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Música

Ron Asheton – O Rei dos Stooges

Nós nos encontramos uma noite no porão da casa da mãe dele em Ann Arbor, Michigan, onde os Stooges se formaram em 1967, e passamos dez horas conversando.

Ron e Scott Asheton eram o núcleo dos Stooges, a banda de punk mais foda no mundo. Tendo estudado no mesmo colégio que Iggy Pop (na época, James Osterberg), os irmãos Asheton eram dois grandalhões que atraiam outros punks com seu comportamento errático e selvagem. Iggy disse o seguinte sobre os Ashetons: “Esses caras eram os porcos delinquentes mais folgados que já nasceram. Eles eram mimados pela mãe até o osso. O pai tinha morrido, então eles não tinham muita disciplina em casa”.

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Ron era o guitarrista, seu irmão Scott ficava na bateria e Dave Alexander era o baixista. E, claro, Iggy era o vocalista do Stooges. Essa era a formação original e eles lançaram dois discos incríveis, The Stooges e Funhouse, antes de se separarem pela primeira vez.

Quando David Bowie resgatou a carreira de Iggy em 1972, a banda foi refeita com James Williamson na guitarra e Ron no baixo – Dave Alexander estava incapacitado pelo álcool e morreu em 1975. Scott Asheton voltou à bateria e Scott Thurston foi acrescentado ao telado e piano elétrico. O terceiro disco deles, Raw Power, é o álbum de punk rock mais magnífico já gravado, e continua sendo a maior lição de como o rock 'n' roll dever ser tocado.

Infelizmente, Ron Asheton morreu de ataque cardíaco e foi descoberto por amigos no primeiro dia de 2009. Ele foi o melhor guitarrista que o mundo do punk já viu. Ele era um cara incrível, com um milhão de histórias para contar. Nós nos encontramos uma noite no porão da casa da mãe dele em Ann Arbor, Michigan, onde os Stooges se formaram em 1967, e passamos dez horas conversando.

O NASCIMENTO DOS STOOGES

O Iggy morava num estacionamento de trailers em Carpenter Road, no subúrbio de Ann Arbor. Os pais dele eram professores, mas a mãe se tornou dona de casa mais tarde. Sempre gostei muito dos pais dele.

A gente ia até lá quando os pais dele não estavam, quando os dois estavam dando aula. Uma vez, fomos até lá para usar o secador de roupas da área comum para secar maconha. Estávamos com uma sacola de lavanderia enorme, cheia de alguns quilos de maconha e o negócio estava rodando na secadora. Bom, a gente esqueceu aquilo lá e o pai do Iggy chegou antes da hora. “Que cheiro é esse?”, ele disse. Então saímos correndo e esprememos a bolsa de maconha pela janela do quarto do Iggy.

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Acho que o Iggy foi atraído pelo Dave Alexander e meu irmão, Scotty, porque eles eram uns punks chapados. Eles ficavam na frente a Discount Records com um monte de outros caras, fazendo nada, vendo as meninas e cuspindo em carros.

Meu irmão era meio que um brucutu e Dave foi o primeiro cara que conheci que ia para a escola bêbado. Eu não era um punk drogado ou um marginal como eles. Eu era só um cara esquisito, sabe? Fui o primeiro cara do colegial expulso por causa do cabelo comprido.

Foi Michael Erlewine quem deu o nome Iggy Pop. O nome de verdade dele é Jim Osterberg. No colégio, ele era o baterista de uma banda, os Iguanas, e eles costumavam fazer piada com ele. Michael Erlewine costumava chamá-lo de Ignacious. Depois isso foi simplificado para Iggy.

Eles colocavam o Iggy numa plataforma de bateria – ele ficava tão no alto que não conseguia ouvir a banda. O Iggy era meio que um palhaço e os Iguanas tocavam uma coisa meio surf music balada. O Iggy era um cara direito nessa época, ele não fumava, não usava drogas, não bebia e nem dirigia. Acho que ele não dirige até hoje, na verdade. Quando a gente estava no colégio, ele destruiu uns três carros. Ele não sabia dirigir mesmo.

Depois do colegial, o Iggy foi para a Universidade de Michigan, mas acabou largando depois de seis meses porque não tinha gostado. Eu acabei indo para a escola noturna, mas odiei e saí também. Aí o Iggy decidiu que ia ser um baterista de blues e que Sam Lay, da Paul Butterfield Blues Band, ia ser seu mentor. Então ele foi para Chicago e ficou na casa dele. Foi assim que a gente decidiu: "Bom, por que a gente não faz uma banda?".

