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A Suíça Não Acha que Gente Fazendo a Saudação Nazista Seja um Problema

O que nos lembra de que as coisas provavelmente não estão muito bacanas na Europa.

Foto cortesia de Deutshen Bundesarchiv | Wikimedia

Tem muita coisa que pode ser considerada normal em alguns países, mas nem tanto em outros. E de tempos em tempos, tribunais podem chegar a vereditos inacreditáveis. Semana passada, a Corte Federal Suíça decidiu inocentar um nacionalista que fez a saudação nazista numa festa do Partido do Povo Suíço).

Mas vamos começar do começo. Todo ano no dia primeiro de agosto, a Suíça celebra seu momento de fundação se reunindo num prado e protestando contra os poderes do mal. O mito sobre a criação do país alpino foi escrita pelo famoso dramaturgo alemão Friedrich Schiller e está centrado no personagem do herói nacional da Suíça, Guilherme Tell: um solitário fazendeiro suíço que combateu a diabólica dinastia Habsburgo em torno de 1297, inspirando outros fazendeiros a protestar contra o Império, que foi finalmente levando ao “juramento do Rütli” – uma declaração de independência da Suíça medieval que aconteceu no prado de Rütli). É por isso que, na Suíça, o povo não é simplesmente chamado de “povo” – eles usam outra expressão bastante peculiar para se descrever: “Eidgenossen”, que significa “irmãos de juramento”.

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E assim, muito apropriadamente, a última festa do Partido do Povo Suíço aconteceu no prado de Rütli, onde um membro do partido subiu ao palco para ler trechos de Guilherme Tell de Schiller. Motivado pelo trecho – suponho – um irmão de juramento fez uma saudação nazista completa que durou quase meio minuto. Para deixar claro, esse gesto ainda é ilegal em países vizinhos como Alemanha, Áustria e República Checa. E foi aquela maravilha toda: braço esticado, o cenho franzido, etc. Policiais e alpinistas que passavam pelo local confirmaram o incidente.

A decisão de tornar o gesto legal combina com uma série de decisões questionáveis da Corte Federal Suíça nos últimos anos. Recentemente, o tribunal também absolveu um policial de Basileia que chamou um homem de “requerente de asilo sujo” em alto e bom som enquanto o prendia. Exatamente um ano atrás, o mesmo tribunal decidiu que um pai de família tinha provocado os bandidos que o espancaram por mostrar o dedo do meio a eles. A corte decidiu que mostrar o dedo o tornava cúmplice de seu próprio espancamento, e assim o seguro pôde cortar pela metade a licença paga a ele.

Fazer em público um sinal que foi símbolo do assassinato, racialmente motivado, de milhões de pessoas está permitido, mas erguer um dedo como ofensa pessoal não. Felizmente, o tribunal federal esclareceu a questão: na Suíça, tudo bem fazer a saudação nazista se você está expressando sua opinião nacional, e não tentando persuadir alguém a compartilhar sua “disposição nacional-socialista”.

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Foto por Tim Barter | Flickr.

O que significa que estamos falando sobre uma proibição de propaganda; como os nazistas que estavam no Rütli compartilhavam essa “disposição”, o homem não estava propagandeando suas opiniões. Portanto, sua saudação a Hitler não estava discriminando outras culturas – não, não, não.

Isso não quer dizer muita coisa, mas o Partido do Povo Suíço tem uma boa porção de membros estrangeiros. Ainda assim, parece que nazistas podem, legalmente, ler versos de Friedrich Schiller e levantar o braço em celebração. No final das contas, eles são só como um clube do livro, e não é possível culpar esses caras por não terem estudado direito Schiller na escola, porque eles estavam muito ocupados fazendo bullying. Talvez o tal nazista, coitado, só tenha levantado a mão para fazer uma pergunta:

“Licença… Hum, senhor Partido do Povo Suíço, você colocaria Guilherme Tell no movimento protorromântico Sturm und Drang ou no Classicismo de Weimar?”

Não que isso esteja longe de acontecer; depois do enorme sucesso dos partidos de extrema-direita nas eleições europeias nesse final de semana, não seria estranho ver o tribunal da União Europeia adaptando as decisões da corte suíça numa escala maior.

Tradução: Marina Schnoor