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Música

O karateca dos palcos: KungFu Trunx

Ele dá música a Guimarães.

O seu sonho de pequeno era ser um cinturão negro do karaté. Quis o destino e a má vida que acabasse como produtor musical. Apanhámos o

KungFu Trunx — nome de pia: Miguel Ribeiro —, com a mão na mala, em preparação para uma viagem até Maribor, com quem Guimarães partilha o estatuto de capital da cultura, em 2012. A versão oficial é que o Miguel vai dar música na apresentação do programa da nossa Capital, na sua irmãzinha eslovena. Se, por acaso, estiverem pela Eslovénia, é de ir. VICE: O que se leva na bagagem de uma capital para outra? As tortas de Guimarães fazem parte?
Miguel Ribeiro: Eh pá! Ora fonha-se, foste mesmo acertar em cheio! Lá em casa sou o único que não gosta das tortas, mas, para além da maquinaria (aliás, alguma já lá está, em antecipação), levo a saudade do meu país dentro do peito e, no rosto, as lágrimas da… não sei mais (risos). Quanto tempo vais ficar em Maribor? O que vais trazer de lá?
Vou lá ficar umas 36 horas, 16 das quais serão passadas a dormir, logo vou ter 20 horas para comer, fazer o soundcheck, dar o concerto e passear: tudo muito organizadinho. Penso trazer de lá amor, saúde, alegria, paz no mundo e uns porta-chaves para oferecer. Qual a primeira coisa que vais fazer, quando regressares ao berço?
Pousar as malas.

Isto das Capitais Europeias faz algum sentido?
Se as coisas forem bem geridas, faz todo o sentido, uma vez que é sempre uma boa oportunidade de colocar uma cidade no mapa turístico. A qualidade do cámone também é afectada. Por exemplo, em Guimarães, além do aumento de turistas, também começou a ver-se turistas giras de mini-saia e assim… És um gajo viajado, já tocaste por muitos sítios e até prémios já ganhaste. Isso deve querer dizer que és mesmo bom.
Sim, as miúdas sempre me disseram isso. Mas, agora sou um homem comprometido e não ligo a esses piropos. Foste o produtor da banda sonora da apresentação do programa da CEC 2012, na fábrica ASA. Como é que um gajo se inspira para isso?
Na altura fiz quatro temas interligados. Cada tema versava sobre o respectivo momento (tempo) das quatro partes que se iriam passar ao longo de 2012: encontrar, criar, sentir e renascer. Tentei debruçar-me sobre essas quatro palavras e sobre o seu sentido. Foi um bom trabalho. E já agora, o que é um produtor musical?
Ora bem, é uma espécie de gajo que faz o musical. Faz tudo [o que esse trabalho implica], o que se torna, por vezes, cansativo e trabalhoso. Para além de criares a cena (que é o que dá pica), é necessário ter equipamento, perceber de composição, mistura, masterização e do blábláblá. Um gajo nunca sabe tudo, saem sempre coisas novas e é bom estar sempre informado, [mas] também tenho sorte em ter amigos nesta onda, para falar destes assuntos. Pode dizer-se que és um gajo dos sete instrumentos, nos teus concertos. Algum deles com um papel mais protagonista?
Tento tocar tudo: instrumentos clássicos e electrónicos. Por isso, não sou bom em nenhum. Tenho as ideias e tento coloca-las no papel, ou melhor, no disco rígido. Por estranho que pareça tento que o protagonismo seja da guitarra eléctrica. Não tocas sempre sozinho. Esta coisa das “colaborações” é uma coisa muito moderna. Longe vão os tempos das bandas à moda antiga.
Desde que este projecto surgiu, em 1996, sempre tive vários “colaboradores”. Nem me lembro de todos, por isso acho que não é uma coisa tão moderna assim. Sou um gajo “à antiga”. Não sei se é sempre assim, mas, do que vi, os teus concertos são também para os olhos. Tens uma componente visual sempre associada aos teus live-acts?
Nem sempre. Noutro dia, atirei com a guitarra aos olhos de um senhor que estava na fila da frente e ele aleijou-se. Agora, só quando o espaço ajuda é que faço um mix de imagem e som. De outra forma tenho apenas como componente visual uma bandolete com luzes. KungFu Trunx, porquê? Sonhos recalcados?
No início, em 1996, gravei uma maquete para um concurso e na capa estava o mestre Bruce (amigo do Chuck). Como eu era fã do Dragon Ball e da personagem Trunks (que batia imenso na altura), resolvi chamar ao projecto KungFuTrunx. Foi só isso. 2012 foi um ano importante para ti, musicalmente falando?
Não chegou ao de 1997, mas foi importante, pois lancei dois CDs e tive vários convites para projectos e actuações. Alguns deles ainda estão em agenda, espero que estejam prontos brevemente. E para a cidade de Guimarães?
Musicalmente falando, para a cidade, fiquei 53 por cento satisfeito. Isto porque houve alguns eventos importantes, que dificilmente viriam cá se não fosse a CEC. Os outros 57 por cento devem-se ao facto de que eu estava à espera de assistir a alguns concertos engraçados e isso não se verificou. Por exemplo: Daft Punk, na Igreja da Oliveira, Chemical Brothers nos Palheiros, Nine Inch Nails na Caldeiroa, Aphex Twin no Tio Júlio… Mas isso dá 110 por cento.
Pois dá. Em Guimarães, onde se ouve boa música?
Boa pergunta, mas acho que não posso responder, porque tenho um problema: não gosto de boa música, detesto boa música. Ainda ontem me disseram que se ouve boa música esporadicamente em alguns sítios, por exemplo no S. João de Covas. Tenho de experimentar. Quanto a locais onde permanentemente passem outra música (a que não é boa), penso que, brevemente, irá abrir um local no centro histórico com essa particularidade. Vou esperar para ver.