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A Luta de Hostgator M. Dotcom para Recuperar seu Rosto e sua Vida

A triste história do homem que vendeu seu rosto para empresas da internet e agora está querendo recuperá-lo.

Todas as fotos cortesia de Hostgator M. Dotcom. Falamos com ele pela primeira vez em abril de 2013, quando ele ainda estava tentando bater um recorde mundial, e um mês depois, quando ele ainda estava tentando vender mais tatuagens.

O que você faz quando está quebrado, o Natal está chegando e você precisa comprar presentes para seus cinco filhos? Se você é Hostgator M. Dotcom, você faz o que qualquer pessoa faria: vende espaço de propaganda no seu rosto pelo eBay.

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Desde 2005, Dotcom vem leiloando parcelas de sua pele para empresas, adquirindo mais de 30 tatuagens no processo. No começo, ele ganhava milhares de dólares por vez abordando as empresas diretamente com a oferta, o que manteve sua família longe das ruas por um ou dois meses de cada vez. Mas o valor de locação de seu corpo foi caindo. Finalmente, por volta de 2008 (Dotcom não lembra exatamente, os remédios que ele toma agora o fazem se confundir com datas), ele chegou ao fundo do poço: US$ 75 por uma tatuagem no rosto. O que não era o suficiente para pagar nem uma conta de celular, quanto mais salvar o Natal.

Mas ele aceitou o negócio mesmo assim. "Tive de aceitar, eu não queria ir contra a política do eBay", me disse o homem de 34 anos. "Mas foi muito difícil."

Dotcom se tornou famoso como uma curiosidade da internet no meio dos anos 2000, mas, depois que a atenção da mídia foi diminuindo, a pobreza e os problemas mentais que o fizeram vender seu rosto continuaram ali. Hoje, ele está tentando dar a volta por cima, mas, para fazer isso, precisa de uma ficha limpa. E a ironia triste é que, agora que "Billy, o Outdoor", precisa de atenção mais do que nunca, ele não consegue levantar o dinheiro de que precisa para apagar as tatuagens de seu rosto e começar do zero.

Leia: Um questionário com Hostgator quando ele ainda estava tentando vender mais espaço em seu corpo

Antes de ser Hostgator Dotcom, ele era William Gibby, um garoto branco com roupas furadas que cresceu num bairro pobre de São Francisco. Seu pai, Mel, era gerente de carnes num supermercado; a mãe, Sandra, trabalhava num restaurante de fast food até que problemas cardíacos a fizeram se demitir. Depois do divórcio deles, o garoto de então 16 anos decidiu se mudar com o pai, ex-marinheiro da marinha mercante, para Anchorage, Alasca, onde ele fez supletivo e construiu uma vida para si mesmo.

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Como jovem adulto, Gibby passava muito tempo conhecendo pessoas no Yahoo! Messenger e em salas de bate-papo. Seis anos depois da mudança, em 2003, Dotcom começou a conversar com Myra Avila, uma estudante de 18 anos. Eles acabaram se casando e tiveram um filho. Alguns anos depois, ele começou a conversar com uma mulher de 34 anos chamada Kathy Lee. Precisando de um rim, ela se tornaria a motivação de sua tatuagem publicitária inicial: o desenho era para o GoldenPalace.com, um cassino online. Ele doou seu rim para Lee e usou o dinheiro da tatuagem para financiar sua recuperação.

Nessa época, seu altruísmo rendeu manchetes: em 2005, não era comum conhecer alguém pela internet, quanto mais decidir doar um de seus rins para essa pessoa. Mas Gibby parecia otimista com o sacrifício. "Imagino que, quanto mais pessoas eu puder ajudar, o mundo vai se tornar um lugar melhor para viver", ele disse ao Bloomberg News.

Gibby não foi o primeiro a se juntar à tendência do "skinvertisin". Esse título vai para o boxeador Bernard Hopkins, que usou uma tatuagem temporária para o GoldenPalace.com nas costas durante uma luta em 2001, o que teria rendido US$ 100 mil ao lutador. (O site de apostas fez desse tipo de golpe publicitário sua marca registrada no começo dos anos 2000.) Em 2003, um homem de 22 anos de Illinois chamado Jim Nelson fez uma marca permanente com o nome de uma empresa de hospedagem de sites atrás da cabeça, enquanto outro cara vendeu espaço de publicidade temporário em sua testa; em 2005, uma mulher de Utah tatuou GoldenPalace.com na testa em troca de US$ 10 mil para pagar a escola particular do filho.

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Os motivos de Gibby pareciam mais puros que os de outros skinvertisers, mas sua generosidade maníaca tinha um outro lado, me contou Avila. Ela lembra que ele entrava em depressões profundas, bebendo, traindo e sendo uma bagunça emocional. "Se perdia um dia de trabalho, ele dizia que tinha estragado tudo e que não podia mais voltar", ela afirmou. "Ele ficava totalmente empolgado com alguma coisa e depois totalmente para baixo. Eu disse que ele precisava de ajuda, mas ele disse que não havia nada de errado com ele."

O casal se separou em 2006, de acordo com Avila. Gibby não era um indigente – ele tinha um recorde de 19 vitórias e nenhuma derrota no circuito local de boxe no Alasca, além de trabalhar como caixa do correio e de uma loja de bebidas –, mas, como muitos trabalhadores, ele sempre podia usar dinheiro extra para tapar alguns buracos. Então, ele decidiu vender seu peito pela maior oferta no eBay. Apesar de dizer que empresas como a Toyota expressaram interesse na ideia, ninguém deu lances.

