Veja o Diabo!

O Pedro é designer na VICE. Ele também tem uma editora, a Pipoca Press. Por isso, ele sabe que tem muito trabalho foda de muita gente foda que está circulando pelas feiras e eventos de publicação no Brasil e fora dele. Aqui você vai conhecer esses trabalhos e essas pessoas.

O Federico Lamas, artista visual e diretor de arte argentino, é uma dessas pessoas que faz muita coisa e faz tudo muito bem. Seu trabalho caminha pelo vídeo, design, ilustração, experimentação audiovisual e instalações.

Visão Infernal, segunda publicação do artista e lançada pel’A Bolha Editora, do Rio de Janeiro, traz um apanhado de seus desenhos que através de uma lente vermelha - a lente infernal - revela outro lado desses desenhos, desses personagens colocados ali no papel. Ele te dá duas leituras na mesma imagem. Afinal, tudo pode ter uma outra interpretação. Impossível você não dar umas risadas (ou uns choros de agonia) e não passar algum tempo contemplando e viajando no seu traço.

O primeiro título publicado pela editora carioca, o Vete al Diablo, é um objeto maravilhoso por si só. Um formato de sketchbook, de bolso mesmo, a lente que acompanhava, a impressão, tudo mesmo! Aí veio a segunda edição repaginada, linda e com muito mais desenhos.

Federico já expôs em Buenos Aires, Berlim, Toulouse, Barcelona, Cidade do México, Nova York e Lima e esteve no Brasil para uma temporada de lançamentos e exposições em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Isso foi há 2 anos então graças ao facebook eu conversei com ele pra saber mais sobre a tal visão infernal e aqui está um pouco do que falamos:

"A inspiração veio de um momento onde eu estava reciclando certos valores em minha própria vida. Revisando todos eles. O que estava bom, o que estava mau. Quem tem o poder de decidir isso. Aí em 2008 fiz uma residência artística que era prêmio do Festival Videobrasil. Fiquei 3 meses em São Paulo. Nesse tempo fiz um filme chamado Vete al diablo, onde havia um pregador na rua gritando com todos que passavam e com uma bíblia nas mãos. Um pregador de verdade, onde na edição e pós produção, toda a vez que ele batia na bíblia, alguém queimava e desaparecia .

E aí comecei a pensar nessas dualidades. Como todos nós reprimimos desejos ou segredos. Alguns desejos que nunca se concretizaram e que foram escondidos.

Então depois da residência eu comecei algumas ilustrações. Gosto muito de efeitos, de todo o tipo. Trabalho muito mais com vídeo que com ilustração até hoje.

O que eu amei na ideia da Visão Infernal é que é técnica e conceito ao mesmo tempo. Por isso gosto de chamar-la de tecnologia, mesmo que ela não tenha nada de tech. No ano passado fiz um workshop da Visão Infernal com crianças no Museo de Arte Moderna de Buenos Aires e para as crianças eu não tinha que explicar como funcionava tecnicamente nada! Era só falar que ‘com esse óculos você pode olhar os segredos mais obscuros das pessoas’ e pronto! Não tinha necessidade de explicar a técnica.

Os adultos perdem, às vezes, a capacidade do assombro e só colocam o foco na técnica. Ainda mais na arte.No entanto o meu projeto é mais lúdico que isso. Por isso eu não uso a lente vermelha para revelar qualquer coisa. A visão infernal é a visão infernal. Não é algo apenas técnico. Por isso tenho colaborações com outros artistas que também respeitam esse conceito, como as bandas Bonde do Rolê, do Brasil, e a chilena Perrosky. Agora espero o lançamento de minha próxima zine Decime algo Valioso em outros cantos do mundo. Quero levar ela para o Brasil também."

VISÃO INFERNAL
A Bolha Editora
Federico Lamas
48 páginas
2016

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