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Sob a Lua Cheia em Santa Fé

Uma primeira impressão que se tem de Santa Fé é que é uma armadilha para turistas, em parte refúgio de californianos cansados e lar de um tipo particular de novo-mexicano original, do tipo que passa as noites de setembro enchendo a cara no leito seco...

Uma primeira impressão que se tem de Santa Fé é que é uma armadilha para turistas, em parte refúgio de californianos cansados e lar de um tipo particular de novo-mexicano original, do tipo que passa as noites de setembro enchendo a cara no leito seco de um rio ou que pode tentar pular em você se você andar sozinho à noite. Mas falamos nisso já já.

A noite começa com o show de fumaça de Olaf Breuning antes de Nite Jewel subir no pequeno palco no meio do antigo mercado de agricultores para se apresentar. Depois dela, tem a Handsome Family. São heróis locais e todo mundo adora eles. Eles fazem parte daqui, até o vestido hippie dela e o bigode espesso dele.

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Como é Santa Fé?, pergunto a uma moça na plateia.

“É o tipo de lugar onde as mulheres nunca usam salto alto e os homens nunca dançam.

Do lado de fora, a Levis® tem uma tenda de operários em exposição e algumas ferramentas modificadas com as quais vou poder brincar amanhã quando o trem zarpar. A câmera Instagram médio formato e a Instagram Super-8. As duas estão um pouco desgastadas, mas todo mundo que está nessa viagem de trem desde o começo também está. Noites longas, deslocamento implacável e aqueles happy hours das 17h01 e todos os happy hours no meio-tempo.

O show da THEESatisfaction é o melhor da noite no pátio ferroviário de Santa Fé. Se bem que talvez eu esteja dizendo isso porque caí fora antes da Cat Power entrar. Poxa, eu quase não conseguia mais ficar de pé. Tenta você entrar no espírito do festival tendo oito fusos horários arrancados de você pelos pés.

No caminho para casa, depois de passar pelo leito do rio seco onde agora os casais não só estavam bebendo, mas também fazendo sexo, uma figura ríspida vem até mim e me puxa de lado.

“Não passa agora nessa rua”, diz ele. “Tem uns meninos drogados e eles vão foder com você. Olha para cima. É lua cheia. Os malucos estão à solta.”

Então esperamos sob um toldo e não é que lá vieram dois meninos balançando pedaços de pau e batendo em carros e uivando feito lobos com dor? O cara ríspido que me salvou se chama Seamas Navarro. Ele anda de estado em estado vendendo um livro xerocado e grampeado de poemas. Novo México é o estado número 28. Não sinta pena, ele ganha até US$ 100 em uma noite quando as pessoas estão generosas.

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“Como posso retribuir?”, pergunto.

“Você pode comprar uma cópia da minha poesia”, diz ele.

Estou zerado. Tenho uma carteira cheia de euros, uns zlotys poloneses e passagens de metrô alemãs.

“Que tal eu colocar você e a sua poesia na VICE em vez disso?”

“Sério? Seria da hora, mano”, diz ele.

“Tranquilo, Seamas. E boa noite.”

And though there are those           / E embora haja aqueles

who will, / que revirarão,

who will roll their eyes / que revirarão os olhos

and scoff at these words / e zombarão destas palavras

that I pray. / que eu rogo.

And I do so pray / Eu então rogo

that beauty will touch their soul, / para que a beleza toque suas almas,

unlock the cage, / abra a gaiola,

and free their spirit / e liberte seus espíritos

from its shallow, / de sua rasa,

shallow grave. / rasa cova.