FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

Por que Luis Suárez Morde as Pessoas, Segundo a Ciência

O vampiro atacou novamente, mas dessa vez queremos saber: que porra é essa de sair mordendo os outros?
Imagem da partida entre Uruguai e Itália na Copa do Mundo 2014.

O vampiro mais infame do futebol fincou seus dentes novamente: no jogo tenso entre Uruguai e Itália, do qual só um seguiria na Copa do Mundo, o atacante Luis Suárez, num movimento muito claro, se inclinou e deu uma mordida no ombro de Giorgio Chiellini. O árbitro não viu, o Uruguai conseguiu abalar a Azzura e a repercussão depois da partida ficou toda voltada para saber se a FIFA iria ou não avaliar o incidente e banir uma das estrelas do mundial. A maior questão, acredito, é: mas que porra é essa?

Por que morder? Não é como se fosse a forma mais discreta de infligir dor num oponente – se o juiz estivesse olhando naquela direção, teria visto claramente quando Suárez se inclinou, a boca escancarada, e avançou para cravar na carne italiana como um fã maluco de Crepúsculo. É uma forma absolutamente ridícula, bastante ineficiente e razoavelmente revoltante de expressar uma frustração esportiva.

Publicidade

Mesmo assim, há uma longa e fabulosa história de atletas e briguentos que exploram os incisivos; a mais famosa, obviamente, é a mordida na orelha que Mike Tyson deu em 1997. Jogadores de rúgbi são conhecidos por morder no meio do scrum, quando realmente fica difícil para o árbitro ver o banquete humano. Mas Suárez está evidentemente tentando reivindicar o título de mordedor mais infame do esporte – esta é pelo menos a terceira vez que ele morde um oponente durante uma jogada regulamentar, em quase o mesmo número de anos.

No ano passado, o uruguaio foi suspenso por 10 jogos por morder Branislav Ivanovic no braço. Em 2010, Suárez ficou no banco por sete partidas por outra mordida. O atacante ganhou o apelido de “canibal” pela travessura dentuça.

Luis Suárez pode ser meio asqueroso, mas na verdade um ser humano morder outro não é uma coisa tão incomum assim. Um estudo de 2007 dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA concluiu que mordidas humanas eram o terceiro tipo mais comum de mordidas de mamíferos tratadas no pronto-socorro, só perdendo para mordidas de cachorro e gato, representando algo em torno de 5% a 20% das ocorrências do tipo. Não é um número insignificante de mordidas humanas.

O estudo examinou apenas “mordidas oclusivas” – a agressão intencional em que o dente entra na pele, no estilo Suárez e Tyson – e não “mordidas de briga”, que ocorrem quando um punho ou braço é perfurado ao bater na boca de alguém.

Publicidade

Os homens são 12 vezes mais propensos a apresentar ferimentos provocados por mordidas e em quase 90% dos casos – surpresa – havia álcool envolvido, segundo o estudo.

Você já deve estar sacando qual é. Homens, bêbados ou pilhados de adrenalina, em um bar, ringue ou estádio, ficam propensos a se transformar em vampiros suados e nervosos. Mas isso ainda não explica o motivo. Ainda assim parece uma opção bem patética de combate — por que Tyson rangou a orelha de Hollyfield? Por que o Walter arrancou a orelha daquele niilista de jaqueta de couro em O Grande Lebowski?

Para descobrir, a BBC entrevistou o psicólogo do esporte Dr. Thomas Fawcett diante do incidente de 2013 de Suárez. Depois de revisar as imagens com muita atenção, Fawcett afirmou que a dentada foi uma “resposta primitiva” em que as emoções suplantaram a racionalidade.

“Não é planejado”, afirmou Fawcett à BBC, “é uma resposta emocional muito espontânea. Ele faz no impulso”. Isso ajuda a explicar porque uma boa parte das mordidas de seres humanos em humanos surge de brigas de bar ou em circunstâncias de contato físico incômodo. É primitivo e animalesco. E é muito mais poderoso do que a maioria das pessoas pode achar que é.

Um estudo publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B procurou refutar a noção de que os seres humanos não sabem morder, dizendo que na verdade ostentamos uma das mandíbulas mais poderosas entre os primatas.

Publicidade

“Quando você observa o aspecto mecânico, a mandíbula humana é extremamente eficiente”, afirmou o autor do estudo, Stephen Wroe, à Discovery News. “Para qualquer pressão na mordida que se quiser, podemos alcançá-la usando muito menos músculo.” Nossa mandíbula, afirma o cientista, é 40% a 50% mais eficiente do que de outros grandes símios. “Proporcionalmente, nossa mordida é mais forte que a de um gorila ou um chimpanzé.” A força da nossa mordida na verdade se compara com a de um quebra-nozes, afirma Wroe.

Há outros motivos que levam pessoas a morderem pessoas além da agressão, é claro. A odaxelagnia descreve a parafilia em que a excitação sexual provém da mordida. Ainda existem algumas tribos e grupos que praticam o canibalismo, o que exige uma boa dose de mordidas. E criminologistas já observaram que um certo tipo de criminoso violento pode morder, não pela agressão, mas pelo desejo sádico de estigmatizar sua presa.

“[Morde-se] para marcar a vítima”, explicou o criminologista David Wilson à BBC. “Mas acho que o mais importante para o infrator é que isso revela alguma coisa sobre como ele enxerga aquela vítima.”

Suárez, um mordedor em série, pode ficar entre o diagnóstico do criminologista e o do psicólogo. Mas pelo menos uma coisa é bem certa: mesmo que seja suspenso por todos os jogos que ainda pode jogar nessa Copa, Suárez deve sobreviver e voltar a jogar e morder.

Depois de sua primeira mordida, em 2010, foi oferecida terapia para o jogador tentar controlar a raiva. O doutor Fawcett acredita, prudente, que provavelmente não funcionaria.

“Está no homem”, afirmou. “Acredito que, dentro de cinco anos, se houver uma situação de irritação que mexer com o Suárez em outro momento, ele deve reagir da mesma forma.”

Tradução: Aline Scátola