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Depois que voltou para Ann Arbor, Iggy pegava o ônibus do estacionamento de trailers para nossa casa para ensaiar. Ele chegava lá umas 11 da manhã para acordar a gente. A gente levantava e fazia um pouco de chá. Depois, fumávamos uns baseados e passávamos uma hora só enrolando. Só mais tarde a gente ia ensaiar.

Eu tinha arrumado o porão, colocado umas luzes de natal enroladas das vigas. Era um porão inacabado, mas coloquei um tapete persa e acendia uns incensos, tentando fazer o lugar ficar mais confortável.

A gente precisava de dinheiro para comprar um órgão e a mãe do Iggy disse: “Eu compro o órgão se você cortar o cabelo”.

Então, o Iggy fez o que eu chamei de um “corte Raymond Burr”. Raymond Burr fazia o cara retardado naquele filme da Natalie Wood, Um Grito na Escuridão. O corte do Burr era um topetinho, quase um corte de marinheiro. Por alguma razão, o Iggy fez esse corte e usava uma calça larga branca, como um macacão.

Fizemos isso por muito tempo: o Iggy pegava o ônibus até nossa casa e a gente ensaiava. Aí minha mãe chegava, piscava as luzes e dizia: “Hora de parar”.

Então, a gente parava às cinco da tarde e o Iggy pegava o ônibus de volta para a casa dele.

Fizemos isso todos os dias por um longo tempo, mas ainda não tínhamos quem cantasse. Quando chegou a hora de tocarmos fora, no Grande Ballroom, eu disse: “Olha, vamos colocar o Dave Alexander para tocar baixo, eu fico na guitarra e meu irmão toca qualquer coisa estranha na bateria que arrumamos pra ele”.

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Essa foi a primeira vez que o Iggy não ficou incumbido de nenhum instrumento, no nosso primeiro show. E a gente tinha inventado alguns instrumentos. Pensei num liquidificador com um pouco de água e colocava um microfone embaixo dele e deixava esse ser o som. A gente tinha uma tábua de lavar roupa com microfones de contato, então o Iggy pegava uns sapatos de golfe e ficava batucando nisso. Até que fazia um som legal.

Tínhamos um tambor de óleo que meu irmão tocava. A gente usava martelos como baquetas, mas aí o tambor quebrava em dois minutos, então, isso sempre foi um problema. Também emprestei o aspirador de pó da minha mãe, que fazia um barulho de turbina. Isso fazia um som parecido com o de um tornado, furacão ou algo assim.

A primeira vez que tocamos no Grande Ballroom, o público ficou atordoado. Foi tipo: “Quê?” Houve um silêncio mortal no final. Acho que eles pensaram: “Que porra foi essa?”.

O PRIMEIRO DISCO

Lembro de como conhecemos o Danny Fields. Ele trabalhava na Elektra Records na época e veio para Detroit para assistir ao MC5. A gente abriu para eles. Depois do show, nós meio que nos infiltramos de volta no camarim e topamos com o Danny usando uma jaqueta de couro e óculos escuros. Ele olhou para a sala e disse: “Vocês gostariam de ser estrelas?”.

Danny se apresentou, puxou o Iggy de lado e explicou qual era a situação. Então, o Danny falou com Jac Holzman, o presidente da Elektra Records e disse: “Confie em mim, assine com esses caras, dou minha palavra: esse é o melhor negócio que a Elektra já fez!”.

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Então, a gente assinou com eles por $5 mil. Algumas semanas depois, Jac Holzman e seu sócio, Bill Harvey, vieram com o Danny para Ann Arbor e nós tocamos num lugar chamado Fifth Dimension. Acho que a gente tinha umas três músicas, e uma delas era “I'm sick”.

Jac perguntou: “Bom, vocês têm material suficiente para um disco, certo?” Dissemos que sim, mas não tínhamos, então tivemos que ralar e eu pensei no riff de “I Wanna Be Your Dog.”

Quando fomos para Nova York gravar o primeiro disco do Stooges, a Elektra perguntou de novo: “Vocês têm mais coisas, não?”

E a gente disse: “Claro!”

