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Tecnologia

O quão nojento são nossos smartphones? Um experimento do Motherboard

Um experimento pouco científico, mas bem divertido, para mostrar como realmente temos uma conexão biológica com nossos celulares.
Todas as imagens por Derek Mead

Tudo o que eu queria era recriar um experimento relativamente simples sobre o qual eu havia acabado de escrever. Em vez disso, acabei criando algo vagamente perigoso, que deixou aterrorizado o diretor de um laboratório caseiro de biologia. Eis o que acontece quando você usa seus colegas de trabalho como cobaias.

Recentemente nós aprendemos que, em geral, compartilhamos uma conexão biológica com nossos celulares. Quer dizer, as mesmas bactérias que se proliferam em nossos dedos polegares e indicadores aparecem com frequência também nas telas de nossos smartphones. Munido de minhas lembranças das aulas de biologia no laboratório uns 11 anos atrás, de um tutorial surpreendentemente completo e bem ilustrado  do WikiHow, de algumas placas de petri que comprei numa loja chamada EZ BioResearch e de uma relutante benção de um microbiólogo, eu me lancei na empreitada de investigar que tipos de nojeira estavam se multiplicando em nossos dedos e celulares.

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Para tanto, eu precisaria de algumas cobaias, então surrupiei celulares e digitais do nosso editor-chefe, Derek Mead, da nossa editora geral, Meg Neal, e dos editores Brian Anderson e Brian Merchant. E, assim como todo cientista empolgado, eu também me voluntariei a participar do estudo (como você em breve perceberá, é provável que os resultados deste experimento não chegue a figurar em nenhuma revista científica importante).

Cuidado: cientista trabalhando

O plano era produzir amostras de culturas de bactéria tanto das telas dos celulares quanto de nossos dedos polegares e indicadores (em placas de petri separadas). Depois de etiquetar e vedar todos os recipientes para evitar a contaminação e a possível disseminação de uma bactéria mortífera nos escritórios da VICE, coloquei as placas em uma caixa e depois dentro de um armário, para que lá passassem o final de semana.

Assim que as minhas legiões de bactérias começassem a crescer em larga escala, o plano era levar as placas de petri para o GenSpace, um laboratório caseiro no Brooklyn, e inspecioná-las no microscópio para descobrir o que havia crescido ali no fim das contas. Depois disso, eu determinaria de uma vez por todas (A) se o tal estudo sobre o qual eu escrevi na semana passada poderia ser provado sem a necessidade de testes de DNA caríssimos e (B) qual dos meus colegas de trabalho é o mais nojento.

Na terça-feira eu abri as caixas e encontrei todo o tipo de colônias de bactérias. Ótimo. Liguei para a Ellen Jorgensen do GenSpace para saber se eu poderia passar lá ainda naquele dia. Na verdade, ela disse que não. Ela disse que o laboratório não tem permissão para autorizar que pessoas tragam culturas de fora.

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“Quer dizer que você colheu amostras dos celulares das pessoas e as colocou em placas de petri, cultivou e amplificou micróbios e bactérias aleatórias?”, ela perguntou. “Ok, você não vai trazer isso pra dentro do GenSpace. É contra as regras e é muito perigoso. As pessoas que estão me ouvindo falar neste momento estão aterrorizadas só de pensar nisso.”

Brian Anderson fazendo uma cultura com o seu dedo indicador enquanto Brian Merchant observa.

Tá certo, então.

Com base nas poucas instruções que eu havia lido na internet e nos comentários do site em que havia comprado as placas de petri, eu tinha ficado com a impressão de que fazer culturas de bactérias coletadas de coisas aleatórias em casa era um jeito bacana de ensinar microbiologia às crianças.

Em vez disso, Jorgensen alertou que muito provavelmente eu havia multiplicado bactérias como Streptococcus e Staphylococcus, as quais poderiam nos deixar bem doentes. Além disso, o homem só sabe cultivar de maneira apropriada cerca de 5% das bactérias existentes, então as placas não mostrariam tudo que estava nos nossos celulares e nas nossas mãos, apenas uma parte.

Daniel Grushkin, cofundador do GenSpace ao lado de Jorgensen (Grushkin não participa mais do projeto), disse que ficaria tudo bem desde que não fizéssemos um ensopado de Staphylococcus.

“Se você não lamber as culturas e nem encostar nelas, imagino que tudo vá ficar bem. A Ellen está certa em dizer que não existe como saber o que exatamente está crescendo nas placas, e isso pode ser um risco”, disse ele. “Mas também é verdade que crianças do ensino médio fazem esse experimento desde sempre.”

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Então ficamos sem microscópio e sem um laboratório. Mas o show tem que continuar.

Sondei o assunto no sub-reddit de microbiologia do Reddit, cujos usuários me confirmaram o que eu já suspeitava – é quase impossível identificar bactérias apenas observando a olho nu a aparência das colônias, mas parece que grande parte do que eu encontrei era apenas a flora natural da pele humana. Outro cara no Reddit disse que eu era maluco, mas, no geral, parece que não causamos o apocalipse bacteriano sem querer.

