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Judeus Ortodoxos Gays x O Mundo

O diretor israelense Haim Tabakman fez Pecado da Carne, um filme fantástico sobre um pai de quatro filhos em Jerusalém que se apaixona por um estudante de 19 anos.

“Não te deitarás com um homem como se deita com uma mulher. É uma abominação.” Assim diz o Torá, que, como a maioria dos tratados religiosos, não curte muito relações homossexuais. Prometer que os gays “certamente serão condenados à morte; seu sangue deverá ser escorrido por eles” é provavelmente uma das poucas coisas que judeus, muçulmanos e cristãos partilham entre si. É por isso que Pecado da Carne está deixando muita gente puta da vida.

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Apesar de a pena de morte não ser praticada no judaísmo desde que Jesus apareceu, a homossexualidade é vista como um tipo de doença mental, que possivelmente pode ser curada através de terapia e reabilitação. Isto levou a um afastamento dos grupos de gays e lésbicas da comunidade, incluindo o meu favorito, as Orthodykes. O diretor israelense Haim Tabakman fez Pecado da Carne, um filme fantástico sobre um pai de quatro filhos em Jerusalém que se apaixona por um estudante de 19 anos. Eventualmente, a comunidade descobriu – os resultados foram homofóbicos. É um drama tenso e brilhante. Falei com o Haim sobre o filme.

Vice: Que tipo de reações você viu quando começou a fazer o filme?
Haim: Reações diferentes. Nos extratos mais sérios e intelectuais, [o filme] foi considerado muito fácil, com muita exploração e voyeurista. E, claro, as pessoas religiosas que conhecia me diziam para não o fazer. Tipo: “por que pegar dinheiro do governo para fazer um filme sobre esse assunto?” Foi um grande desafio, fazer este filme foi uma grande tarefa. Queria fazer algo verdadeiramente significante. O herói do filme vive destroçado, pois é completamente devoto à religião – o problema é que há uma falha na religião judaica em não reconhecer que um homem pode ter inclinação para dormir com outro.

Teve algum ator ou membro da equipe que não quis participar do filme por causa do seu tema polêmico?
Tive problema com atores que não quiseram fazer parte do projeto, mas por um lado eu me senti abençoado por isso. Em Israel não existem muitos atores de qualidade, e o fato dos atores mais comuns terem recusado participar graças à natureza do projeto fez com que eu tivesse que procurar mais e experimentar outros. É bom trabalhar com pessoas com gana de representar.

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Soube que você teve apoio de pessoas religiosas que preferiram se manter anônimas.
Sim, ainda que fossem pessoas que levam vidas duplas. Um deles nem é religioso, mas se passa por um para manter as aparências. Outro é um gay ortodoxo que leva uma vida dupla. E também tiveram pessoas dessa costumavam ser da comunidade, mas saíram. Ninguém diretamente dentro do sistema queria me ajudar.

Existe um grande medo de ir contra a comunidade?
Sim, porque isso seria muito problemático. Nenhuma das pessoas que me ajudou quis ser creditada. Daria muita dor de cabeça para eles.

Você teve algum problema em filmar nas ruas, com a comunidade ortodoxa?
Sim. A maior parte do filme foi rodada em Jaffa ou nas zonas menos religiosas de Jerusalém. Mas nas partes feitas nos bairros ortodoxos, adotamos um estilo de filmagem mais do tipo documentário. Tivemos que ser muito rápidos. Tivemos alguma oposição – atiraram pedras contra nós e nos mandaram ir embora. Mas eles têm problemas com qualquer tipo de filmagem naquele por lá, não só com este tema.

É fisicamente perigoso se assumir homossexual na comunidade?
Só se você for teimoso. Primeiro podem apenas falar com você, mas se persistir com a teimosia, aí pode ficar violento. Existem vários homossexuais que vivem vidas duplas, assim como também tem aqueles que, como na minha história, querem combater as injustiças e viver abertamente. Mas, basicamente, é uma sociedade que quer se manter fiel e tem legitimidade para fazer isso. Eles vivem de acordo com o livro sagrado, e lá está escrito, muito claramente: se dormir com outro homem, você será apedrejado até a morte. Mas existem maneiras engraçadas de se interpretar isso. O que é dormir com outro homem? Alguns ortodoxos dizem que se não houver ejaculação então você não dormiu com outro homem.

Ah, como quando o Bill Clinton disse que um boquete não era sexo.
Exatamente. Alguns dizem que se não rolar sexo anal tá OK. É um tipo de comédia trágica.

Quão controverso foi o filme em Israel?
Não muito, porque os ortodoxos não vão ao cinema. Mas agora que está em DVD, e que pode ser baixado online, há muito mais discussão sobre ele. A ironia é que há muitos computadores na comunidade ortodoxa. Eles não podem ter televisores porque são considerados, desde o início, portadores do pecado, mas os computadores ficaram só tachados como ferramentas de trabalho. Ninguém previu o potencial da internet. Mas, também, o filme não tem nenhum vilão óbvio. Quis transmitir que todo mundo tem as sua razão. Isso é o que torna a vida tão difícil. Tentei mostrar, não julgar.