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Fotografia

Moscou e São Petersburgo, antes e depois [Fotos]

Conversamos com o fotógrafo brasileiro Mauro Restiffe sobre sua exposição "Post-Soviet Russia 1995/2015" no Garage Museum of Contemporary Art, em Moscou.

Mauro Restiffe. Inside Out Window, 1996/2015. Impressão em gelatina de prata. Cortesia de Mauro Restiffe. Galeria Fortes Vilaça

Brasileiro, o fotógrafo Mauro Restiffe estava preocupado com a reação que o público russo teria ao ver seu próprio país retratado em sua obra, atualmente em cartaz na exposição Post Soviet Russia 1995/2016 no Garage Museum of Contemporary Art de Moscou. “Sou um artista estrangeiro olhando para uma cultura e produzindo uma obra comissionada em um país que não é o meu”, conta ao The Creators Project.

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A mostra, que reúne duas séries de fotografias em preto-e-branco, tiradas primeiramente em 1995 em Moscou e São Petersburgo, quando Restiffe morava no país. A segunda série foi fotografada ao longo dos últimos dois anos, quando o Garage Museum o convidou a registrar a transformação de um antigo restaurante da era soviética em sua nova sede, projeto do renomado arquiteto Rem Koolhaas.

Restiffe conversou com o The Creators Project de São Paulo via Skype. Sua cuidadosa consideração com a cultura russa é tão evidente quando o fotógrafo fala quanto em suas fotografias, das quais muitas focam nos detalhes tanto de paisagens quanto de interiores mais intimistas. Como podia se esperar, Restiffe não precisava ter se preocupado — suas obras foram muito bem recebidas pelo público de Moscou.

Mauro Restiffe. Brutal Mirror, 2015. Impressão em gelatina de prata. Cortesia de Mauro Restiffe. Galeria Fortes Vilaça

The Creators Project: Como é o projeto expográfico da mostra?

Mauro Restiffe: Há uma sala, com uma exibição bem cinemática, com modulações. A leitura das obras flui de uma para a outra, sendo todas interconectadas de maneira muito fluida.

Você usou a palavra “cinemática”. Em um filme, há uma trama, um clímax. De alguma forma isso está presente na exposição?

Não acho que seja exatamente assim, mas há algumas variações grandes em escala. Há apenas três fotos grandes na mostra, e talvez essas dêem algum aspecto de clímax, embora não tenha sido minha intenção. Elas estão ali mais para modular e quebrar um ritmo que já estava estabelecido.

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Faço mais fotos em larga escala em meu trabalho atual, mas as fotos antigas da Rússia eram muito íntimas e menores. Isso foi algo que quis manter e, ao mesmo tempo, relacionar com o que faço agora. O que você vê são dois momentos em minha carreira e minha técnica.

Mauro Restiffe. Corner Theatre, 1995/2015. Impressão em gelatina de prata. Cortesia de Mauro Restiffe. Galeria Fortes Vilaça

Por que fotografar a arquitetura em vez de pessoas para chegar a uma percepção da sociedade?

Sempre tive interesse em arquitetura. Não necessariamente em fotografar edifícios em si, mas em contextualizá-los. Relacionando-os, na fotografia, com nossa época, com algum evento ou com algo que conecta a arquitetura com o cotidiano. Sempre tento considerá-la como um cenário para algo que acontece em primeiro plano. Não é uma maneira direta de olhar as coisas. Estou sempre tentando desviar um pouco, tenho muito interesse no aspecto mundano dos lugares.

Mauro Restiffe. Interior Perspectives. 1995/2015. Impressão em gelatina de prata. Cortesia de Mauro Restiffe. Galeria Fortes Vilaça

Sob que aspectos suas conexões com Moscou e São Petersburgo mudaram?

Vivi em São Petersburgo na década de 1990. A cidade era muito pequena, muito nostálgica e muito diferente de minhas experiências em grandes cidades como São Paulo e Nova York. Quando fui para Moscou nos anos 90, achei que ela se conectava muito com minhas experiências nas grandes cidades. Moscou tem essa energia incrível. Quando voltei para São Petersburgo, minha conexão estava mais relacionada com o tempo que passei lá. Fiquei no mesmo apartamento em que havia morado nos anos 90. Estabeleci uma conexão com a mulher que me hospedou por oito meses, e ela e o apartamento aparecem em fotos da exposição.

Post-Soviet Russia 1995/2015 fica em cartaz no Garage Museum of Contemporary Art até 26 de junho.

Tradução: Flavio Taam