Então, a gente voltou para o hotel e bolamos “Little Doll”, “Not Right” e “Real Cool Time” em uma hora. Quando a gente terminou, o Iggy veio, ouviu as músicas e pensou nas letras. A gente ensaiou uma vez na noite seguinte, depois gravamos todas as músicas numa única tomada.

A gente nunca tinha entrado num estúdio antes, então, ligamos nossos Marshalls no volume dez. Quando começamos, John Cale, nosso produtor, disse: “Não, não é assim que se faz!” Mas a gente não conseguia tocar se não fosse no volume máximo, a gente não tocava tão bem assim. Eram acordes fortes e o único jeito que a gente sabia fazer isso era tocando bem alto.

O Cale continuava tentando nos dizer como fazer, mas a gente era um bando de moleques teimosos, então, fizemos greve. A gente largou os instrumentos no chão e fomos para uma das cabines de som para fumar haxixe. A gente disse “Foda-se”, mas ele continuava tentando falar com a gente. Ele ficava tentando explicar como era gravar um álbum. Cale disse: “Vocês não podem fazer isso com esse amplificadores enormes, não funciona assim, não podemos gravar com amplificadores ligados no dez!”

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Então nosso acordo foi: “OK, vamos colocar no nove…” E o Cale disse finalmente: “Foda-se”, e foi isso.

O PAU DO IGGY

O Iggy sempre colocava o pau para fora quando dava na telha. Isso ficou muito chato. Lembro que a gente se sentava no quarto do hotel, mesmo antes do Stooges ter assinado o contrato, e algumas garotas estavam lá com a gente, e o Iggy simplesmente tirava o pau para fora. Eu dizia: “Ah, tira isso daqui!” O Iggy levava garotas para casa depois dos shows e elas desciam a escada chorando — ele transava com elas e dizia “Dá o fora!”

Mesmo tendo um monte de namoradas, o Iggy não comeu nenhuma mina até a gente ter nossa primeira casa da banda. Acho que ele tinha 19 anos. E, só para constar, não foi só o Iggy, isso valeu para mim também.

Lembro que o Iggy ficou super empolgado. Ele voltou para casa sem a bicicleta dele. Ele estava tão feliz por ter transado que bateu a bicicleta num carro. Ele voou por cima do capô e caiu de pé, mas a bicicleta ficou destruída. Então, ele chegou em casa contando essa história de ter transado pela primeira vez.

O pau dele o colocou em encrencas algumas vezes. A gente estava tocando em algum lugar, para um público bem jovem, e um segurança mais velho trabalhava lá. O Iggy estava usando aquela calça de vinil marrom dele, estilo Jim Morrison, e sem camisa. A gente estava tocando e, totalmente por acidente, a frente da calça dele rasgou.

Então, ele saiu do palco e voltou usando uma toalha. Acho que o pinto dele estava um pouco exposto e uma das garotas do público viu. Acontece que o pai dela era policial estadual e o posto dele era naquela mesma rua. Então, ela correu até o pai e disse: “Um cara mostrou o pau pra mim!”

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A polícia deve ter ligado para o velho segurança e dito: “Não deixe ele sair até a gente chegar!”

E o velho chegou para mim e disse: “Cara, é melhor vocês tirarem seu amigo daqui – a polícia está vindo atrás dele”.

Então, fui até o camarim e falei para o Iggy se mandar. A gente ficou lá com uma das outras bandas e queríamos fumar um bagulho. Achei que aquilo não ia dar em nada, então disse: “Acende o negócio aí…”

Logo depois, chutaram a porta. Era a polícia estadual com as armas na mão, e eles estavam atrás do Iggy.

Eu não sabia o que fazer, então disse: “Ele saiu, senhor, e não sei onde ele está”, o que era verdade.

Então os policiais disseram: “Vocês estão presos até a gente achar esse cara!” Eu teria dito onde ele estava nesse momento, mas o Iggy foi pego de qualquer jeito. Ele estava escondido no porta-malas de um carro. Quando ele tentou escapar, saindo do porta-malas para entrar em outro carro, os policiais o pegaram.

O Iggy passou a noite na cadeia. Liguei para os pais dele, que pagaram a fiança no dia seguinte.

Então, o pau grande dele nem sempre funcionava a seu favor.

RAW POWER

Um dia, em 1972, recebi um telefonema do Iggy perfeito, porque ele disse: “Bom, a gente testou um monte de baixistas e bateristas e não achamos ninguém que fosse bom. Vocês não querem vir para Londres e tocar no próximo disco?"

