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Música

O ‘Yellow House’ do Grizzly Bear Foi Minha Porta de Entrada no Universo da Warp

“Ao chegar na universidade, com mixtapes cheias de indie sem-graça, as joias do álbum logo se transformaram em improváveis hinos do meu ano de calouro”.

Quando o Yellow House do Grizzly Bear foi lançado na Warp em setembro de 2006, o selo já havia há muito transcendido os seus primeiros anos "bleepys" para trabalhar com música alternativa e experimental como um todo mais variado. Lá pelo meio dos anos 2000, a parte mais inclinada ao eletrônico era complementada com várias contratações de olho no rock, como Battles, !!! e o próprio Grizzly Bear. Hoje em dia, o ocasional debate ainda surge na internet ou em conversas pós-festa sobre se a Warp mantém-se fiel à sua visão original ou se, ao longo das últimas duas décadas e meia, eles se transformaram em um ser completamente diferente.

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O Yellow House foi lançado mais ou menos na época em que piadas sobre as notas da Pitchfork, blogueiros e ceneiros do Brooklyn estavam começando a habitar o imaginário coletivo do público comprador de discos (eu ouso dizer, os hipsters), e o Grizzly Bear, com seu nome opaco e sua moderna interpretação de estilos clássicos, folksy, de rock americano, soavam como um assunto contemporâneo. Eles eram o "novo artista favorito" de todo mundo, gotejando sinceridade e simplicidade. Pra acrescentar ao burburinho, ao lançar suas coisas pela Warp o Grizzly Bear estava exposto a um público maior e mais variado do que se as lançasse por um selo guitar-indie padrão. Porém, é claro, o Grizzly Bear não é a banda indie padrão da label.

A "Casa Amarela" do título do álbum era a casa da mãe do vocalista principal Ed Droste, na praia de Cape Cod [Massachusetts], que é onde o álbum foi gravado durante o verão anterior ao seu lançamento. A capa, na qual a luz adentra por uma janela de sótão para revelar um canto de ensaio da banda, permanece incrivelmente evocativa. A Warp já tinha lançado uma porção de discos mais leves que afastavam-se das raízes mais IDM/Industrial do selo, mas a estética rústica de Yellow House era, em retrospecto, um real desvio para o selo.

A sucursal americana da Warp estava sob a liderança de Simon Halliday, que estava testando uma direção musical diferente com suas contratações. Era uma benção ambígua; enquanto o Grizzly Bear continua na Warp até hoje, artistas como a banda post-punk de arestas disco de NY, The Hundred in the Hands, não pegaram, e o Maximo Park, apesar de ter obtido sucesso comercial, logo passou a soar como parte de um rock masculino mais estabelecido, e de certa forma fora de sintonia com os valores de ampliação de limites que o selo mantém. Halliday é agora chefe da 4AD, onde seu trabalho desde então incluiu contratações de artistas notavelmente Warpescos como Zomby e Grimes.

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Aos 18 anos e com pouca experiência em qualquer tipo de cena rave de galpão, o Yellow House foi para mim uma revelação pessoal (em poucas palavras). Ao chegar na universidade, com mixtapes cheias daquele tipo de indie comum e sem-graça que logo estaria na trilha sonora de The Inbetweeners, e sem uma coleção de irmão mais velho onde caçar uns hardcores clássicos, as joias do Yellow House logo se transformaram em improváveis hinos do meu ano de calouro.

Além do mais, se a ideia de um fã do Forgemasters ou do Speedy J pegando o Yellow House para ver como o seu velho selo favorito tem passado desde 1991 parece legal, pense sobre um jovem como eu, mergulhando em uma bomba de mefedrona e uma playlist de Spotify do LFO e do projeto Sabres of Paradise de Andrew Weatherall só para acordar e ficar esperto. Pode parecer estranho que um disco tão aparentemente tranquilo como o Yellow House abriria um portal para o universo rave, mas isso é apenas um testemunho do rico catálogo da Warp, e da habilidade do selo para manter um certo espírito à medida que se reformula gradual e constantemente.

É improvável que "Knife", o principal single do álbum, leve alguém a ir atrás da cláusula dos "beats repetitivos" do Ato da Justiça Criminal, porém, em grande parte construída em torno de um refrão simples e tocante ("Can you feel the knife"), seus elementos vivos e delicados formam um constructo – desaparecendo e graciosamente reemergindo ao longo da faixa. É um efeito devastador e em muito familiar às maiores e mais emotivas músicas de clube, e ao longo do Yellow House, o Grizzly Bear compreende que vale tanto ser silenciosamente quando descaradamente evocativo. Entrevistado na época, Droste expressou atração pelas letras esparsas e "vagas" do LP, e seu poder de deixar o disco "aberto a interpretações".

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Yellow Housenão é uma jornada particularmente fácil. Apesar de sua textura terrestre, o álbum tem pouco em comum com as excursões do selo em "audição caseira". Faixas de destaque como "Central and Remote" e "Plans" são imbuídas de uma surpreendente tensão que não aparece no trabalho posterior da banda. Elas não são algo para se ouvir depois de uma noitada; veja por exemplo o "Music Has The Righ to Children", ou um desses debates Warp supracitados.

O Grizzly Bear foi encorajado pelo Broadcast (companheiros de selo) a assinar com a Warp pelos fãs, porém mais tarde o Grizzly Bear disse, em uma entrevista de 2012 ao Red Bull Music Academy, que  achavam que seria "um movimento interessante… ser uma das bandas 'interessantes' da Warp". É claro, a maioria das bandas da Warp são mais interessantes do que a maioria das bandas, mas o Yellow House é um dos brilhantes exemplos da destreza estética do selo. E enquanto ele surpreendentemente se encaixa fácil no cânone geralmente mais eletrônico da Warp, o que ele tem mais em comum com os artistas da Warp é a qualidade, a individualidade e a habilidade para inspirar os ouvintes a pesquisar as coisas um pouco mais a fundo.

Você pode seguir o John Thorp no Twitter aqui: @MrJohnThorp

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