"Mara Flora is Something Else"
Todas as fotos por Leonor Bettencourt Loureiro.

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Moda

"Mara Flora is Something Else"

A realizadora Leonor Bettencourt Loureiro acompanhou um dia muito especial na vida da designer de moda Mara Flora. Um relato íntimo, ilustrado em imagens, conversas e reflexões pessoais.

Estamos a ouvir a faixa nº 1 da mixtape SUKI GIRLZ, lançada em 2014 pelo user703918785 aka James Ferraro. A passerelle, geométrica e luminosa, torna-se o factor sorte que potencia o convite que nos é feito até à Hong Kong dos anos 90, desenhada em neon-capitalismo.

A paleta cromática ousa juntar ao preto e branco a dupla bege e vermelho. As formas são something else: O tailoring confortável e os franzidos estratégicos tornam a colecção acessível a qualquer tipo de corpo. Assim, estamos todos no universo da colecção FW 18/19 de Mara Flora, uma das duas vencedoras do concurso Bloom 18/19, plataforma de lançamento de novos talentos do Portugal Fashion.

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Vê o primeiro episódio de States of Undress


Why? Porque Mara é coisa rara de se encontrar pelas faunas e floras da vida. Estudou Design de Moda na Faculdade de Arquitectura de Lisboa, consolidou conhecimento como designer assistente de Alexandra Moura, já nos apresentou duas colecções em nome próprio e todos sabemos o que é que acontece à terceira… *wink*

Revelada a designer, vou dar-vos a conhecer a pessoa que, como é reservada e comunica sobretudo pela aura cheia de onda, só fica devidamente apresentada através de bué fotografias. Esta é o relato de um dia especial - 22 de Março de 2018 - na carreira de Mara Flora, na primeira pessoa, com interrogatório pelo meio feito por mim.

08H00

Mara Flora: Quatro despertadores programados para a mesma hora fazem-se ouvir e anunciam o início de um dia que ainda parece distante. Sacudo as minhas amigas Eva, Sara e Leonor da cama. Temos uma hora e meia para sairmos de Espinho em direcção ao Parque da Cidade no Porto.

Leonor Bettencourt Loureiro: O que é que te faz levantar da cama?

M.F.: A minha ingénua credulidade e expectativa de que o dia a seguir será bem melhor que o anterior. E o pequeno-almoço.

10H45

M.F.: Chegamos ao local do evento. Perdemo-nos pelas instalações na tentativa de nos encontrarmos. Procuro e pergunto pelo Paulo (Cravo). Apercebo-me da virgindade do espaço acabado de construir, de raiz. Ainda pairava uma certa calma que não tardou a desaparecer. Com a ajuda da Leonor, da Eva e da Sara, transporto as peças para os bastidores.

L.B.L.: Costumas ter algum tipo de reflexão profunda, ali pelas 11 menos um quarto?

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M.F.: Preciso de café.

12H30

M.F.: Após o período de fittings lembrei-me da fome que, por momentos, esquecera que tinha. Porém fui obrigada a esquecê-la novamente: o telemóvel toca, os juris do concurso estão no backstage para verem as colecções de perto. Abandono de imediato o prato à minha frente, ainda intacto.

L.B.L.: O que é que te põe o estômago às voltas?

M.F.: A Moda e as modas.

14H30

M.F.: A hora do desfile aproxima-se. Todos os designers, modelos e aderecistas estão presentes no backstage. O calor intensifica-se, a energia concentra-se naqueles 20 metros quadrados. Nesta altura acontece tudo muito rápido e de forma esquematizada: despir, vestir, alinhar, desfilar, despir, vestir, alinhar, desfilar.

L.B.L.: O que é que começaste a digerir melhor em 2k18?

M.F.: Algumas coisas que ficaram por digerir desde 2k11. Coisas de digestão difícil, levam o seu tempo.

15H30

M.F.: Sou a última a apresentar a colecção. A música começa. Dezoito segundos depois entra a primeira manequim. Fico até ao último momento a verificar as peças e a seguir com o olhar as modelos através do ecrã do backstage. Meses de trabalho ficam compactados em 10 minutos. É um pouco avassalador.

L.B.L.: Qual é o teu shot de adrenalina?

M.F.: Quando as ideias se tornam projectos e os projectos se tornam realidade. Criar dá-me esse kick.

16H20

M.F.: Momento pouco nítido na minha memória, mas refrescado mais tarde por aquilo que foi captado exteriormente através de fotos e vídeos. Aí apercebi-me que a minha cara tinha congelado num sorriso insistente. Mais tarde, abordada por elementos da comunicação social, apercebi-me também que parte do meu cérebro tinha adormecido num êxtase e cansaço que me deixara completamente desconcertada e desarticulada. Não disse nada de jeito.

L.B.L.: Como é que lidas com os clímaxes da vida?

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M.F.: Sou um pouco implosiva. O meu espectáculo de fogo de artifício é bastante discreto.

19H00

M.F.: Estamos prontas para regressar. Foi um dia longo e intenso. E fizemos a viagem mais recta de sempre rumo a Lisboa. Ainda parámos a meio para jantarmos umas pataniscas com arroz à beira da estrada, cheias de óleo e glamour.

L.B.L.: What to wear para uma saída daquelas?

M.F.: Vestir mais a atitude e menos a roupa.

00H30

M.F.: Após uma paragem rápida para deixar a Leonor, seguimos para a MS.

L.B.L.: E para uma boa entrada?

M.F.: Não dispenso um bling bling.

09H00

M.F.: Acordei cedo demais e bastante dormente.

L.B.L.: E a ressaca, é fodida?

M.F.: É uma sensação estranha quando os teus pés se mantêm assentes na terra, mas a cabeça anda perdida pelo ar.

NOW

M.F.: A pensar já no que vai acontecer daqui a seis meses.

L.B.L.: O que fica depois do BLOOM?

M.F.: Sinto que encontrei uma estufa com um clima propício e um terreno fértil para crescer. Bloom é florescer. Assim espero.

Queres mais? She'll be back para as próximas (pelo menos) duas edições do Portugal Fashion e até lá, se não se aguentarem, podem fazer aquele drool pelo google ou passar pelo Instagram e Tumblr.


Acompanha o trabalho da Leonor Bettencourt Loureiro aqui e aqui.

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