FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

Os Geordies Não Curtem os Lib Dems

Curtição anarquista na Inglaterra: Uua mistura típica de selva de hippies socialmente conscientes e haxixe.

Um tempinho atrás, durante uma reunião de planejamento no QG dos Liberais Democratas do Reino Unido, algum gênio sugeriu que a conferência de primavera deveria ser em North East. Aparentemente ninguém teve uma ideia melhor, então na semana passada pudemos ver os Liberais Democratas descerem até Newcastle e Gateshead — o coração de uma região que, de acordo com qualquer estatística depressiva demais pra mencionar, está em processo de ser realmente fodida pelos cortes nos gastos do governo.

Publicidade

Enquanto a mídia deu muito mais atenção do que deveria ao tédio da própria conferência, nós nos juntamos ao protesto “Clegg Off”, na esperanças que os Geordies (a galerinha local, comparados aos Guidos de Nova Jersey) tomassem as ruas, invadissem o local e arrastassem os democratas pelos cabelos — nos dando alguma coisa realmente foda para noticiar.

Na minha primeira noite em Newcastle, um bando de Geordies anarquistas me deixou dar uma volta com eles enquanto se preparavam para dar boas vindas aos liberais democratas desfraldando um enorme cartaz — ou pelo menos uma boa coleção de banners menores — de uma das muitas pontes sobre o Tyne.

Eles queriam manter seu local de encontro em segredo, então não me deixaram tirar fotos, mas posso dizer que era aquela mistura típica de selva de hippies socialmente conscientes e haxixe.

O nome desse cara era “Jack”. Ele não curtia muito ser fotografado, mas admitiu que estava nervoso com o dia seguinte.

“Detesto fazer essas ações. Gosto da sensação que vem depois, mas realmente fazer essas coisas é horrível. Você fica superempolgado e pensa que vão acontecer coisas que provavelmente não vão. Mas faço isso porque sou anarquista e acredito no que estou fazendo".

Apesar do estômago embrulhado do Jack, ninguém foi preso e os cartazes ficaram lá pendurados por uns dez minutos antes que policiais confusos os tirassem da vista de qualquer delegado dos Liberais Democratas que por acaso estivesse passando por ali na hora. Caso você não esteja conseguindo entender pela foto, o cartaz dizia: “CONDEM CAPITALISM”, o que acho que preenche os principais requisitos dos anarquistas, mestres dos trocadilhos raivosos.

Publicidade

Na cidade no dia seguinte, esse manifestante mascarado estava convencido de que alguma coisa ia acontecer. “Eu sei disso”, ele disse, “a polícia vai tentar alguma coisa e nós temos que estar preparados”.

Esse cara que não era bobo, se garantiu legalmente se disfarçando de tigre.

Os avisos dos manifestantes sobre a brutalidade policial iminente pareciam um pouco paranoicos. Estávamos mais preocupados que esse fosse o protesto mais chato de nossas vidas. Aqui está uma foto de todo mundo que tinha aparecido depois de dez minutos de marcha.

Nossas esperanças de um tumulto morriam rapidamente. Os rumores eram que havia mais cartazes que manifestantes.

Mas lá fomos nós. Um aparelho de som montado numa bicicleta começou a tocar Rage Against the Machine e bombas de fumaça foram jogadas. A atmosfera ficou animada, mas não tinha como negar o fato de que dava pra ver o começo e o fim da marcha de qualquer lugar em que você estivesse.

Os ricos odeiam esse negócio. A fumaça é como criptonita pra eles.

As bombas de fumaça deram aos policiais entediados uma boa desculpa para fingir que havia o risco de alguma coisa acontecer. Eles começaram a filmar os sete ou oito caras mais fortes do Black Bloc. Os mascarados atacaram fogo com fogo, sujeitando a polícia a uma boa e velha filmagem.

Eventualmente a polícia cansou dessa brincadeira de quem-filma-quem e tentou prender algumas pessoas.

