Esta inteligência artificial permite que você troque uma ideia com obras do século 19
Crédito: Bruno Favery

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Esta inteligência artificial permite que você troque uma ideia com obras do século 19

Na Pinacoteca, em São Paulo, a computação cognitiva e o aprendizado de máquina permitem tirar dúvidas sobre exposição em tempo real. Seria o caminho para tornar os museus mais atrativos?

— Você pode conversar com "O Porco".

A frase causa estranhamento por não ser algo que se espera ouvir, assim, a sério, de um robô. Mesmo incomum, o convite é feito a quem visita a Pinacoteca do Estado de São Paulo e se depara com a obra "O Porco", de Nelson Leirner. Ao passar em frente à obra com os fones de ouvido e o app da exposição no celular, ouve-se uma voz robótica que chama para trocar uma ideia sobre o que está exposto na parede. É, a bem dizer, um guia artificial que não vai chiar quando você fizer uma pergunta estúpida ou quiser sair correndo dali enquanto ele fala alguma coisa.

Engana-se, porém, quem acha que se trata de uma conversa engessadona como aquela que tínhamos com o Robo Ed e o saudoso clipe do Word. O objetivo, reforçado pelo programa do museu, é que o público possa perguntar qualquer coisa sem vergonha alguma e role alguma troca. Na prática, o app usa o poder de processamento do supercomputador Watson da IBM (aquele que conseguiu vencer humanos no programa Jeopardy) e consegue responder a perguntas complexas como relações com outras obras, dados biográficos e outras ainda menos óbvias, como a proferida por uma criança que questionou se "O Porco", na verdade, era parente da Peppa Pig. "Nunca ensinamos o sistema sobre este personagem, mas ele respondeu dizendo que a Peppa Pig é mais nova e se aquele animal estivesse vivo ele seria muito mais velho", me contou, com humor, o diretor de relações institucionais do museu, Paulo Vicelli, enquanto eu olhava para o quadro em questão.

O jogo de cintura da máquina traduz bem o que a inteligência artificial será capaz de comunicar daqui para frente. Se a máquina é capaz de fazer isso em museus, poderá ser usada também em outros setores da sociedade que precisem de respostas rápidas e com muitas variáveis, a exemplo de guias turísticos. No caso do museu, o Watson começou a ser "treinado" em outubro de 2016. Na preparação, além de alimentá-lo com materiais e textos sobre as obras de arte, foram levantados possíveis questionamentos do público. Devido à limitação de tempo, apenas sete obras foram selecionadas. Segundo o Vicelli, a aplicação da IA foi motivada pelo baixo número de frequentadores museus: cerca de 70% dos brasileiros nunca foram a uma exposição de arte.

O raciocínio dos donos do projeto, conforme me explicou Vicelli, é incentivar uma maior interação por meio do diálogo entre os visitantes e a inteligência artificial. O diretor explica que a iniciativa é apenas uma de várias outras que visam tornar o museu um espaço relevante para as novas gerações. Em março deste ano, o museu do futuro também foi tema de discussão no festival de cultura e tecnologia South by Southwest(SXSW). A preocupação era a mesma: como não perder a relevância em meio a tantas opções virtuais, a exemplo de museus interativos no computador e sites com obras em altíssima resolução? Apesar de não existir unanimidade quanto ao que um espaço expositivo deve fazer para se adequar à nova realidade, algumas ideias vão ganhando contorno neste horizonte: a experiência e imersão do visitante começa a ser mais importante do que o objeto exposto.

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