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Música

De Volta Pela Primeira Vez: A Inesperada Reunião do UK Garage

Líderes do movimento passaram por cima de antigas rixas e estão de volta na praça.
Todas as fotos por Jake Lewis

O UK Garage nunca desapareceu. A sua influência se infiltrou na dance music, tanto no underground – em tudo, do bassline ao deep tech – quanto no mainstream. É visto como um momento perfeitamente capturado no tempo e resiste como uma coisa viva e próspera.

Nos confins de um bar de East London, perturbadoramente pequeno à sóbria luz do dia, testemunhei algo que parecia improvável: o Megaman, do So Solid Crew, o Maxwell D, do Pay As U Go Cartel, e o Bushkin, do Heartless Crew, sentados juntos em aparente harmonia. Três representantes de três grupos lendários com rixas de longa data, estavam lá reunidos para celebrar uma paixão comum: o UK Garage. Em fevereiro, eles sobem juntos ao palco para tocar no UKG Gold, no Indigo O2. Vai ser uma chance para fãs novos e antigos, figuras carimbadas da cena e apreciadores da internet se reunirem para ver algo que uma vez parecia um sonho distante.

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Ao longo da nossa conversa, Megaman silenciosamente se estabelece como a força motora por trás da reunião. Quando o apresentador Mistajam, da Radio 1Xtra, tentou reunir todos os membros do So Solid no estúdio para uma retrospectiva do UK Garage (e falhou), ele usou uma abordagem diferente. "Em vez disso, chamamos vários coletivos para aparecer no programa. Fui até o Maxwell, até o Bushkin, procurei uma galera da UKG também. Reunimos os caras. Não nos reuníamos no mesmo lugar há muito tempo. Assim que terminamos de tocar, o Harvey [MC do So Solid] sussurrou na minha orelha: 'Precisamos fazer isso de novo'. Então todos nós nos reunimos, assinamos o contrato e fizemos acontecer". Megaman tem um talento para os negócios e admite que, se essa parte não fosse "manejada corretamente", o show não aconteceria.

A empolgação do trio é evidente. "Quem é de fora pode pensar: um tempo atrás, esses caras competiam entre si. Então ver todo mundo junto, em harmonia, é algo grande. As pessoas não nos veem assim há muito tempo. O Mega sorrindo com o Bush, o Bush sorrindo comigo. Isso em si já é especial", diz Maxwell. Mas a coisa vai além das amizades improváveis que se criaram. O evento pretende ser uma celebração de algo que foi, e é, um movimento e momento cultural genuíno.  O Garage, me diz Megaman, com uma confiança total, infalível e imperturbável, "é o maior sucesso do Reino Unido". Bushkin, apesar de concordar em grande parte, tem algumas reservas quanto a isso. "O que mudou é que, naquela época, todo mundo curtia o garage. Tinha uma cultura, uma vibe, uma roupa determinada, os cortes de cabelo certos. Agora está segregado. Naquela época estava tudo junto. Tínhamos festas de garage. Determinadas palavras eram usadas. Era uma cena. Agora tem uma pequena cena de grime, uma cena de house que se divide em três ou quatro cenas menores e uma cena de bashment. Nós tínhamos a cena de garage. E todo mundo estava nela."

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A harmonia que flui pelo ambiente vem do conhecimento de que as coisas nem sempre foram assim. Mergulhando em águas potencialmente perigosas, resgatando o passado, pergunto se a rivalidade entre os coletivos era tão grande quanto a mídia a retratava, se realmente tinha sido necessário a polícia calar o So Solid daquela maneira. "A gente se odiava", diz Megaman. Por quê? "Éramos cabeça dura", aponta Maxwell D. Não eram só as diferenças musicais que os mantinham afastados. "Tudo era dividido por regiões", começa Megaman. "Você não via fãs do So Solid em East London, nem no norte da cidade. Em resorts de férias, você não nos via juntos. Estávamos em clubes diferentes, hotéis diferentes, praias diferentes…". "Fizemos cíprios brigarem entre si", lembra Maxwell.

Bukshin é mais direto ao falar do assunto. "O que acontecia é que essa rivalidade, essa separação era resultado da cultura de rua, da cultura de gangue. Certas pessoas são associadas a certas áreas. Isso acontece. Mas a mídia faz uma tempestade num copo d'água. Ela se envolve e as coisas pioram. Podíamos ter nos dado bem individualmente. Nos dávamos. O Maxwell e eu éramos amigos, já naquela época."

Como, imagino, é estar envolvido ativamente em alguma coisa, seja uma cena ou uma cultura, que foi removida do lugar onde floresceu e recontextualizada? O UK Garage se tornou algo passível de aparecer num ensaio de moda de revista. Maxwell D argumenta: "Ele precisa aparecer mais. A molecada vai aprender a se apresentar como o Bushkin, a tocar os negócios como o Mega. Isso só pode ser bom." Megaman observa: "Somos os modelos dos seus Wileys, dos seus Skeptas. Estávamos aí antes da 1Xtra. Eu queria que os smartphones existissem naquela época. Pense só quanto mais coisa teria pintado."

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A documentação da cena vai além de matérias na Dazed ou programas nostálgicos de madrugada no Channel 4. Em eventos como este, os fãs esperam ouvir certas faixas, relembrar o passado. É neste ponto que o trio hesitantemente diverge de um consenso. O Megaman me diz que, em uma turnê europeia com a Christina Aguilera, logo depois do lançamento do segundo disco deles, 2nd Verse, ele se recusou a tocar a maior faixa do So Solid, "21 Seconds", que definiu uma era. "Fui teimoso", ele diz, "e me arrependo disso. Se as pessoas quiserem ouvir essa música agora, vou tocá-la." A ideia de voltar ao passado parece ligeiramente desconfortável para o líder do Heartless Crew. "Não gosto de ser muito associado ao passado. Quando as pessoas só conhecem músicas de dez anos atrás, eu penso, bem, isso foi o que fiz naquela época, e posso repetir certas coisas, mas precisa ter algo novo. Não quero esquecer o que fiz, o que nós fizemos, mas quero fazer coisas novas. O Heartless Crew não está mais junto. Esta é uma boa razão para reunir as pessoas. Mas, no fundo, eu estou tipo, quero fazer coisas novas."

Não importa como eles decidam fazer isso, ou quantas concessões façam aos fantasmas do passado, uma coisa, para o Megaman, pelo menos, é certa: "Este evento vai te fazer lembrar de quando dominamos todo o underground. Nós assumimos o comando de tudo. Isto é nós retomando o controle. "Todo mundo vai estar lá. Todo mundo", completa Maxwell, sorrindo.

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Tradução: Fernanda Botta