Meu primeiro pensamento foi: “É, muito obrigado, seu cuzão!”

Fiquei puto por cinco segundos, mas, claro, eu disse: “Sim, cara. Vamos para Londres…”

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James Williamson e o Iggy estavam lá há algum tempo. Eles andavam com o T. Rex e estavam só curtindo – mas quando eu e meu irmão Scotty chegamos, a gente foi direto para o trabalho. Prefiro trabalhar à noite, então o Iggy disse: “Bom, quando vocês querem ensaiar?”

E eu disse: “A gente devia fazer como na música 'Pretty Things', da meia-noite às seis.”

Então, da meia-noite às seis da manhã, toda noite, a gente ensaiava. Tínhamos uma rotina rígida e ensaiamos pra valer. Eu gostei bastante. Era mais trabalho mesmo, mas, ocasionalmente, eu escapava para o Imperial War Museum. Eu também gostava de ir a um restaurante incrível, o Bagdad House, na Fulham Road. Conheci uma garota que trabalhava lá e que estava lá na noite em que Jimi Hendrix morreu. Ela contou várias histórias dos Stones, de como ela fechava os fundos do restaurante para eles e os Beatles – e ela começou a fazer isso para nós. Eram umas almofadas e aquelas mesas baixas, e eu me sentava lá e enchia a cara de vinho grátis. Ela sempre dizia: “Ah, deixa eu trazer outra garrafa de vinho para vocês!”

Foi muito legal.

Conheci o David Bowie no meu primeiro dia em Londres, quando fui trabalhar no Raw Power. Bowie estava bêbado, e ele estava com duas garotas jamaicanas com o mesmo corte de cabelo de canoura que ele tinha. Eles ficavam no porão, ou na sala de jantar, bebendo vinho e tal, mas eu não fiquei muito tempo com eles.

Aí o Bowie ficou meio desorientado na casa. Mostrei a porta da frente para ele, aí ele agarrou minha bunda e me beijou.

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Eu ia dar um murro nele, mas pensei: “Porra, é o David Bowie!”

Então não fiz nada, mas depois ele não quis mais falar com a gente.

Quando Bowie estava ensaiando para o show dele no Rainbow, nos fomos até lá. Vimos a banda se aprontando para seu primeiro show do Spider from Mars. A gente conseguiu assentos de primeira para o show e o lugar estava lotado. Eu e meu irmão dissemos: “A gente já viu isso, vamos pegar uma cerveja!”

Fomos até o bar e o Lou Reed estava lá. Ele estava bêbado e tinha tomado uma pílulas, então, ele nos deu uns Mandrax. No dia seguinte, recebi uma ligação me mandando ir para o escritório principal. Tony, o empresário do Bowie, me deu uma bronca por levantar no meio do show do David e sair. Ele estava furioso.

E eu disse: “Porra, cara. Todos os assentos estavam ocupados e eu não queria estar ali!”

Mas quando fomos para Londres trabalhar com o Bowie, foi uma situação muito boa. Era tudo da melhor qualidade. Ficamos numa casa de quatro andares e tínhamos um motorista. Tudo, naquela época, era de primeira qualidade.

Tenho que dizer, o Bowie ajudou o Iggy em cada passo do caminho. Não sei quantas vezes o Bowie arranjou coisas para ele. Se não fosse o Bowie, o Iggy estaria morto. A única razão para o Iggy estar fazendo música hoje é por causa do Bowie. Quer dizer, o Bowie admirava o Iggy – e, de certa forma, ele queria ser como ele.

Quando estávamos na Inglaterra, trabalhando no disco, a Guerra do Vietnã ainda estava acontecendo; eu costumava assistir às notícias todas as noites, e eles sempre diziam: “buscar e destruir”, quando estavam se referindo a alguma missão no Vietnã. Eu achava isso muito legal.

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O Iggy sempre foi rápido para pegar as coisas. Ele saía de casa, ia para o hotel e voltava com a música. James Williamson escreveu a música e o Iggy fez a letra. Basicamente, o James usou as coisas do Stooges que ensinei a ele. Eu dei o estilo Stooges a ele. Ele era mais Stones, um som mais blues, não o estilo dos Stooges. E ele não era um guitarrista melhor, mas estava um pouco à minha frente. Eu dei a porra do meu estilo para ele e levou isso além, especialmente em “Search and Destroy”.