Eu também conversei com alguns microbiólogos, e um deles me indicou a biblioteca da Sociedade Americana de Microbiologia, que vai então servir como fonte oficial para esta análise.

“Eu acho que a maioria das pessoas não se dá conta de que não há como identificar microrganismos com algum grau de certeza sem conduzir testes metabólicos, morfológicos e/ou genéticos”, disse-me o usuário do Reddif edge000. Esse é um argumento muito válido! Mas também, dane-se, vamos tentar de qualquer jeito. Provavelmente seria mais fácil tentar adivinhar apenas o gênero da bactéria, mas já que estamos indo pro tudo ou nada, vamos tentar adivinhar a espécie também. Favor não levar as análises muito a sério – é só diversão. Especialistas de plantão: sintam-se livres para me corrigir e me criticar pela minha imprudência nos comentários.

Então, sem mais delongas, vamos observar o crescimento dessas coisas.

Derek:

Amostras dos dedos em cima e do celular embaixo.

As amostras coletadas dos dedos de Derek foram de longe as que geraram colônias mais uniformes. Dá pra ver o ponto exato onde ele encostou na placa. Excelente distribuição bacteriana, cara! Seus dedos também são abrigo para o que parece ser uma quantidade grande de Serratia mercescens (essa parte mais alaranjada, eu acho), uma bactéria adorável que pode causar infecção urinária, conjuntivite e até uma doença chamada “praga branca”, que afeta recifes de corais. A Wikipedia também observa que essa bactéria pode ser a explicação de diversos “milagres” de antigamente, como sangue saindo de pães e coisas do tipo. Sangue não, apenas Serratia marcescens.

A parte amarela me pareceu Staphylococcus aureus, que é inofensiva na maior parte do tempo, mas nem sempre! Ela vem desenvolvendo resistência a antibióticos e é responsável por vários tipos de infecção, intoxicação alimentar e infecções cutâneas. Por outro lado, também parece bastante com a Staphylococcus epidermis, que é conhecida por viver na nossa pele e é totalmente inofensiva.

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Derek também parece ter algum tipo de fungo na parte superior esquerda de sua amostra, e outra colônia de bactérias (aquela parada grande e branca na parte inferior esquerda), a qual, de acordo com a biblioteca de micróbios, parece um pouco com anthrax, mesmo que seja quase que com certeza outra coisa. O celular de Derek é consideravelmente menos nojento, mas ainda assim tem colônias do que parece ser Staph e Serratia.

Brian Anderson:

Dedos em cima, celular embaixo

Aqui não tem Serratia, mas parece que temos um pouco de Staph e aquela mesma parada branca que apareceu na amostra do Derek. Pode muito bem ser Stroptomyces albus, mas não posso dar certeza, mesmo porque essa colônia parece ser um pouco incomum, julgando pela pouca quantidade de informação que existe sobre ela na internet. O celular de Brian é bem limpinho e parece ter as mesmas colônias dos dedos. A ciência está realmente funcionando, galera.

Meg:

Dedos em cima, celular embaixo

Meg produziu a mesma parada amarela e aparentemente um pouquinho de Serratia. Mas o mais importante é que, se você olhar bem no meio da cultura, vai ver duas coisas. Primeiro vai ver o que parece ser uma incrível guerra entre micróbios, vindos de pelo menos quatro colônias diferentes.

E no meio você vai ver uma mancha branca que, de acordo com algumas pessoas no Reddit, deve ser Aspergillus niger, que causa mofo em frutas e em humanos pode causar infecções fúngicas de ouvido que podem levar à perda temporária da audição. Como você pode ver, esse fungo cresceu livre na cultura do celular e se transformou nessa monstruosidade.

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Brian Merchant:

Dedos em cima, celular embaixo

Trívia interessante sobre o celular do Brian: ele estava guardado em um escritório do Departamento de Polícia de Nova York há mais ou menos um mês, e ele havia acabado de recuperá-lo quando eu fiz a cultura. Essa poderia ter sido a justificativa para o fato de várias culturas terem crescido a partir de suas amostras, não fosse outro fato: seus dedos apresentavam toneladas das mesmas bactérias. Infelizmente não faço a menor ideia do que seja. Mas parece bem nojento.

Jason:

Celular

E então chegamos a mim. As amostras dos meus dedos acabaram se perdendo na confusão da sessão de fotos, e eu prometo que essas ameaças biológicas já foram propriamente descartadas. Também posso jurar que os meus dedos não estavam muito nojentos, mas também não totalmente limpos. Na verdade estavam bem parecidos com os do Brian Anderson, como você pode perceber pela cultura extraída do meu celular.

Bom, aí está. Um experimento que não prova porcaria nenhuma, mas que foi muito divertido de fazer. Com base na minha análise bastante amadora, parece mesmo que há uma conexão grande entre os micróbios e bactérias que se multiplicam em nossos celulares e em nossos dedos. Também parece existir uma correlação entre usar os seus colegas como cobaias e o quanto eles gostam de você, mas vou precisar conduzir mais alguns experimentos para provar isso.

Tradução: Luiza Vilela