Aí, quando a economia nos EUA afundou no final dos anos 2000, Gibby foi demitido de seus dois empregos. Ele sabia que tinha de manter os filhos longe das ruas. "Eu não queria tatuar o rosto, mas ficava pensando 'Vou ficar velho mesmo, um dia vou ficar feio mesmo'", ele racionalizava. "Você tem de estar disposto a se sacrificar pelos seus filhos. Eu não queria que eles fossem sem-teto e tivessem de morar na rua."

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Vários sites pornô fizeram cheques para ele, segundo Gibby. Mas a luta por dinheiro não acabou aí. Afinal de contas, quem contrataria alguém com XXX tatuado na cara? A única opção então era fazer mais tatuagens. Em 2009, Avila finalmente preencheu os papéis do divórcio, de acordo com registros do tribunal. Mas os problemas de Gibby só pioraram, com seus credores o levando ao tribunal de pequenas causas logo depois. Em 2010, ele vendeu seu nome para o Hostgator.com por uma soma não revelada.

Durante tudo isso, ele estava namorando uma mulher chamada Mailyne, que ele conheceu quando os dois trabalhavam no Sam's Club. Mais tarde, eles casaram e tiveram dois filhos.

"Quando o vi pela primeira vez, pensei mal dele por causa das tatuagens. Mas você descobre que ele tem um grande coração quando o conhece melhor." – Tonya Muse, colega de trabalho de Dotcom.

Em 2012, quando Dotcom apareceu no programa 20/20 da ABC para contar sua história, seu rosto já tinha sido tatuado muitas vezes; alguns dos nomes de domínio continham palavras como "pornô" e "peido". Quando o segmento estava sendo filmado, uma empresa chamada Pawnup tinha acabado de pagar US$ 4 mil para cobrir seu antebraço. "Que tipo de empresa paga por propaganda assim?", perguntou o apresentador Nick Watt. "Isso não é tirar vantagem de pessoas em situação ruim?"

Leia: Outra entrevista com Hostgator quando ele pensou que empresas pagariam para remover suas tatuagens

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Hoje, Dotcom atribui suas decisões a um transtorno bipolar de ciclo rápido, diagnóstico que ele recebeu alguns anos atrás no Anchoragem Community Mental Health Center. Agora que está medicado, ele tem um trabalho aconselhando outras pessoas com doenças mentais e está lutando para voltar ao mercado de trabalho. "Quando o vi pela primeira vez, pensei mal dele por causa das tatuagens", lembra a colega de trabalho Tonya Muse. "Mas você descobre que ele tem um grande coração quando o conhece melhor. Você vê que ele realmente se preocupa com os filhos."

Mesmo que suas mudanças de humor tenham se equilibrado, toda vez que Dotcom se olha no espelho, ele fica deprimido. Um estudo publicado pelo Annal of Plastic Surgery em 2005 descobriu que pessoas que experimentaram trauma facial têm uma satisfação menor com a vida, além de incidências maiores de desemprego, abuso de drogas e problemas matrimoniais. Pode-se dizer que Dotcom tem um tipo de trauma facial – mesmo sendo um trauma autoinfligido no curso de vários anos. Agora, ele está trabalhando para ter seu rosto de volta.

Até agora, o centro de doenças mentais o ajudou a levantar US$ 2 mil para remover a maior parte das tatuagens nas bochechas. "Tenho cerca de 15 na cabeça e talvez oito no rosto", ele frisou. "Com maquiagem, você mal consegue vê-las, mas me sinto como uma mulher." Agora, ele usa capuz ou boné mesmo no verão e está desesperado para começar de novo.

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Para isso, em 2013 ele divulgou a venda de outras áreas de seu corpo a fim de levantar dinheiro para tirar as tatuagens do rosto; ele, no entanto, não recebeu lances, apesar de um site pornô ter pagado para remover algumas das tatuagens. No ano passado, ele começou uma campanha de financiamento coletivo, mas notou que a mídia que o tinha apresentado como show de horrores antes estava menos interessada no resultado. A atenção desapareceu, e ele só conseguiu levantar US$ 20.

Quando olha no espelho, Dotcom não consegue se reconhecer. Mas, para alguns de seus filhos, o pai tatuado é o único pai que eles conhecem.

"Minha filha soube que eu queria remover as tatuagens e disse 'Não! Eu não quero que você tire as tatuagens'", contou Dotcom. "E eu disse 'Querida, não, vai ser melhor para nós. Posso conseguir um trabalho melhor para cuidar da gente'. E ela chorou, porque isso é o que ela conhece de mim."

Agora, ele quer tirar as tatuagens e mudar seu nome para algo que não levante sobrancelhas num currículo. Para cuidar da primeira tarefa, ele começou outra campanha de financiamento coletivo. (O progresso é lento: ele só levantou US$ 5 em 24 dias.)

Mas, tecnicamente, ele já podia ter mudado seu nome. Ele falou que a empresa de hospedagem online mudou de donos e que eles não tinham um contrato de qualquer maneira.

Então por que não mudou?

"Até gosto, as pessoas dão risada quando digo meu nome", confessou. "Não ligo para o que as pessoas pensam, mas é divertido ver a reação delas."

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Doe para a campanha do Hostgator M. Dotcom aqui.

Tradução: Marina Schnoor