ANDY AND NICO

Quando estávamos em Nova York, John Cale nos levou para a Factory para conhecer o Andy Warhol. A gente meio que já conhecia ele. Tínhamos tocado num prédio de apartamentos todo fodido perto do prédio do John Sinclair, um lugar chamado Castle. Foi um show com o MC5, Sam Sham, o Pharos e Bob Seeger, e depois a gente foi para uma festa no Castle.

Estávamos eu, Dave Alexader e meu irmão Scotty. A gente estava lá conversando e vimos um cara estranho, de cabelo prateado, óculos escuros e jaqueta de couro. Ele estava lá, olhando para nós, e ele tinha um gravador. A gente não sabia que ele estava gravando, então, levantamos e saímos de lá, mas ele seguiu a gente e meu irmão disse: “Espero não ter que machucar esse cara”.

A gente não sabia que era o Andy Warhol, e essa foi a primeira vez que vimos ele. Não falamos com ele, só tentamos evitá-lo, mas ele ficava seguindo a gente pelo lugar com um gravador. Mais tarde, alguém disse: “Foi bom que nenhum de vocês tenha machucado o cara ou algo assim, porque era o Andy Warhol!”

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A Factory era um monte de papel alumínio, e isso é tudo que eu lembro, papel alumínio e sujeira. Não ficamos muito tempo porque o lugar meio que nos assustou. Éramos uns moleques do Meio-Oeste e aquilo era estranho demais para nós.

Uma vez, a gente estava no Scene, um dos melhores clubes de Nova York, e o Jimi Hendrix chegou. Eu e o Iggy tomamos uma cerveja com o Jimi, que estava usando a mesmo roupa do disco “Are You Experienced?”. O Iggy estava acelerado, sabe, então, depois de tomarmos uma cerveja com o Jimi, o Iggy começou a andar com a Nico.

Eu estava sentado na nossa mesa, rindo, porque ela estava levando ele como se fosse filho dela. A Nico era bem alta, o Iggy era baixo, e eles estavam de mãos dadas, uma coisa bem melosa. Ela não deixava ele sair do lado dela.

Então, o Iggy veio até nossa mesa e disse: “A Nico vai com a gente para Ann Arbor!”

E eu disse: “Bom, legal, a gente não se importa…”

Então, a Nico acabou se mudando para o Stooge Hall e morando lá por alguns meses. No começo, a gente quase não a via. O Iggy tinha um quarto no sótão e eles ficavam lá o tempo todo. Só víamos ela na hora do ensaio. Tínhamos essa regra importante de que ninguém podia ficar na sala de ensaio com a gente, logo, ficamos meio ressentidos no começo. Mas ela fazia uns pratos de curry incríveis e os deixava em cima da mesa, com umas garrafas de vinho caro, umas quatro ou cinco garrafas de vinho – então a gente finalmente quebrou a regra e deixou ela entrar na sala de ensaio. Foi aí que começamos a beber como parte de nosso estilo de vida, por causa desse vinho incrível da Nico. Nós começamos a gostar dela. Acho que ela era meio tímida e a gente se sentia meio estranho de estar no meio das coisas deles.

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O Iggy nunca me disse que amava a Nico ou algo do tipo. Mas ele era assim, especialmente nessa época. Ele achava uma garota, a história durava uns meses e então ele mudava para outra pessoa.

Mas eu lembro que, logo depois que a Nico foi embora, o Iggy desceu as escadas e disse: “Bom, acho que tem alguma coisa errada…”

Eu sempre fui o cara que as pessoas procuram para se aconselhar sobre saúde, mesmo o David Bowie e o Elton John. Então, o Iggy desceu a escada e disse: “Acho que tem alguma coisa errada, talvez você saiba me dizer o que é”.

Aí ele tirou o pau para fora, apertou e uma gosma verde saiu dele.

Eu disse: “Cara, você pegou gonorreia”.

Foi a Nico quem passou a primeira dose de gonorreia para o Iggy.

Em 1975, Legs McNeil cofundou a Punk Magazine, que é parte do motivo pelo qual você sabe o que essa palavra significa. Ele também escreveu Mate-me Por Favor, que basicamente fez dele o Studs Terkel do punk rock. Além de trabalhar como colunista da VICE, ele continua escrevendo em seu blog pessoal, o pleasekillme.com.

Siga o cara no Twitter: @Legs__McNeil

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