Incluindo o nosso intrépido correspondente. Esse sou eu entregando humildemente meus documentos para um policial que declarou que eu “obviamente” estava com o Black Bloc. Dica para os repórteres: não usem preto dos pés à cabeça numa manifestação de anarquistas.

Publicidade

Felizmente, minha conversa meia-boca foi suficiente para convencer o cara da minha inocência. Refleti sobre quão ingênuo eu tinha sido antes por duvidar das qualidades Stasi da polícia de Northumbria.

Drama. Com uma pessoa presa, seguimos em frente. Os números incharam um pouco quando encontramos uma marcha de estudantes mais a frente.

Fazendo esse caminho por Newcastle e através do rio, a marcha atingiu seu destino — um comício sindical do lado de fora do centro de conferência. Numa demonstração exemplar de unidade da esquerda, os discursos terminaram e os sindicalistas começaram a se dispersar antes dos manifestantes da marcha chegarem.

Como parece ser de praxe nos protestos de hoje, as pessoas ficaram ali por um tempo, esperando alguém começar uma revolta, até ficarem cansadas de gritar palavrões para a polícia e irem embora.

Enquanto isso, alguns jovens liberais democratas apareceram. Fazendo o melhor para deixar uma impressão Cães de Aluguel, eles caminharam elegantemente de um estágio de pesquisa em um dos quartéis generais regionais do seu partido. Você pode estar vendo um trio presunçoso de puxa-sacos wannabe, mas nós vimos uma oportunidade de entrevistar as raposas políticas do amanhã. A garota da esquerda não disse nada e o cara do meio pediu pra permanecer anônimo — vamos chamá-lo de Mr. Yellow. O da direita e o Tom, um estudante de 20 anos.

VICE: Olá, jovens liberais democratas. O que vocês acham dos protestos contra vocês?
Tom: Bom… [dá de ombros] Eles têm o direito de protestar. Isso não me incomoda.

Entendo. Muitos dos manifestantes parecem estar incomodados com os Liberais Democratas formando uma coalizão com o Partido Conservador. A resposta tem sido que os Tories serão ainda piores sem os Liberais Democratas ali para mantê-los sob controle. Mas até onde essa lógica pode chegar? Quer dizer, e se os eleitores tivessem escolhido os Liberais Democratas e, digamos, o Partido Nacional Britânico (o BNP em inglês)? Vocês fariam uma coalizão com o BNP para frear seus piores excessos?
Tom: Há uma grande diferença entre o BNP e os Tories.
Mr. Yellow: Dito isso, se você tivesse feito uma escolha entre os Nacionalistas Britânicos governando sozinhos e sem um controle, e os Nacionalistas Britânicos governando com um partido de controle… E como dizer que você quer que o extremismo radical não tenha controle, ou tenha controle?
Tom: Na verdade, sim, para ser honesto, alguém ia querer que eles governassem sozinhos? Alguém precisaria se impor. Não acho que essa coalizão vai durar. Não acho que eles gostam da gente. Tenha um bom dia!

Obrigado, eu vou!

Com a participação de talvez umas 200 pessoas, seria fácil escrever que a manifestação foi irrelevante. Mas ao sair gritando e fazendo barulho num centro movimentado como o de Newcastle, a turma conseguiu pelo menos deixar uma impressão. Mais uma gotinha de água revolucionária furando a pedra da opressão, cara.

Isso é mais do que podemos dizer da irrelevância em si da própria conferência, que falhou até em debater o desmantelamento do altamente impopular Projeto de Assistência Social e de Saúde, ou seja, aquele que vai privatizar o Sistema Nacional de Saúde. Pelo menos os manifestantes se mostraram mais dinâmicos que o triunfo dos Liberais Democratas na guerra de polegares com o torpor burocrático, e na batalha pelos corações do povo, dinamismo é uma arma muito persuasiva.