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O que acontece quando você descobre que ganhou uma loot box de US$ 1 mil

Quando Luke Johnson abriu por acaso uma loot box em 'PlayerUnknown's Battlegrounds', ele não esperava achar um item raríssimo.
Imagem: Bluehole/Divulgação.

Matéria originalmente publicada no Waypoint.

Entre o trabalho, a rotina do dia a dia e cuidar de um filho de sete meses, Luke Johnson só tem duas noites por semana para jogar videogame. Mesmo assim, ele já perdeu mais de 120 horas em PlayerUnknown's Battlegrounds (ou só PUBG pros íntimos), o fenômeno de 2017 inspirado no filme japonês Battle Royale e que não parece que vai desacelerar tão cedo.

A sessão de Johnson de PUBG de alguns dias atrás era completamente normal. Enquanto esperava por um amigo terminar uma partida, ele gastou um dinheirinho do jogo para comprar uma loot box. Mas logo depois, ele arregalou os olhos: essa era uma das novas caixas raras “Desperado”, acrescentadas ao jogo no começo do mês.

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“Legal”, ele pensou consigo mesmo. “Certeza que essa é rara.”

Já contente com a aparência de seu personagem “fodão” no PUBG, Johnson planejava revender os itens dentro da loja do Steam, conseguindo alguns dólares para comprar um jogo novo — em PUBG, as loot boxes são puramente estéticas e não têm impacto no gameplay. O que Johnson não esperava era encontrar dentro da caixa o segundo item mais raro do PUBG, a bandana de oncinha. Na época, o valor da bandana (usada como uma máscara) na loja começava em US$ 1.084. Algumas semanas atrás, alguém comprou o item por impressionantes US$ 1.866.

Johnson tinha topado aleatoriamente com o equivalente digital de um bilhete premiado da loteria.

“Aí eu comecei a tremer”, ele me contou durante a entrevista.

Momentos depois, o amigo de Johnson terminou sua partida. A resposta do amigo? “Vai se foder”, ele disse, brincando. Os dois imediatamente entraram numa nova rodada de PUBG, Johnson colocou a máscara, e eles imediatamente ganharam um “Chicken Dinner”. Johnson conseguiu matar seis adversários.

Nos dias seguintes, enquanto a notícia do achado de Johnson se espalhava, amigos começaram a pedir jogos grátis. Ele se viu em conversas bizarras com a esposa, tentando explicar o conceito de loot box e por que a família estava mais rica, graças as 120 horas que ele passou jogando um videogame onde você atira em outros jogadores por prazer. Logo eles começaram a discutir o que fariam com o dinheiro. Pagar o financiamento do carro adiantado? Comprar um monte de jogos? Chamar um repórter e contar pra ele a história toda?

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Acontece que o Steam não é o PayPal. Quando você vende um item no Steam, não tem como transferir os dólares para sua conta no banco. Embora o Steam liste seus preços em dólares, não existe dinheiro de verdade. Você ganha créditos no Steam. Ter US$ 1 mil em crédito no Steam é muito legal, mas não é a mesma coisa que ter um cheque de US$ 1 mil no bolso.

Mas claro, como a maioria das coisas da vida, querer é poder. Sites como OPSkins permitem listar e vender itens por conta própria em jogos como DOTA 2, Counter-Strike e, sim, PUBG. Isso significa que você pode fazer lucro real vendendo itens virtuais. No OPSkins, a bandana estava vendendo por mais de US$ 1 mil. Menos que no Steam, mas pelo menos seria dinheiro no banco.

“Minha principal preocupação era subir a máscara no site, apertar o enviar (ou algo assim), receber uma mensagem de 404 e perder a máscara”, ele disse. “Um item caro assim podia simplesmente 'desaparecer'. Talvez isso seja irracional.”

Provavelmente não! A Valve dificilmente te daria outra máscara.

