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Acabou-se o que era doce no Palácio Silva Amado

Onde é que vai ser a próxima festa de desokupação?

Acabaram-se os debates, os passeios no jardim e as cagadelas no Instituto Goethe. À quarta foi de vez. Por volta do meio-dia de sábado passado, a polícia visitou o Palácio Silva Amado, em Lisboa, e dessa vez não foi apenas para dizer “olá”. Chegou o despejo e os ocupantes tiveram de abandonar o antigo ministério. Como as portas okupas estão sempre abertas, nem foi preciso bater. O cordão policial foi formado num instante, mesmo em frente à entrada principal do edifício, para que mais ninguém entrasse. A ordem policial era rigorosa, mas o agente no comando pertencia à faixa etária da maior parte dos okupas. Parecia ter sido escolhido a dedo. Acabou por valer a pena ouvir a compreensão com que tratava os okupas. A certa altura dizia: “Percebo o que vos move, mas tentem também perceber o que vos digo.” Nunca houve o mais pequeno sinal de nervosismo. A polícia estava nas calmas. Desconfio que havia ali um ressentimento do senhor por nunca ter participado numa ocupação. No final, só faltou perguntar: “Na próxima ocupação, posso estar convosco?” Sem ironias, não é isto que esperamos da polícia? Este agente merecia um aumento. O proprietário do edifício fez-se representar pelo seu advogado. Um advogado particular, que não sabia quando é que a casa tinha sido adquirida pelo proprietário e que — inacreditavelmente — não se quis identificar à imprensa. Seja como for, estava de boa-fé. A sua função passava por encontrar uma solução que fosse do agrado de todos e garantiu que o seu cliente estava “disponível para dialogar com os ocupantes” por email e não naquele momento. Como sinal dessa disponibilidade negocial, o advogado trouxe consigo um trolha que estava doidinho para martelar a porta principal e ir embora. Não me admirei quando soube que lhe roubaram as ferramentas da carrinha. Os okupas demoraram algum tempo a arrumar a tralha e, nem sei bem como, as “negociações” arrastaram-se durante umas três horas, dando tempo a que chegasse o advogado da outra parte — sim, os okupas também têm advogados. Parece que não havia pressuposto legal que pudesse manter os okupas na casa e foi assim que as coisas acabaram. O pessoal foi despejado, o trolha prendeu uma corrente à entrada principal e o cordão policial aguentou-se mais dois minutos. “Onde é a próxima [ocupação]?”, perguntavam uns quantos sem nunca receberem uma resposta definitiva. Foi assim que a festa acabou, com cada um a ir para a sua casa (legítima). Choremos agora o debate com o Jappe e o workshop de fisting.