpriram essa tarefa. Ainda assim, os veículos lunares estavam prestes a pegar carona rumo a um novo alvo: Marte.

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O Prop-M

Assim como foram os primeiros a pousar um veículo na lua, os soviéticos também foram os primeiros pousar uma máquina em Marte, mas a série de veículos marcianos Prop-M nem chegou perto de ser tão bem sucedida quanto os veículos Lunokhod. O primeiro veículo do programa, Marte 2, teve uma chegada tensa no planeta no dia 27 de novembro de 1971 depois de os ​paraquedas do seu módulo terem falhado.

Embora a perda de investimentos tenha sido decepcionante, ​a batida resultou na chegada do primeiro objeto feito por homens a Marte, sem considerar as condições em que ele chegou. A colisão foi, posteriormente, redimida pela idêntica Marte 3, que realizou o primeiro pouso bem sucedido no dia 2 de dezembro de 1971.

Infelizmente, o rover nunca conseguiu explorar o planeta devido a falha de transmissão devastadora segundos após seu pouso. Isso marcou a última vez que o programa espacial soviético, ou o programa russo que veio a seguir, conseguiu comandar um veículo interplanetário.

O Sojourner

Passariam-se 26 anos até que outro veículo andasse pela superfície de Marte, ainda que inúmeros módulos estacionários tenha alcançado o planeta vermelho nesse meio tempo. Finalmente, em 1996, a NASA lançou a missão Mars Pathfinder, que incluia um modesto veículo chamado Sojourner. O veículo chegou a marte em 4 de julho de 1997, fazendo dos Estados Unidos o primeiro país a pousar um veículo em outro planeta.

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O Sojourner saiu do módulo com câmeras e instrumentos, mas ele não foi pensado para ser um veículo sofisticado. Pesando apenas 11,3 Kg, o Sojourner andou por cerca de cem metros antes de sua comunicação ser interrompida no dia 27 de setembro de 1997.

Os veículos marcianos da NASA que vieram a seguir eram projetos muito mais ambiciosos e acabaram levando o nível para missões interplanetárias com veículos para níveis astronômicos.

Os Veículos de Exploração em Marte

A missão de Veículos de Exploração em Marte (Mars Exploration Rover Mission - MER) lançou dois veículos ao nosso planeta irmão: MER-A, apelidado de Spirit, que pousou em Marte em 4 de janeiro de 2004, e MER-B, apelidado de Opportuniy, que pousou no lado oposto do planeta três semanas depois, no dia 25 de janeiro.

Esses veículos gêmeos estão entre os mais bem sucedidos na categoria espaçonaves uma vez que eles ultrapassaram a duração planejada para suas missões em vários anos. Ambos foram criados para dar um passeio de 92,5 dias, mas o Spirit continuou operacional como laboratório móvel até o dia 1º de maio de 2009 e como laboratório estacionário até março de 2010, quando o contato com ele foi oficialmente perdido.

A Opprtunity, uma década após o pouso, ainda está zanzando pelo Meridiani Planum de Marte. Ela já andou por ​cerca de 40 km, mais do que qualquer outro veículo interplanetário, e continua a conduzir experimentos e enviar imagens para a Terra — ​as mais recentes são da passagem de um cometa em céus marcianos. O destaque considerável que a NASA teve com o programa MER explica por que a agência elevou as apostas ainda mais com o próximo veículo, o Curiosity.

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O Curiosity

O rover Curiosity, casa do Laboratório Científico de Marte, é o ​mais caro e sofisticado veículo enviado a Marte. Ele parou dentro da cratera Gale no dia 6 de agosto de 2012 depois de uma sequência complicada e ridícula de pouso conhecida como "​os sete minutos de terror".

Nos dois anos desde sua chegada, o Curiosity já viajou por cerca de oito quilômetros e ​fez uma série de grandes descobertas. A mais notável delas a respeito da capacidade do planeta de suportar vida microbiótica durante sua pré-história. Em outubro, ele ​chegou a seu destino final no Monte Sharp e desde então começou a ​escalar a montanha.

O Yutu

O Yutu, da China, ​foi despachado na Lua pela espaçonave Chang'e 3 no dia 14 de dezembro de 2013, o que é um feito histórico em alguns níveis. Não só é a primeira missão chinesa com um veículo espacial, como também é o primeiro pouso bem sucedido na Lua que algum país conseguiu ​desde a chegada do Lunokhod 2 em 1973.

Apesar dos problemas técnicos que se seguiram e de ​uma carta póstuma sentimental, o Yutu é uma clara expressão do investimento agressivo da China no seu programa espacial. É também um sinal de que, no futuro, a NASA não será a única no jogo de veículos interplanetários.

A Índia, por exemplo, está desenvolvendo um veículo lunar chamado Chandrayaan-2, ​que foi projetado para ser lançado em 2017. A Agência Espacial Europeia também está dando duro no ​ExoMars, um rover com expectativa de pouso em ​Marte em 2018. Depois dos golaços que essas duas agências fizeram — com a ​Mission Orbiter Mars (MOM) e a ​missão Rosetta, respectivamente —, o primeiro chute delas com veículos interplanetários tem sido bem esperado.

Os avanços técnicos extraordinários dos veículos interplanetários durante os últimos 44 anos apontam para um futuro de exploração interplanetária. Certamente, como escrevi em abril desse ano, a próxima geração de veículos espaciais ​terá formas drasticamente diferentes que os padronizados laboratórios sobre rodas que vemos até hoje.

Até que humanos possam​ fincar os pés em outros planetas, os veículos interplanetários continuarão a ser nossos olhos e ouvidos em planetas distantes do nosso sistema solar e, talvez, além dele. E já que a trajetória deles rumo ao futuro deve ser ao menos tão empolgante quanto a história contada até agora, bem, será uma viagem interessante.