A ironia de ser recompensado por participar de um sistema em que ele pouco pensava não passou despercebida para Johnson. Ele confessou comprar uma loot box ocasional aqui e ali, mas isso nunca foi mais que um interesse passageiro. Fazer dinheiro com o sistema não o incomodava.

“Não tenho nenhuma reserva em vender itens”, ele disse. “Se alguém quer isso por razões cosméticas, ou mesmo para expressar uma atitude de 'foda-se' com dinheiro, isso não me incomoda.”

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Dito isso, seu relacionamento com loot boxes é complicado, considerando sua própria experiência com um membro da família que se encrencou com dívidas. Ele sabia que o relacionamento das outras pessoas com loot boxes podia não ser o mesmo.

“Minha cunhada é deficiente e vive de renda fixa”, ele disse. “Meu sobrinho mora com ela e estuda numa faculdade comunitária. Ela foi viajar num final de semana e deixou o cartão de crédito dela com ele 'para emergências'. Ele usou essa oportunidade para comprar $80 em skins no Overwatch. Ele prometeu pagar de volta, mas isso não faz diferença para quem recebe renda fixa. Aquele dinheiro, para ela, já era. E pra quê?”

Depois de alguns meses, o sobrinho conseguiu devolver o dinheiro. E o problema acabou aí.

“Não tenho nenhuma reserva em vender itens. Se alguém quer isso por razões cosméticas, ou mesmo para expressar uma atitude de 'foda-se' com dinheiro, isso não me incomoda.”

“O que quero dizer é que não acho loot boxes predatórias”, ele disse. “Não sei se seriam predatórias para um Johnson universitário, mas sei que elas são predatórias para algumas pessoas e fáceis de desconsiderar quando não te afetam diretamente, mas isso não as torna menos perigosas.”

E ainda assim, uma loot box aleatória pode ter dado a Johnson um prêmio inesperado. Mil dólares não vão mudar a vida dele, mas ninguém reclamaria de receber essa quantia.

Como Johnson não tinha vendido ou trocado nada no Steam antes, ele precisava passar por uma espera para desbloquear sua conta. A conta desbloquearia no dia 20 de janeiro, e aí ele podia fazer algo com a máscara. Ele ainda não sabe o que fazer com o dinheiro. Talvez investir em criptomoedas.

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“Minha esposa ainda está tentando entender por que o marido dela acordou 7h30 num domingo”, ele disse, “e enquanto ela amamentava o bebê, ele dizia que tinha ganhado dinheiro grátis na internet”.

Mas, alguns dias atrás, quando falei com Johnson de novo e enquanto me preparava para publicar esta história no Waypoint, ele me mandou um e-mail com notícias inesperadas: o mercado de máscaras de oncinha tinha mudado dramaticamente.

“Parece que o mercado foi inundado noite passada com máscaras que as pessoas finalmente podiam trocar”, ele disse. “O negócio foi pro saco desde então, e não sei em que pé vai estar no sábado.” (Aquele sábado era o dia em que ele poderia finalmente trocar sua máscara.)

Gráfico mostra a variação do preço do item. Imagem: Reprodução.

Com “o negócio foi pro saco” ele queria dizer que o preço de venda da máscara desabou, indo de US$ 1.000 para um pouco mais de US$ 300. Na média, a máscara está saindo por US$ 323. Claro, ninguém vai dispensar US$ 300, mas não é a mesma coisa que um milão.

Até aquele sábado, o preço poderia ir para qualquer direção. Com mais máscaras chegando à loja, permitindo que a oferta alcançasse a demanda, os preços cairiam ainda mais? Ou a onda de compras se mostraria momentânea, permitindo que o preço voltasse a subir?

“É tudo muito abstrato para mim”, ele disse. “Claro, seria legal ter US$ 1.000 em vez de US$ 300, mas vai saber como o preço vai estar no sábado? Isso só mostra o quão absurda é essa situação.”

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