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Os Coletivos da Cohab Itaquera Vivem uma Segunda-Feira Tensa

A coordenadoria do Conjunto Habitacional José Bonifácio pediu de volta as chaves das salas ocupadas por organizações de saúde, moradia e cultura. Conversamos com os coletivos pra saber o que eles vão fazer agora.

O barracão do Coletivo Alma. Todas as fotos são de divulgação.

No dia 2 de novembro, os coletivos que ocupam salas comerciais abandonadas do Conjunto Habitacional José Bonifácio, ou Cohab Itaquera, receberam uma carta pedindo que devolvessem as chaves à coordenadoria. Segundo Marcello Nascimento de Jesus, integrante do Coletivo Alma (Aliança LIbertária Meio Ambiente), essas salas foram construídas inicialmente para servirem de espaço comercial aos moradores, mas todo mundo preferiu improvisar e colocar seus produtos à venda na própria garagem da Cohab. Assim, organizações de saúde, moradia e cultura passaram a ocupar os espaços vazios. Hoje, segunda-feira, é o último dia do prazo dado pela Cohab para que os coletivos desocupem as salas.

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Na semana passada, os integrantes do Alma participaram de uma reunião com dois gerentes da Cohab, um comercial e o outro de patrimônio. Os integrantes não só pediram para que o prazo fosse prorrogado – justificando que 30 dias não é tempo o suficiente para se reinstalarem –, mas também que revisassem o processo, visto que o local estava abandonado e que, hoje, um papel social e sem fins lucrativos é cumprido por lá.

De acordo com a prefeitura, o terreno será utilizado para a instalação de casas do Habitação de Interesse Social, um programa da Caixa Econômica Federal que irá viabilizar o acesso à moradia para quem tiver renda familiar mensal de até três salários mínimos. Marcello não acha a decisão tão sábia. “É um absurdo. O lugar já é totalmente inchado de pessoas, com pouquíssimo acesso a lazer e cultura. Os espaços culturais ficam no centro da cidade. Aqui temos 500 mil pessoas com apenas uma casa de cultura”. Ele se refere a Casa de Cultura Raul Seixas, o único órgão oficial da região. “A gente entende que qualidade de vida não é só morar. Existem outras coisas mais.

Dentro do barracão do Coletivo Alma.

Em 2003, o Coletivo Alma começou a fazer ações pelo bairro e utilizar a arte como ferramenta de mobilização comunitária. O teatro é o carro-chefe deles, que também realizam oficinas e palestras gratuitas sempre voltadas ao meio ambiente e à cultura. Dois documentários já foram produzidos pelo grupo. Um deles é o “Ritos de Rios e Ruas”, que fala sobre as pessoas que vivem às margens do Rio Tietê e sobre o processo de urbanização da região.

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Oficina de desenho realizada pelo Instituto Reação, Arte e Cultura.

Outro coletivo que também foi convidado a se retirar das salas comerciais é o Instituto Reação, Arte e Cultura. É essa rapaziada que realiza o Cine Quebrada, projeto que dá à comunidade a oportunidade de ver filmes a céu aberto durante os fins de semana. Cursos de violão, desenho e inglês também são ministrados pelo coletivo, que mantém uma biblioteca comunitária. Tudo gratuito.

O barracão do Instituto Reação, Arte e Cultura.

Edison El Júnior Rocha, um dos integrantes do Reação, conta que crianças, jovens e adultos participam das atividades oferecidas pelos coletivos. “O único cinema que você tem em Itaquera fica ao lado do metrô e é bem caro. Sem a presença dos coletivos, as pessoas perdem um espaço que é construído pela comunidade e para a comunidade. A Casa de Cultura Raul Seixas não funciona, não por incapacidade dos profissionais, mas acredito que pelo sucateamento do governo. Não é um espaço alternativo.” Liguei para a Casa de Cultura e perguntei sobre as atividades deste mês. O rapaz que me atendeu disse que a única coisa que vai rolar é uma atividade do Coletivo Alma. E o que a molecada da região pode fazer se o único espaço cultural oficial não oferece nada em plenas férias escolares?

Enquanto os coletivos vivem esta segunda-feira tensa, esperando respostas sobre a prorrogação do prazo para o despejo, recebo um e-mail pela manhã informando que eles estão convocando uma reunião chamada “A Periferia Vai Cobrar” para hoje à noite na Galeria Olido, no centro de São Paulo, com o intuito de discutir o orçamento e o projeto político de cultura para 2014.

Siga a Débora Lopes no Twitter: @deboralopes